Rio - Apesar da greve nos seis hospitais federais do Rio, que começou no último dia 15, pacientes do Hospital Federal da Lagoa, na Zona Sul, e do Cardoso Fontes, na Zona Oeste, relataram atendimento normal nesta terça-feira (21). No início do mês, foi aprovada a paralisação por tempo indeterminado, dando início à uma série de reivindicações feitas pelos profissionais de saúde.
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De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Rio (Sindsprev/RJ), na Lagoa, houve redução no mapa cirúrgico e fechamento de salas. Já no Cardoso Fontes, o ambulatório não está funcionando e as cirurgias também foram reduzidas.
Mesmo sem cirurgias eletivas e atendimentos não emergenciais, os pacientes do Hospital Federal da Lagoa não foram significativamente impactados com os 30% no quadro de funcionários. Silvânia da Conceição, de 53 anos, trata de um câncer e frequenta a unidade desde 2023. "Ano passado, eu descobri uma hérnia na barriga e fui diagnosticada com câncer nas mamas. Eu operei, perdi as mamas e voltei aqui. Hoje, fui bem atendida e não tenho nada a reclamar. Nem parece que está de greve", disse.
No início da greve, o Ministério da Saúde, através do Departamento de Gestão Hospitalar, orientou que fosse mantido o funcionamento pleno dos serviços nas unidades para que não houvesse descontinuidade da assistência prestada à população. No entanto, a pasta informou que recebeu os pleitos dos referidos sindicatos, "com os quais reforça o compromisso de manter o diálogo e se disponibiliza para ouvir todas as reivindicações da categoria".
Neusa Beringui, do núcleo sindical Sindsprev, esteve no Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, e comentou sobre a paralisação. "A greve aqui está com bastante adesão. Estamos atendendo todos os pacientes oncológicos, dialíticos, autoimunes, emergências e outras prioridades pautadas na Lei. Mas todos os procedimentos eletivos estão suspensos", explicou.
No geral, os servidores reivindicam um orçamento que dê condições aos hospitais de prestar atendimento à população e realização de concurso público para cobrir o déficit de pessoal, atualmente em torno de 60%. Os funcionários querem também a transferência para a carreira da Ciência e Tecnologia, o cumprimento do acordo de greve de 2023, pagamento do adicional de insalubridade em grau máximo e do piso da enfermagem em valores integrais.
Por ser um setor sensível, as seis unidades federais vão manter os serviços de hemodiálise, diálise, quimioterapia, oncologia, cirurgias oncológicas, trocas de sonda e curativos queimados, atendimentos de emergência, maternidade, atendimento a pacientes especiais, transplantes e ambulatório de TAP.
No Cardoso Fontes, a maioria dos pacientes que chegavam já estavam com exames marcados e não tiveram problemas com atendimento. No entanto, na Lagoa, Maria Júlia Santos, de 72 anos, passou por dificuldades. "Preciso fazer uma cirurgia de hérnia e vim marcar meus exames, mas disseram que está fechado. Quando a gente chega lá dentro, falam que a gente deve voltar depois do dia 10 de julho. Tem que ter humanidade. Eu ganho um salário mínimo. Quando não consigo fazer exames aqui, tenho que pedir dinheiro emprestado", pontuo a idosa, que estava acompanhada de sua cunhada.
Na entrada do Hospital Federal da Lagoa, um grande cartaz da Sindsprev elenca as reivindicações dos profissionais: "Trabalhamos em desvio de função obrigatório"; "não recebemos nossa insalubridade correta"; "nosso salário sofreu uma perda inflacionária na ordem de 49%"; não temos concurso público desde 2005".
Ivânia Almeida, de 61 anos, veio de Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense, para acompanhar o andamento da sua cirurgia. "Fiz uma cirurgia no ouvido aqui há dois anos. Venho de seis em seis meses. Hoje, mesmo estando agendada, quando entrei no hospital, vi a placa da greve e achei que não fosse ser atendida. Mas eu entrei e foi tudo normal", contou.
Lenita Alves, de 63 anos, e Maria Luíza, de 70, também elogiaram o atendimento na Lagoa. "Venho aqui há três meses tratar da minha psoríase. Não sabia que estava de greve. Entrei normal e fui atendida, tudo certo", relatou Alves. "Fomos bem atendidos como em qualquer outro dia", finalizou Luíza.
Nesta terça-feira, a reportagem voltou a procurar o Ministério da Saúde, mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini
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