Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga mortes de adolescente e jovem em Belford Roxo Reginaldo Pimenta / Arquivo / Agência O Dia

Rio - "A gente não imaginava que isso ia acontecer, antes ela estava bem, rindo, brincando e, do nada, veio essa notícia". O desabafo de uma tia descreve o sentimento da família de M.I.C, de 14 anos, que disse ainda não acreditar na morte da adolescente, neste sábado (2), em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A menina estava a caminho de uma farmácia, no bairro Nova Aurora, quando foi atingida por uma bala perdida e não resistiu aos ferimentos. 
A tia da vítima, que preferiu não se identificar, relatou que estava trabalhando e ouviu disparos na região. Entretanto, a família só soube que a adolescente havia sido atingida, depois que ela foi encaminhada para o Hospital Municipal de Belford Roxo e acabou morrendo. De acordo com a familiar da menina, a mãe da jovem precisou ser medicada e, desde que souba da morte da adolescente, não conseguiu voltar para casa. 
"A mãe dela está em péssimas condições, está desamparada, tomando remédio toda hora. É uma dor que não tem explicação para isso. A mãe não consegue mais entrar em casa, está ficando na casa da prima dela, não está querendo comer, não sei como vai ser o enterro amanhã. A gente só quer que a justiça seja feita, pelo amor de Deus", desabafou a tia.
Segundo a Polícia Militar, o 39º BPM (Belford Roxo) foi acionado para uma ocorrência no bairro, onde encontraram M.I.C ferida e a socorreram. O comando da unidade informou que houve confronto entre criminosos e um homem foi preso com uma arma. Uma troca de tiros também ocorreu entre os PMs e bandidos. Já estemunhas relataram que o tiro que teria atingido a adolescente no coração partiu de um agente, que teria atirado contra um suspeito. 
O corpo da adolescente será sepultado às 11h desta segunda-feira (4), no Cemitério Municipal de Belford Roxo, conhecido como Cemitério da Solidão. A jovem morava com a mãe e as duas irmãs gêmeas mais novas. Segundo a tia, a menina era muito carinhosa e apegada a família. "Está todo mundo sem acreditar. Ela era uma ótima pessoa, prestativa. Ela ajudava a mãe dentro de casa, tinha um coração bom, olhava as irmãs enquanto a mãe trabalhava. Ela era muito agarrada com a família, principalmente com a mãe dela". 
De acordo com um levantamento do Rio de Paz, M.I é a 13ª vítima, entre crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, morta por arma de fogo, a maioria por bala perdida, em 2023. O número já é maior que o de 2020, quando foram contabilizadas 12 mortes. Segundo a ONG, desde o início do movimento, há 16 anos, foram 104 casos nessa faixa etária. A jovem terá uma placa com seu nome fixada no mural da organização na Lagoa, na Zona Sul do Rio, onde há homenagens para menores e policiais vítimas da violência urbana.
A PM informou ainda que antes de M.I, encontraram outro adolescente já sem vida, próximo ao Morro do Avião, vizinho ao bairro Nova Aurora. Familiares estiveram no Instituto Médico Legal (IML) neste domingo (3) e afirmaram se tratar de Matheus Valério Cândido, de 25 anos. Segundo um parente, o jovem era integrante da milícia e atuava na cobrança de taxa ilegal de comerciantes. Na ocasião, ele teria fugido para a comunidade ao perceber a chegada de policiais, mas acabou sendo morto por traficantes que dominam a área. Há cerca de 20 dias, ele teria sido alvo dos bandidos e um comparsa acabou morrendo. 
O familiar disse ainda que ele teria se juntado à milícia para arcar com as despesas do filho, de apenas 10 dias. Já o pai, que não quis se identificar, afirmou que não sabia sobre envolvimento de Matheus com criminosos e o descreveu como um "garoto muito bom". Ele disse ainda que estava se sentindo paralisado e buscando forças para continuar. O sepultamento está previsto para a tarde desta segunda-feira, no Cemitério de Belford Roxo. Os casos são investigados pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).