Alunos prestigiaram oficinas e apresentação na quadra do Cacique de RamosRenan Areias / Agência O Dia

Rio - A 1ª Feira Literária do Cacique de Ramos, realizada nesta sexta-feira (1), atraiu crianças de diversas escolas do Rio. O evento na quadra da agremiação, localizada em Olaria, na Zona Norte, começou às 10h e encerrou às 20h. De acordo com a organização da festa, cerca de 2 mil alunos da rede municipal prestigiaram as mais de 30 atividades preparadas para o público.
No evento, a professora e escritora Liliane Mesquita contou as histórias dos livros "Qual é a sua forma", sobre o respeito às diferenças e combate ao bullying, e "Onde é o lugar de Dandara". Além disso, expôs suas obras "Gol de letra", "A culpa não é sua", "O menino que parou o tempo" e o "O desaparecimento do Senhor Abraço". 
Liliane contou que, em certo momento, uma criança ficou emocionada ao ver a ilustração da capa de um dos livros e se sentir semelhante à menina desenhada. "Ela viu a personagem e se reconheceu. Então, a gente mostra para a criança esse potencial, ela se vê representada, tendo acesso a diversos autores e diversas histórias, estimula o conhecimento e gera essa identificação, ela se vê também capaz de estar ali. Você começa pelo incentivo à leitura e a história toca tanto a pessoa que ela extrapola quando se vê reconhecida ali", explicou.
"É uma questão da aproximação, mostrando possibilidades, incentivando e despertando nessas crianças, jovens e até adultos, o gosto pela leitura. Isso é super importante para que possamos ter cidadãos críticos que pensem pelo seu próprio olhar e não pelo olhar do outro. Quando você não lê, você fica escravo do olhar do outro", complementou.
O espaço contou com a exposição de mais de 15 editoras, além de pontos reservados para escritores independentes. Na quadra do Cacique, os alunos puderam participar de oficinas, rodas de debates e encontros com autores. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), que participou da curadoria geral da feira, o evento abordou temas cruciais para formação de cidadãos críticos, como identidade, pertencimento, equidade de gênero e raça. Ao fim da visita à "FliCacique", cada criança recebeu um livro de presente.
Professora da rede municipal, a escritora Gisele Silva apresentou seu livro "A menina, seu pai e o jornal", que representa a forma como ela aprendeu a ler. "Meu pai recortava as letras do jornal e me ensinava a ler. Inclusive, eram do jornal O Dia", contou.
Para Gisele, sua obra tem uma importância em falar sobre ancestralidade, o protagonismo negro e incentivar a leitura. Além disso, a escritora opinou que a feira literária é um ponto fundamental para a democratização do acesso ao livro.
"As crianças estão começando a interagir com os livros, estão aprendendo a se ver nos livros. Essa parte do protagonismo é muito importante. Não é apenas o incentivo a leitura, é eles se verem representados, participarem, lerem e discutirem é muito importante. A importância do evento é poder levar a democratização do acesso ao livro. Isso é o que mais importa, porque você consegue conversar com as crianças, elas podem emitir a opinião delas", destacou.
Ainda no começo da tarde, o mestre de bateria Carlos Xula realizou uma oficina de percussão com alunos do Ensino Fundamental. A programação também contou com exposição de ilustrações do artista plástico e carnavalesco André Cezari e uma roda de conversa com o tem "A força feminina nos ramos do Cacique". Para finalizar o dia, houve uma apresentação de samba e cordel com o músico e capoeirista Victor Lobisomem.
Durante o evento, os jovens puderam realizar uma visita guiada pelo Centro de Memória Cacique de Ramos, com curadoria do historiador Walter Pereira Junior e do professor Cleber Gonçalves. A feira, com a presença do secretário municipal de Educação Renan Ferreirinha, teve entrada gratuita e classificação livre.
Cacique de Ramos
O Cacique de Ramos surgiu no ano de 1961, com a união de grupos carnavalescos de jovens em Ramos, na Zona Norte do Rio. Após dois anos de cortejo, o desfile passou a figurar no Centro a partir de 1963. Com isso, a agremiação se firmou como um fenômeno de multidão, atraindo foliões de diversas regiões.
No início dos anos 70, o Cacique de Ramos ocupou uma sede permanente e os integrantes começaram a promover rodas de samba, reveladas pela cantora Beth Carvalho em seu disco "De Pé no Chão". A instituição, ativa há mais de 60 anos, segue com pagode aos domingos e desfile no Carnaval carioca.
* Colaborou Renan Areias