Réptil foi imobilizado por moradores até a chegada dos bombeirosReprodução

Rio - Após o temporal do último fim de semana, um filhote de jacaré-de-papo-amarelo apareceu nas ruas do bairro Recantus, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Moradores acreditam que o animal tenha vindo de um valão que deságua no Rio Botas.

No vídeo que circula nas redes sociais, o animal é carregado por quatro homens e aparece laçado no pescoço e no rabo, além de estar amordaçado com um pedaço de madeira. O réptil foi imobilizado e colocado dentro de uma caixa até a chegada dos bombeiros. Em seguida, foi solto em seu habitat natural. 
No entanto, a ação não é recomendada por especialistas. O biólogo e presidente do Instituto Jacaré, Ricardo Freitas, explicou que a captura inadequada representa dois grandes problemas. "Primeiro é o risco que o animal pode sofrer com isso porque não é só laçar ele e pegar pelo rabo, pode acabar quebrando o pescoço, machucando e até matando o animal, mesmo que essa nem seja a intenção. Por outro lado, existe também o risco para a pessoa que tá ali laçando o animal, porque corre o risco de retaliação, por defesa do jacaré", disse em entrevista ao DIA.
De acordo com o biólogo, os animais aparecem nas enchentes porque a maioria de seus habitats, como os rios, canais e pântanos, têm sido aterrados por conta do lixo. "Com isso, cada vez mais os animais estão suprimidos, sem espaço. Então, quando chove, a água tá na rua, diretamente conectada ao local onde eles vivem. Para eles, estão nadando e expandindo o território", ressaltou.
A recomendação do Corpo de Bombeiros para a população é se afastar, ligar para a corporação, através do 193, informar o local e se alguma pessoa ou o animal está ferido e ficar longe do réptil até a chegada dos militares. É orientado, ainda, jamais tentar tocá-lo.
Espécie ameaçada de extinção 
O jacaré-de-papo-amarelo para o estado do Rio está ameaçado de extinção. De acordo com o biólogo, a razão sexual da espécie está desequilibrada, já que 85% da população é de jacarés machos. "Assim, você não tem como reproduzir porque temos poucas fêmeas. E temos poucas fêmeas porque os jacarés machos disputam o território e buscam ambientes menos competitivas para que possam viver com menos briga e com uma fêmea para reproduzir. Com isso, são obrigados a sair da água e procurar esse novo ambiente", explicou.
No entanto, quando o jacaré, que saiu da água para buscar um território menos competitivo, é resgatado e colocado em um ambiente que não se sabe como é estruturalmente. "Os bombeiros não sabem como tá a estrutura daquele lugar. Quando ele é solto com outros jacarés, aumenta mais a briga, mais competição, consequentemente, causa o desiquilíbrio na razão sexual daquele novo local", ressaltou. 
A poluição dos rios e lagoas também é um dos fatores responsáveis pela extinção doa espécie. "Os 19 primeiros dias de um ninho são fundamentais para determinar se vão nascer machos ou fêmeas e quantos de cada, apenas pela temperatura. Mas, no ambiente extremamente poluído, o ninho é feito de lixo e acontece que quanto mais decomposição, mais quente fica o ninho e isso altera a estrutura natural que deveria ter de machos e fêmeas nascendo, isso induz ter mais machos do que fêmeas. Além disso, o chorume fica preso nos ovos e acelera a mortalidade daquele ninho e diminui a taxa de nascimento", finalizou.