Rio – Parte do prazer de beber uma boa cerveja está no seu armazenamento. Em geral, a bebida sai da fábrica na sua melhor versão, com os aromas e sabores ideais. Mas será que faz diferença ela ser envasada em garrafa ou em lata?
Se ela não for uma cerveja de guarda, que aprimora seu perfil sensorial com o tempo, não. As cervejas feitas para envelhecer são mais complexas, potentes e na maior parte das vezes em garrafas. Porém, mesmo uma cerveja mais alcoólica pode ser envasada em lata sem alteração no seu sabor.
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O diretor técnico da Associação dos Cervejeiros Caseiros do Rio de Janeiro (AcervA) Daniel Barros explica a diferença entre os dois tipos de armazenamento:
"Na prática, é muito pouca se não tiver lightstruck envolvido. Tanto lata quanto garrafa entregam um produto semelhante. Em um teste cego, eu não seria capaz de perceber o armazenamento”, afirma o cervejeiro, que também é jurado em concursos como o anual Concurso Brasileiro de Cervejas, em Blumenau, Santa Catarina.
O efeito lightstruck (em tradução do inglês, ‘atingido pela luz’) a que Daniel se refere é um defeito ocasionado pela incidência de luz a que as garrafas verdes e transparentes são expostas. Isso quer dizer que, quando a garrafa é mantida na claridade, os raios ultravioletas reagem com componentes de lúpulo da bebida, resultando em aromas desagradáveis. Muitos cervejeiros chamam o estrago de ‘cheiro de gambá’. Essas garrafas devem ser armazenadas na escuridão total. Já as garrafas marrons conseguem proteger a cerveja da incidência da luz.
Mas as diferenças não param por aí. Embora o aroma, o sabor e a coloração dos líquidos serem idênticos em latas e garrafas, Daniel vê vantagens na garrafa por questões de transporte e temperatura: "Já li artigos que diziam que lata oxida menos a bebida, mas é bem pouco menos. O mais relevante é o armazenamento e o transporte corretos. Em um lugar quente como o Brasil, a cerveja em lata esquenta mais rapidamente do que a garrafa por conta da parede fina da embalagem. E no transporte, a cerveja em lata também é prejudicada, pois é retirada de uma câmara fria para outra, em outra cidade. A lata esquenta mais rápido e vai minando a bebida, fazendo-a perder vida e oxidar com o tempo", esclarece.
Para o sommelier de cervejas Bruno Mesquita, a questão de o Brasil preferir cerveja em garrafa está ligada a uma questão cultural: "A cerveja tem dois inimigos principais: a luz e o oxigênio, e optar pela lata é melhor para combatê-los. A lata não passa luz e veda melhor o oxigênio. No quesito comercial, também é uma boa alternativa, porque elas não quebram e é possível empilhá-las, o que gera menos transtorno para a fábrica".
Na hora do envase, ambos os métodos são práticos para pequenas e grandes cervejarias. Porém, se a fábrica é micro, como um brewpub, ela costuma optar por garrafas, porque as envasadoras em lata têm capacidade maior de produção e exigem um alto investimento.
No apelo visual, parece que a garrafa sai ganhando. Não se pode negar que há uma graça envolvida em sentar em uma mesa de bar, pedir uma cerveja de garrafa com 600 ml e bebê-la em copo americano, adorado pelos cariocas. Além disso, os rótulos das garrafas costumam ser mais elaborados do que as latas. Falando ecologicamente, os dois envazes possuem vantagens. 100% das latas de alumínio são recicladas no Brasil, e o trabalho de recolhimento é realizado por catadores, sendo uma importante fonte de renda para a categoria. Além de o valor pago pelas latas ser maior do que o pago pelos vidros, o peso e o tamanho são vantajosos para as pessoas que as recolhem. Já as garrafas podem ser retornáveis e reaproveitadas pelas fábricas. Só é recomendável verificá-las para ver se não têm fissuras.
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