Rio - O amplo domínio de organizações criminosas no Rio de Janeiro que possuem embates com os poderes Executivo e Legislativo acende o alerta vermelho para as autoridades. Para alguns especialistas, o que caracteriza a denominação de organização criminosa é a estrutura complexa, com ramificações por diversos órgãos e envolvimento de agentes públicos dos mais variados escalões, além de uma sofisticada tecnologia para a obtenção de informações e recursos indevidos.
Uma operação da Corregedoria da Polícia Civil contra três policiais busca esclarecer o motivo do trio realizar diversas consultas no banco de dados da corporação sobre o juiz Bruno Monteiro Rulière e seus familiares. O magistrado atuava em ações contra o crime organizado.
Segundo o especialista em Segurança Pública José Ricardo Bandeira, não existe dúvida de que um dos principais focos de controle e monitoramento ilegal são os juízes e promotores de justiça que atuam diretamente no combate as organizações criminosas. De acordo com ele, uma das principais ferramentas utilizadas para a espionagem é a construção de uma rede de informantes.
"Um dos aspectos mais preocupantes da corrupção policial é quando esses grupos utilizam recursos públicos, como informações confidenciais e ferramentas de investigação, para benefício próprio ou para proteger atividades ilegais. Com isso, estão sempre um passo a frente da polícia e da justiça, podendo inclusive usar essas informações para a elaboração de atentados e ameaças a vida de servidores públicos", disse em entrevista ao DIA.
A Polícia Civil informou que as investigações sobre o trio tiveram início após a Subsecretaria de Inteligência da corporação verificar uma possível violação das regras de uso do "Portal da Segurança" por parte dos policiais. Na época, os agentes estavam lotados na Delegacia de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco/IE), 128ª DP (Rio das Ostras) e Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC). Ao todo, foram feitas três buscas, sendo uma em 2021 e duas no ano passado.
A corregedoria da Civil foi comunicada e, atualmente, investiga a motivação que levou os agentes a acessarem, indevidamente, o banco de dados e buscarem informações sobre o juiz, sua mulher, seus sogros e cunhado. Bruno atuava na 1ª Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado.
Vinícius Cavalcante, especialista em Segurança Pública, explica que antes de executar um atentado, o indivíduo vai buscar o máximo de informações possíveis sobre os hábitos e a rotina de um possível alvo. "Existe um conjunto de informações que quem pretende atentar vai coletar pra poder fazer o seu planejamento. Ninguém acorda e diz ‘hoje nós vamos atentar contra essa pessoa’. Antes, ele vai escolher um local que seja propício à abordagem e também assegurar para os executores uma fuga protegida. Essa vigilância e acompanhamento do alvo é muito importante para levantar todos esses pontos que eventualmente se vai utilizar na prática do atentado", afirmou.
Segundo os especialistas, policiais corruptos podem usar o aparato público de várias maneiras para benefício próprio ou para proteger atividades ilegais. Algumas das maneiras mais comuns incluem o acesso a informações confidenciais, a coação e intimidação e o vazamento de informações. De acordo com a Polícia Civil, o monitoramento ilegal na base de dados do Portal de Segurança configura uma violação funcional gravíssima. Caso comprovadas as irregularidades do trio, a corporação informou que serão tomadas medidas nas esferas administrativas e penais.
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