Jorge Eduardo Braga realiza trabalho de lanternagem com maMarcos Porto/Agência O Dia

Uma onda de calor intensa deixou os cariocas suando literalmente a camisa nos últimos dias. Nas ruas, nos transportes públicos sem ar-condicionado ou nas casas, o assunto recorrente era unânime: "O maçarico está ligado!". De acordo com o Centro de Operações (COR), o Rio experimentou uma marca histórica no dia 17 de novembro, alcançando a marca dos 59,3°C, na Estação de Guaratiba, às 10h20 e também no dia 14, registrando uma sensação térmica de 58,5°C às 09h15, na mesma região, representando as maiores sensações térmicas desde 2014, quando o órgão começou a fazer a medição.
Enquanto muitos cariocas buscam sombra e água fresca, alguns trabalhadores enfrentam condições ainda mais extremas, como o lanterneiro Carlos Eduardo Braga Nóbrega, conhecido como Barata, de 57 anos, que trabalha em uma oficina mecânica em Guadalupe, na Zona Norte, há 36 anos. Ele utiliza o maçarico na sua atividade independentemente de estar calor ou frio. O local fica em um galpão e não possui ar-condicionado, mas o teto entre o muro e o telhado possui aberturas que ajudam na ventilação. De qualquer forma, o lugar fechado e abafado.
“Qualquer trabalho que você faça por tanto tempo você se acostuma. Realmente tem feito muito calor e é meio sufocante utilizar o maçarico. Pessoal sempre brinca que o sol está um maçarico, mas é porque a maioria não segura um maçarico de verdade para ver o quanto é sufocante. Tem dia que você está no bafo do calor e quando acende vem aquela quentura a mais. Trabalha mais gente aqui, mas ninguém quer mexer no maçarico nesses dias, mas como o trabalho precisa ser feito, eu meto a mão na massa”, contou Barata.
Para amenizar o calor, ele conta que costumam usar gelo e sempre deixam água gelada para tomar. Ainda de acordo com ele, o maior desafio é o calor infernal e lidar com material quente: “Às vezes eu chego em casa e penso que ainda estou com o maçarico, parece que o calor fica na cabeça da gente”.
Dupla que combina com o calor: pastel e caldo de cana
O dono da barraca “Pastel do Bigode”, Hudson Macedo Cardoso, de 80 anos, atua há 43 anos vendendo pastel e caldo de cana no Rio. Começou a rodar pela cidade com uma moenda e uma dúzia de cana. Aos poucos, vendia bolinho de aipim também como acompanhamento. Com o passar do tempo, conseguiu as licenças e começou a colocar as barracas nas feiras livres e o negócio se expandiu. O pasteleiro, conhecido pelos bigodes, acredita que o sucesso está nos laços de amizade criados com clientes e com os feirantes, no atendimento cordial, na qualidade dos produtos e no amor que coloca no que faz.
No calor, os vendedores da barraca usam roupas leves e buscam se manter hidratados para driblar as altas temperaturas. Já os pastéis são mantidos em isopores com gelo e em gavetas de inox para mantê-los resfriados e garantir qualidade e durabilidade até a venda.
Pablo de Azevedo, de 29 anos, trabalha há 9 meses na barraca e conta como é a rotina atendendo aos clientes na feira nos dias quentes. "Tem que se hidratar bastante e ser mais ágil no trabalho. Cada um pega duas ou três fichas, e vamos conseguindo atender", disse o vendedor.
Já Diego dos Santos, de 34 anos, veio de Porto Seguro, na Bahia, e conta que o Rio é bem mais quente do que sua cidade natal. "A gente bebe muita água, usa também panos molhados e vai colocar no pescoço para suportar o calor porque tem também o fogão que fica a 300°C. Então, o calor aumenta debaixo da barraca", relatou Diego.
Ainda de acordo com ele, mesmo com todo o calor, ainda atende muito bem os clientes, e com bom humor, ele e a equipe se ajudam e levam o dia.
Já Lucimar de Azevedo, de 40 anos, que trabalha fritando os pastéis, conta que já se acostumou com o calor, pois já está há 23 anos no ramo. "O sol é melhor do que a chuva", afirma.
Na barraca, Ana Carolina Machado, de 28 anos, passa o dia perto da quentura da fritura, cuidando do caixa e conta que o espaço também tem uma lona para proteger do sol. “A expectativa é que o verão seja um pouco mais fresco e caia um pouco de chuva para refrescar tudo”, relatou esperançosa.
No coração da Zona Sul
O calceteiro Euclênio Araújo Silva, de 50 anos, é natural de Minas Gerais e faz reparos nas pedras portuguesas ao longo da orla da Praia de Copacabana, na Zona Sul.
"O calor incomoda um pouco, mas procuro me hidratar bastante, uso protetor solar e chapéu para proteção. De vez em quando, busco uma sombra, afinal, ninguém é de aço, e vamos levando. A temperatura também sobe devido às pedrinhas, o que ajuda a aquecer mais. É realmente muito calor, mas consigo superar!", falou.
Ao observar as pessoas na praia, Euclênio menciona que sente vontade de aproveitar, mas continua dedicado ao trabalho. Nos fins de semana, ele reserva um tempo para desfrutar um pouco da praia também.
"Nesse tempo quente, é preciso se cuidar, se não a gente não resiste. Uso também uma camisa com manga para proteger dos raios solares e manter a rotina por aqui", enfatizou o calceteiro.

Jurandir José de Carvalho, de 62 anos, também é calceteiro e relata: "Eu já estou acostumado a trabalhar neste calorão, então eu bebo muita água, trago sempre uma garrafa com água e vou enfrentando esse calor no dia a dia. O segredo é não reclamar! Eu passo água no rosto, uso botas, calça e luvas, e quando percebo, o dia já passou. Então, é só agradecer a Deus", contou o profissional.