Célia Oliveira, mãe de Paulo Victor, faz manifestação na porta do MPRJ, no Centro do Rio, nesta terça-feira (23)Armando Paiva

Rio - A família de Paulo Victor Vieira de Souza, de 16 anos, adolescente sequestrado por criminosos há nove dias, foi atendida, nesta terça-feira (23), na Ouvidoria do Ministério Público do Rio (MPRJ), no Centro do Rio. Em entrevista ao DIA, a mãe do rapaz, Célia Regina Oliveira disse que foi realizado um cadastro e o caso será encaminhado para um promotor de Justiça acompanhar. Ainda segundo a responsável por Paulo Victor, a Ouvidoria sinalizou o pedido de acompanhamento como "urgente".
"Eles vão mandar para a Ouvidoria e vão ver um promotor de Justiça para pegar a causa. Eles sinalizaram como urgente. Agora é esperar o promotor nos ajudar com o pedido na Justiça", disse a mãe do jovem. Ainda segundo Célia, os dias de angústia vão continuar. "Só vou ficar tranquila quando o Bope entrar naquela comunidade para tirar meu filho", desabafou. 
Antes de ser atendida, Célia e amigos do adolescente fizeram um protesto na entrada da sede do MPRJ com faixas, cartazes e camisas personalizadas pedindo por justiça. Na segunda-feira (22), o mesmo grupo fez uma manifestação na 38ª DP (Brás de Pina), responsável pelas investigações. Na ocasião, a mãe de Paulo Victor fez um apelo para que as autoridades competentes autorizem a realização de uma operação policial nas comunidades do Quitungo e Guaporé, na Zona Norte.
"A Polícia Civil precisa subir no morro para encontrar o meu filho, mas eles não fazem isso, dizem que precisam de ordem superior. Seja quem for a pessoa que precisa autorizar, governo estadual ou federal, que liberem logo. Eu estou vivendo um verdadeiro inferno, não como, não durmo, estou vivendo uma tortura", desabafou Célia Regina Oliveira. O jovem foi levado por criminosos armados no último dia 14, próximo à estação de trem de Brás de Pina, também na Zona Norte. 
Por meio de nota, o Ministério Público do Rio disse que a família do adolescente Paulo Victor fez um relato sobre o ocorrido para a Ouvidoria do MPRJ e o documento foi devidamente encaminhado para uma das Promotorias de Justiça de Investigação Penal com atribuição para atuar no caso. Os familiares também foram atendidos pela equipe multidisciplinar do Núcleo de Apoio às Vítimas do MPRJ (NAV) e o relato foi encaminhado ao Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID/MPRJ), à Superintendência de Prevenção e Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas do Estado do Rio de Janeiro e a Fundação para a Infância e a Adolescência, para a divulgação do desaparecimento do adolescente.
O que se sabe até o momento
O jovem foi capturado por criminosos quando soltava pipa com amigos, próximo à estação de trem em Brás de Pina. Além de Paulo Victor, outras duas pessoas foram sequestradas, em um período de 10 dias, nas proximidades da favela do Quitungo. A suspeita da Polícia Civil é de que o mesmo grupo criminoso da comunidade seja responsável pelos desaparecimentos. Além do adolescente, também foram sequestrados o entregador Wagner Motta Neves, de 33 anos, em 4 de janeiro, e Wagner Santana Vieira, de 36 anos, em 8 do mesmo mês, quando visitava familiares no bairro.
No último dia 10, o corpo do segundo foi encontrado por policiais militares, às margens de um rio, na localidade do Cantinho da Ponte, na Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A identificação da vítima foi confirmada nesta terça-feira (16).
De acordo com o delegado titular da 38ª DP, Flávio Rodrigues, a principal linha de investigação é de que eles tenham sido levados pelos bandidos devido a um acerto de contas de grupos criminosos, porque as vítimas moravam ou integravam o tráfico de drogas de favelas dominadas por facções rivais. Entretanto, não há confirmação de que elas tenham envolvimento com o crime organizado. Atualmente, a comunidade do Quitungo é controlada pelo Comando Vermelho.
Na quarta-feira (17), policiais do Grupamento de Ações Táticas do 16° BPM (Olaria) prenderam um suspeito de envolvimento no sequestro. Lucas Bianchini Nunes Borges foi localizado no mesmo bairro onde o jovem desapareceu, após informações repassadas pelo Disque Denúncia. O preso já havia sido detido outras vezes por associação criminosa e desobediência.
Em 2019, Lucas e outras 28 pessoas organizaram uma invasão ao Estádio Maracanã, na Zona Norte do Rio, por meio de uma rede social. O grupo, que contava com membros de torcidas organizadas, tentou invadir um jogo entre Flamengo e Grêmio, válido pela Copa Libertadores. Lucas foi preso no dia anterior à partida e solto após quatro dias para responder o processo em liberdade.
Já em 2022, ele foi detido em flagrante por desobediência e encaminhado à 22ª DP (Penha). No momento, o processo está suspenso temporariamente. Enquanto respondia pelo crime, Lucas alegou trabalhar como motoboy. A moto dele foi um dos pontos que ajudou na prisão pelo envolvimento no sequestro do adolescente. Nas redes sociais, ele publicou imagens com o veículo, que é semelhante ao flagrado pelas câmeras de segurança durante o crime.