Feira de Acari acontecia na Avenida Martin Luther King Jr desde a década de 1970 Fábio Costa / Secretaria Municipal de Ordem Pública

Rio - Cinquenta e um comerciantes da Feira de Acari, na Zona Norte, foram realocados para a feira livre que acontece aos domingos na Rua Ouseley, paralela à do Metrô de Acari/Fazenda Botafogo. Segundo o decreto publicado no último dia 22 no Diário Oficial do município, os comerciantes que buscavam oferecer suas mercadorias respeitando as leis municipais foram regularizados. No entanto, os ambulantes alegam que cerca de 300 trabalhadores que atuavam em Acari ainda estão desempregados.
O decreto que proíbe a montagem de barracas na Avenida Pastor Martin Luther King Jr foi publicado no Diário Oficial no dia 23 de janeiro. O documento afirma que relatórios de inteligência da Seop apontaram a ligação da feira com o tráfico de drogas, roubos de cargas, furto de energia e contrabando, e constatou a venda de produtos de todos os tipos, entre eles alimentos não perecíveis e animais silvestres, de origem desconhecida e pela metade do preço de mercado. 
No local, foi constatado a venda ilegal de eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, remédios, além de animais silvestres, alimentos, bem como roupas de lojas de departamento pela metade do preço que constava nas etiquetas. Além disso, a feira teria ligação com organizações criminosas. O monitoramento da Seop revelou ainda que, para ter autorização dos traficantes que atuam no local, o ambulante precisa desembolsar ao menos R$ 6 mil por um ponto, além de pagar de R$ 20 a R$ 30 pela montagem das barracas a cada domingo.
No início do mês, a prefeitura se reuniu com os comerciantes da região que queriam se regularizar para trabalhar dentro das legislações. A feira em que foram realocados funciona nos mesmos moldes da Feira da Glória, na Zona Sul do Rio. No último domingo (25), foi o primeiro dia no novo local.
"Fizemos a reunião e os feirantes que tinham produtos adequados à feira puderam trabalhar na feira livre que acontecia na rua paralela à rua do metro. Esses foram autorizados em diário oficial na quinta passada e já puderam trabalhar no domingo passado. Muitos vendiam produtos não cabíveis a legalização como televisões, peças de automóveis, material de construção, computador, entre outros, mas todos os pedidos de produtos compatíveis com a feira livre foram atendidos", explicou o subprefeito da Zona Norte, Diego Vaz.
A ambulante Priscila Bernardo, de 36 anos, estava em Acari há 16 anos. Desde o fim da feira, está sem trabalhar. Segundo ela, a feira em que alguns comerciantes foram realocados fica em uma localidade perigosa. "Ali é uma comunidade e é perigoso, ali tem tiroteio. Eles alegam que somos marginais e que trabalhamos com mercadoria roubada, mas querem colocar a gente dentro da favela? Tem comerciante e morador que tá brigando com o pessoal da feira porque dizem que atrapalha a saída de carros. Onde ficávamos, na calçada, é muito mais seguro. A gente quer resposta, a gente tem fome, tem pressa, precisamos trabalhar e pagar conta", disse.
Valdecleia Ogliaruso, de 37 anos, era feirante há cinco anos em Acari e alega que cerca de 300 comerciantes que vendem produtos regulares ainda estão sem trabalho. A comerciante pede que o comércio seja mantido no local de forma regular, mas com uma fiscalização mais ostensiva das atividades.
"O que estamos pedindo é diálogo, porque temos centenas de pessoas sem trabalhar. O que a gente propõe pra prefeitura é que deixem a gente trabalhar nesse domingo, dia 3, e que venham fiscalizar e dizer o que pode e o que não pode. Não dá pra proibir uma coisa que você não conhece, eles generalizaram os feirantes como criminosos, mas eu tenho nota fiscal e cerca de 300 pessoas que estão no grupo de feirantes também. A gente identificou um por um pra saber se são trabalhadores mesmo. A gente só quer um diálogo, mas não estamos sendo ouvidos", ressaltou em entrevista ao DIA
No entanto, segundo o secretário de Ordem Pública (Seop), Brenno Carnevale, a Feira de Acari não voltará a acontecer. De acordo com ele, os comerciantes legalizados não tiveram prejuízo. "A gente já tem mais de cinco domingos sem a Feira de Acari, que era um polo de receptação. Não tem prejuízo para os comerciantes que vendem produtos autorizados, eles foram para a feira que a prefeitura autorizou naquela região", disse ao DIA.
A Seop explicou, ainda, que o cadastramento dos ambulantes estão sendo feitos aos domingos na feira livre da Rua Ouseley. De acordo com a pasta, após a realização do cadastro, uma análise dos produtos que os comerciantes alegam vender é feita.
Procurada, a Polícia Civil disse que as investigações em relação à origem das mercadorias da Feira de Acari e a relação do comércio ilegal com as organizações criminosas estão em andamento. Segundo a corporação, diligências estão sendo realizadas para identificar os envolvidos.