Ingryd Souza esteve na Decradi para registrar a ocorrênciaReprodução / Redes sociais
Advogada denuncia racismo ao deixar loja em shopping na Zona Oeste
Ingryd Souza precisou mostrar as compras e a nota fiscal após um detector antifurto apitar no momento em que ela deixava o estabelecimento
Rio - A advogada Ingryd Souza denunciou ter sofrido racismo ao deixar uma loja no Barra Shopping, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, no sábado (21). Nas redes sociais, ela relatou que, após comprar roupas na Zara, precisou mostrar os produtos adquiridos e a nota fiscal para uma funcionária porque o detector antifurto apitou duas vezes.
"A gerente já estava na porta com um tablet, aguardando a nossa saída. Ouvimos um 'boa noite', voltamos para a entrada da loja e ela falou que o sensor estava mostrando que tinha uma blusa de seda de botão no tablet dela que parecia estar na minha bolsa. A gente começou a explicar que comprei uma blusa, mas que não era aquela blusa que aparecia no tablet. Depois apitou de novo, nós retornamos e eu comecei a mostrar as coisas que havia comprado", relatou.
De acordo com Ingryd, a funcionária chamou um segurança e os dois afirmaram que o procedimento era para protegê-la, porque o sistema poderia apitar em outra loja também. Com isso, o marido da advogada passou a filmar a movimentação e eles foram liberados para deixar o estabelecimento.
"Alexandre começou a gravar e começaram a pedir desculpas e dizer que eu podia ir embora, que não apitaria mais. Fomos embora e adivinhem? Não apitou pelo mágico poder de uma câmera os filmando. Detalhe: Alexandre, que é visto como branco, não foi revistado mesmo estando com três bolsas e uma mochila", disse.
"Pode aguardar o processo, Zara! Já passei por outras como essa, mas dessa vez não vai passar batido. Vocês precisam aprender urgentemente a tratar com dignidade uma pessoa preta. Nunca passei por tamanho constrangimento", escreveu Ingryd na rede social.
Nesta segunda-feira, o procurador da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Paulo Henrique Lima, acompanhou Ingryd na Decradi. O órgão assumiu a defesa da vítima no caso.
"Casos dessa natureza não podem ser naturalizados, pois a abolição de todas as formas de violência racial é um condicionante para atingirmos a plenitude do Estado democrático de Direito", afirmou o procurador.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia deCrimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) está investigando o caso.
Procurada, a Zara afirmou que é uma empresa que não tolera qualquer ato de discriminação e lamenta que a cliente tenha se sentido desta maneira em uma de suas lojas.
"A empresa ressalta que está reforçando todos os processos e políticas de atendimento com as equipes para que suas lojas sejam sempre um ambiente seguro, acolhedor e inclusivo para todos", comunicou.
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