Prefeito Eduardo Paes afirma que Rio vive novo momento na Segurança Pública com participação da PFPedro Ivo/ Agência O Dia

Rio - Ao repercutir a denúncia feita na terça-feira (9) em uma rede social de que criminosos cobraram uma "taxa de segurança" da empreiteira responsável pelas obras de construção do Parque Piedade, na Zona Norte do Rio, o prefeito Eduardo Paes foi taxativo quanto aos bandidos: "não pode ter nenhum 'grupelho' de vagabundo, de delinquente, achando que vai impor a sua força, suas regras, em qualquer territorialidade". A declaração foi dada na manha desta quarta-feira (10), durante a posse de novos conselheiros tutelares na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. 
Paes ainda afirmou que vai explicitar sempre que o crime organizado fizer esse tipo de ameaça. Por fim, defendeu que não se criminalize a vítima, ao citar as empresas que sofrem pedidos de extorsão e políticos de áreas dominadas por bandidos.
"Acho que o papel do cidadão, e eu sou representante do cidadão carioca, é não aceitar esse tipo de coisa na cidade. É óbvio que o prefeito tem uma posição de mais tranquilidade para fazer certas denúncias. Para todo cidadão, fica muitas vezes temeroso fazer essas denúncias. Então, nós vamos começar a explicitar sempre quando esse tipo de coisa acontecer. Território da cidade é do cidadão de bem e a única força que existe é a força do estado", complementou.
A Polícia Civil afirmou que a denúncia é apurada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco). Agentes realizam diligências para esclarecer os fatos. "Instauramos inquérito de ofício com base no relato do prefeito nas redes sociais. Então, é precipitado qualquer relato detalhado até recebermos as respostas preliminares", informou o titular da Draco, delegado João Valentim.
O prefeito fez uma publicação em sua conta no 'X', antigo Twitter, marcando a Polícia Federal e afirmando que criminosos ameaçaram parar as obras se não fosse paga a quantia de R$ 500 mil ao grupo. A Polícia Federal no Rio apurava na manhã desta quarta-feira se havia comunicação formal do município. Posteriormente, a corregedoria do órgão vai apurar se o caso é de atribuição da PF. Paes disse que a Segurança Pública vive um momento novo em que a PF está enfrentando organizações criminosas no estado, o que classificou como muito positivo. 
"Nós temos as ações das forças de segurança estaduais que aliás foram muito bem no Réveillon, cuidando da segurança da população. Mas, temos uma novidade, que é a Polícia Federal agindo contra o crime organizado do Rio de Janeiro. Olho isso com muito otimismo", explicou. "Quem tem autoridade na cidade é o prefeito, quem tem autoridade do estado é o governador, quem tem autoridade no país é o presidente da República", acrescentou. 
O prefeito afirmou que as denúncias formais às polícias ficam a cargo do secretário de Ordem Pública, Brenno Carnevale: "É quem vai formalizar isso. Eu vou contar pro mundo quando essas coisas acontecerem", declarou.
Paes afirmou que não sabe quem são os criminosos e que é papel da Polícia Civil e Federal identificá-los. O prefeito sugeriu que políticos e empreiteiros podem ser vítimas de coação. "O que a gente não pode é criminalizar as pessoas que são vítimas. Eu vejo muita gente vítima. Muito político que às vezes, coitado, tá lá trabalhando na sua base eleitoral, porque o estado não age na sua área de segurança, acaba tendo que conviver com isso. Acho que é inaceitável. Então, vamos atrás dos bandidos, né? Vamos atrás de quem tá cobrando", defendeu.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura do Rio informou que as obras do Parque Piedade seguem o cronograma nesta quarta-feira.
Denúncia em rede social
Eduardo Paes denunciou, na tarde de terça-feira, por meio de sua conta na rede social X (o antigo Twitter), que uma organização criminosa está ameaçando e tentando extorquir funcionários da empreiteira que realiza as obras no Parque Piedade, na Zona Norte, no terreno onde ficava a Universidade Gama Filho. Os criminosos teriam avisado que a obra seria paralisada caso a empresa não efetuasse um pagamento de R$ 500 mil - o valor total da construção do Parque Piedade é de R$ 65 milhões.

Citado pelo prefeito do Rio, o ministro interino da Justiça, Ricardo Cappelli, comentou que tem recebido outras denúncias semelhantes no estado. "Temos recebido relatos iguais de outros prefeitos do Rio, infelizmente. O crime organizado destrói a economia e o desenvolvimento. A empreiteira não pode pagar nada, é inaceitável este estado paralelo. Vamos pra cima destes bandidos", respondeu.
Por meio de nota, a Secretaria de Ordem Pública (Seop) informou que o responsável pela pasta, Brenno Carnevale, recebeu a determinação do prefeito Eduardo Paes para denunciar aos órgãos de Segurança sobre os crimes que estariam sendo cometidos. "A Prefeitura do Rio e a Seop reforçam que não toleram esse tipo de atitude e não medirão esforços para auxiliar na investigação", comunicou.
As obras do Parque Piedade começaram em setembro de 2023, depois que a Universidade Gama Filho foi demolida. No espaço onde funcionava a instituição, de aproximadamente 18 mil metros quadrados e que está abandonado desde 2014, será construída uma área pública nos moldes do Parque Madureira. A previsão é de que o espaço esteja pronto até outubro de 2024.
O projeto é realizado pelo Consócio Parque Piedade HFB, composto pelas empresas Biovert Florestal e Agrícola, Fábio Bruno Construções e Hydra Engenharia e Saneamento.
MP descobriu cobrança de taxa na Zona Oeste 
Em dezembro de 2023, o Ministério Público do Rio (MPRJ), por meio de informações obtidas na Operação Dinastia, descobriu que empreiteiras que fazem construções em bairros da Zona Oeste sofrem extorsão de milicianos liderados por Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho. Obras realizadas pela prefeitura do Rio também foram alvos dos criminosos. Em conversas obtidas através de quebra de sigilo dos homens de confiança do miliciano, identificados como Jhonatas Rodrigues Medeiros, o 'Pardal', atualmente considerado foragido, e William Pereira de Souza, os investigadores chegaram até as tabelas de controle da "taxa de segurança".
Em um dos documentos é possível ver que empresas chegam a pagar cerca de R$ 13 mil por mês aos criminosos. Após concluídas as obras, a extorsão passa a ser feita diretamente ao condomínio, que repassam os valores aos moradores. Nas tabelas de controle da milícia, foram encontradas as datas de pagamento e o valor recebido.
O MPRJ também identificou que a milícia de Zinho arrecadou mais de R$ 308 mil com cobranças de "taxas de segurança" a construtoras apenas no mês de fevereiro.