Dona Fátima morreu aos 68 anosTiago / Atzvedo

Rio - Um dos símbolos do comércio de rua da Lapa, Fátima Ribeiro da Silva, dona de uma barraca de bebidas que levava seu nome, morreu nesta quarta-feira (28), aos 68 anos. Ela sofreu um infarto fulminante e faleceu em casa, onde morava sozinha, de manhã.

Paulista de nascimento, Tia Fátima era conhecida por vender copos grandes de bebidas, principalmente caipirinha, a um preço barato nas madrugadas da Lapa. Foi na sua tradicional barraca na Rua Joaquim Silva, 135, que a ambulante contou diversas histórias e acolheu inúmeros clientes.

A filha da comerciante, apelidada pela mãe de Marininha, diz que o trabalho era a paixão de dona Fátima.

"Ela sempre gostou da agitação das capitais. Ela morou muito tempo em São Paulo. E aí ela foi para o Rio em 1997. A barraca da Fátima, para ela, era o amor da vida dela. Ela amava aquilo. Ela amava os clientes. Nossa, quando era o dia de trabalhar, ela ficava muito feliz", revela.

Dona Fátima chegou ao Rio há 27 anos e começou a vender bebidas em um isopor, sempre na mesma região. Depois de um tempo e de problemas com a prefeitura, ela começou a tirar as licenças para trabalhar. Atualmente as 10 barracas da rua Joaquim Silva estão no nome dela.

A filha também falou sobre o carinho e a dedicação que sua mãe tinha pela profissão: "Tinha muita gente que trabalhava com ela, quando ela via que os meninos estavam relaxando na hora de fazer, ela mandava embora. Depois os meninos pediam pra voltar e ela brigava com eles que tinha que fazer tudo certinho porque tudo tinha medida, tudo tinha qualidade, tudo muito limpinho, tudo do bom e do melhor, tudo fruta fresca. Por trás da barraca da Fátima, quando montada lá, nossa, envolvia muita coisa".

Nicollas Godoy foi uma das pessoas que trabalhou com Fátima e a considera parte de sua família. Para o jovem, ela foi uma gigante.

"Falar desse gigante que foi a tia Fátima é um imenso prazer. Ela me contou muitas histórias boas e lindas sobre sua vida", lembra.

Raquel explicou que Fátima já tinha alguns problemas de saúde, como pressão alta e doença cardíaca. Ela iria realizar um procedimento coluna no próximo dia 14.

Pelas redes sociais diversos clientes também se despediram, lamentando a perda da comerciante.

"Fazia a melhor caipirinha que eu já tomei, além de uma senhora muito gentil e simpática. Praticamente um ponto turístico na Lapa, vai deixar saudades", disse uma cliente.

"Barraca da Fátima deveria ser tombado como patrimônio cultural do Rio de Janeiro em homenagem a ela. É simplesmente a melhor caipirinha do RJ, não tem como, não existe nada parecido com aquela limonada Suíça", comentou outra.

Tia Fátima construiu uma família ao longo dos anos que morou na capital fluminense, mas nunca deixou seus filhos e netos desamparados em São Paulo.

"Eu sempre liguei pra minha mãe todos os dias, mais que uma vez. A primeira coisa que eu fazia ao acordar era ligar pra minha mãe. Sempre. E todo final de conversa, independente de perto de quem eu estava, eu podia estar perto de quem fosse. Eu sempre falei no finalzinho da conversa, mãezinha fica com Deus, eu te amo. Sempre. Sempre. E ela também sempre falou que me ama, independente de quem ela estivesse perto", lembrou Marina.

Fátima será sepultada ao lado da família no Cemitério da Saudade em Marília, no interior de São Paulo, onde nasceu. 

No Rio, uma das 'irmãs' que a comerciante fez na cidade, deve organizar uma missa de sétimo dia. Já as barracas licenciadas em nome de Fátima não serão fechadas.

A família vai reorganizar o trabalho para continuar o legado de tia Fátima.
*Reportagem da estagiária Bruna Bittar, sob supervisão de Flávio Almeida