Exposição Mundo Zira, no CCBB, homenageia o escritor ZiraldoCleber Mendes / Agência O Dia

Rio – "Todo lado tem seu lado / Eu sou o meu próprio lado / Mas posso viver ao lado / Do seu lado, que era meu", escreveu O Menino Maluquinho no poema “Teoria dos Lados”, quando os seus pais se separam. Para a servidora pública Tatiana Salomão, de 34 anos, esse é um dos escritos mais bonitos que já leu em sua vida: "Ele lia muito os livros Planeta Lilás e O Menino Maluquinho, e este último tem um valor afetivo muito grande para mim, por conta de 'Teoria dos Lados'. Toda criança que passou por esse momento se identificou com ele. Ziraldo ensinou muito sobre sentimentos para as crianças. É muito importante continuar esse legado dele para nós, adultos, não deixarmos as nossas crianças internas morrerem", afirmou, emocionada, na mostra 'Mundo Zira', em homenagem ao Ziraldo, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Centro.
As obras criadas pelo cartunista, chargista, quadrinista, escritor, cronista, entre tantas outras qualificações profissionais, que morreu em casa, neste sábado (6), aos 91 anos, fazem parte do imaginário de milhões de pessoas de diversas gerações.
Para Felipe Barroso Perpetuo, 37 anos, desenvolvedor de projetos, Ziraldo está na memória afetiva da maioria dos brasileiros: "Mesmo quem não leu nenhum livro dele com certeza já passou por alguma referência à Ziraldo. Ele permeia todo esse imaginário infantil brasileiro que vai durar ainda por muito tempo. O primeiro filme do Menino Maluquinho foi lançado em uma das minhas férias escolares e não parava de assisti-lo, até comprei em VHS. Eu lembro desse filme com muita nostalgia. Perder o Ziraldo é muito grande. E esta mostra é ótima para homenageá-lo e influenciar as novas gerações", disse.
Na mesma exposição, a jovem Bárbara Larissa de Oliveira, 24, estava acompanhada de duas amigas: Flávia Martins, de 42, e Raquel Santos, 39. Todas assistiam ao Menino Maluquinho na televisão, mas em épocas diferentes. Bárbara é tão fã de Ziraldo que inclusive virou educadora por conta da obra 'Uma Professora Muito Maluquinha', lançada em 1995: "Todo dia, eu chegava em casa da escola e assistia ao Menino Maluquinho e à Turma do Pererê. Quando eu assisti ao filme Uma Professora Muita Maluquinha, eu já quis logo comprar o livro. E certamente me inspirei nela para entrar na área de educação. Hoje, sou mediadora de crianças especiais em uma escola. Tudo por culpa do Ziraldo", contou, aos risos.
Flávia, também professora, disse que Ziraldo a fez ter uma infância mais feliz: "Eu sou grata por Ziraldo ter feito parte da minha vida. Ele morreu, mas o legado dele continua. Ele permanecerá vivo ainda por muitas gerações, através de seus familiares".
Tornar a obra de Ziraldo conhecida pela sua filha Luiza foi de fato uma das preocupações de Morgana Ximenes, 45, vendedora. Ela sempre incentivou Luiza a ler Ziraldo pela ampla visão do escritor: “Eu adoro esse jeito dele de ter uma visão diferente de tudo que é imposto. Eu sempre quis a alegria e a espontaneidade dos personagens, principalmente as do Menino Maluquinho. Ele era alegre, livre, solto, com muitos amigos. Eu queria ser uma menina maluquinha também, colocar a panela na cabeça, bater e sair correndo pela casa. Apesar de ser adulta, eu sempre gostei também de ver os episódios da série. Acho que todos nós temos uma criança interior que quer ser a criança que nascemos para ser, mas somos reprimidas pela nossa sociedade e violência, que não existem no mundo do Menino Maluquinho".
Luisa, costureira de 23 anos, recebeu de bom grado a influência da mãe para ter contato com a obra de Ziraldo, principalmente por se identificar com a obra Flicts, sobre uma cor 'diferente', que não consegue se encaixar no arco-íris e em nenhum outro lugar: "Eu já tinha lido o livro antes de assistir à peça na escola e, ali naquele momento, eu fiquei muito encantada, pois eu pude ver com os meus olhos toda a história de uma cor que era sozinha. Já O Menino Maluquinho tinha um dia a dia muito encantado, eu era apaixonada, porque a vida dele era muito diferente da minha. Eu era mais caseira, quietinha e introvertida, e não tinha muitos amigos fora de casa, enquanto ele tinha o Bocão e a Julieta, e toda aquela vida maravilhosa. Ziraldo marcou muito a minha infância e, se eu pudesse, eu assistia O Menino Maluquinho até hoje", contou, saudosa.