Mapa mostra domínio territorial do CV, TCP, ADA e das milíciasDivulgação
Segundo o levantamento, no ano passado, 52% da área ocupada por grupos armados no Grande Rio estavam sob o controle do Comando Vermelho (CV). Enquanto as milícias, o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Amigos dos Amigos (ADA) tiveram redução nas suas áreas de domínio.
Há mais de quatro décadas, amplos espaços da Região Metropolitana do Rio são comandadas por grupos armados. De 2008 até 2021, por exemplo, as milícias cresceram quase 400% e passaram a dominar o Rio. Já entre 2022 e 2023, a situação mudou e o CV assumiu o posto de grupo armado com mais territórios.
De acordo com os estudos, a retomada do CV foi impulsionada pelo crescimento na Baixada Fluminense e no Leste Metropolitano, que somaram 85% das áreas conquistadas pela facção em 2023. Enquanto as milícias acumularam as maiores perdas na Baixada, seguida da Capital, e principalmente na Zona Oeste.
Em números, no ano passado, dos 466,65 km² de área do Grande Rio dominadas por algum grupo armado, 38,9% estavam sob o domínio das milícias, 7,7% do TCP, 0,8% da ADA, e 51,9%, sob o domínio do CV. Com isso, em 2023, o CV retomou a liderança de área total sob o seu domínio (242,21 km²), que havia sido perdida em 2021 para as milícias. Em 2021, dos 509,35 km² do Grande Rio dominados por grupos armados, 46,5% pertenciam às milícias e 42,9% ao CV. Enquanto o TCP e ADA dominavam 8,7% e 0,9%, respectivamente.
Para Maria Isabel Couto, diretora de dados e transparência do Instituto Fogo Cruzado, a hegemonia do CV no Leste Metropolitano e seu crescimento na Baixada Fluminense explicam a liderança da facção em 2023.
"A série histórica mostra o crescimento consistente das milícias até 2021. Isso muda em 2022, quando o CV volta a crescer por dois anos consecutivos. Nos dois casos, enquanto não houver política pública voltada para a desarticulação efetiva das redes econômicas que sustentam os grupos armados e para a proteção de funcionários públicos que prestam serviços essenciais em todos os bairros do Grande Rio, conviveremos com essa oscilação onde num ano a milícia cresce mais e noutro o CV lidera", disse.
Ainda segundo a pesquisadora, a oscilação é também consequência das escolhas do poder público, que privilegiam operações espetaculares de confronto armado que ora afetam mais um grupo, ora afetam mais outro, sem modificar a estrutura. "O problema maior por trás disso são os conflitos incessantes que diariamente colocam a vida da população em risco e as dinâmicas de violência e extorsão às quais essa mesma população é submetida quando um grupo armado assume sua localidade", explicou.
Divisão por região
Composta pelos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica, a Baixada Fluminense vem sendo marcada pela oscilação no domínio entre milícia e CV desde 2019. Nos 16 anos analisados, a milícia cresceu expressivamente (177.2%) aumentando seu território em 48,99 km². Mas a queda em 2023 (22.5%) fez com que o CV retomasse a liderança em cobertura territorial na região.
Apesar de ser apenas a terceira força em domínio territorial na Baixada, esta é a região que concentra a maioria das áreas do TCP — 38.8% na série histórica e 56.7% em 2023. Entre 2008 e 2023, o TCP quase quadruplicou seus territórios na Baixada Fluminense (aumento de 296.3%).
O Leste Metropolitano, formado por Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, Cachoeira de Macacu e Tanguá, é marcado pela hegemonia consolidada do Comando Vermelho que, durante toda a série histórica, nunca controlou menos do que 70% dos territórios dominados.
A Capital Fluminense é uma região marcada pelo predomínio das milícias. Dos 155,33 km² de área da cidade dominada por algum grupo armado em 2023, 66.2% estavam sob influência das milícias. Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos concentraram 20,7%, 9,3% e 2,4%, respectivamente.
Apesar do forte domínio, as milícias perderam território na cidade, registrando uma queda de 15,4%. O TCP reduziu 9,6% de seu território e o ADA, 16%. Já o CV foi o único grupo armado a expandir seu território na Capital, com um aumento de 9,12%.
Zona Oeste
Dos 118,9 km² de extensão territorial sob domínio de algum grupo armado na Zona Oeste até o ano passado, 83,1%, estavam sob controle das milícias. 7,7% estava sob o Comando Vermelho, 5,7%, sob o TCP, e 2,7%, sob o ADA.
Ainda em 2023, a região viveu um dia de terror e caos quando 35 ônibus, estações de BRT e uma composição dos trens urbanos foram queimados como resposta à morte de uma das lideranças da milícia, em uma operação policial.
Zona Norte
Se na Zona Oeste é a milícia que mantém o domínio, na Zona Norte o CV predomina. Em 2023, dos 32,24 km² de extensão territorial na região sob domínio de grupos armados, 60,5% eram controlados pelo facção criminosa. Em seguida estava o TCP, com 21,7% do território dominado. A milícia fica em terceiro lugar, com 12,8% e ADA em último, com 1,8%.
Zona Sul
Na Zona Sul, 2,64 km² estão sob influência de algum grupo armado, sendo CV e TCP os únicos a apresentarem presença significativa na região, com 94,7% e 5,30% respectivamente.
Capital — Centro
Na Região Central do Rio, 1,54 km² estão sob domínio de algum grupo armado. 63,6% estão sob influência do CV, e 36,4%, do TCP.
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