Fiés na produção dos tapetes do Centro do Rio, em frente a Catedral MetropolitanaRenan Areias/Agência O DIA

Rio - "Fé, união, paz e esperança". Essas são palavras que definem o Dia de Corpus Christi para fiéis e famílias que estiveram na confecção dos tapetes de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, o maior da América Latina. Durante a manhã desta quinta-feira (30), a celebração também se estendeu a outros pontos, como no Centro do Rio, em frente à Catedral Metropolitana de São Sebastião.


Em São Gonçalo, a confecção dos 238 tapetes, Patrimônio Público Cultural e Religioso do município, iniciou a partir das 7h. Os desenhos ficaram expostos da Rua Coronel Moreira César, no bairro Zé Garoto, até a Rua Nilo Peçanha, altura do Clube Mauá, no Centro. No Rio, a produção de tapetes ocorreu na Avenida República do Chile.

Durante a confecção, as amigas Andrea Ferreira dos Santos, 52 anos, e Deise Cavalcante Martins, 57, da Igreja Nossa Senhora Aparecida do Patronato, em São Gonçalo, revelaram ao DIA que o ato significa gratidão a Deus. "O que a gente faz, mediante a tudo que ele proporciona para gente, é pouco, isso aqui é uma doação de carinho", disseram.

Marcada pela fé, a data reuniu muitos voluntários, como Marcelo Canellas, da Paróquia Nossa Senhora da Graças. Ele explicou que cada igreja ficou responsável por cerca de 10 tapetes, divididos por pastorais, e que a sua tinha a responsabilidade de representar a imagem da padroeira.

"Essa aqui é a pastoral da sobriedade, que lida com dependência química e a gente tem a responsabilidade de fazer a imagem de Nossa Senhora. Usamos o sal e os pigmentos para fazer as cores e a gente reproduz a imagem com isso", detalhou.

A união também foi representada durante a festividade. Nádia Madalena, 54 anos, da Paróquia Santana de Itaúna, reuniu a família e amigos na hora da produção.
"É uma festa religiosa onde une todas as comunidades, em que juntamos todos os irmãozinhos nesse dia que Jesus preparou. Como tema, eu escolhi paz, que é o que a gente está precisando. Hoje estão aqui comigo sete pessoas, minha filha, meu genro e amigos muito queridos que fazem parte da comunidade São Tomé que faz parte da Paróquia de Itaúna", pontuou.

Da mesma igreja, uma outra comunidade marcou presença, a de São Pedro. "Estamos fazendo o tema da Eucaristia, é a primeira vez que estou participando como coordenadora, então está sendo uma experiência agradável", disse Andrea Moreira da Silva, 55 anos. "A gente faz por amor, dá trabalho, mas nos reunimos porque nos entregamos de coração", completou a colega, Márcia Cristina de Oliveira, 42 anos.

A Igreja Nossa Senhora Aparecida do Galo Branco finalizou dois tapetes por volta das 8h30. Para Sidnei Lucindo Nascimento, o evento simboliza além da união, a fé e a esperança.

"Somos 10 tapetes, aqui estamos reunidos a Catequese, o Terço dos Homens ,Vicentino, Legião de Maria e muito mais. Faço isso já deve ter uns 10 anos. Esse ato simboliza nossa fé, esperança de um mundo melhor, a eucaristia, Jesus presente, onde vamos nos fortalecer mais dele. Então é isso que vamos levar para o povo através desses tapetes,o maior da América Latina né?! Esse é um orgulho nosso, de estar aqui, dando nosso suor, sabendo que as pessoas vão passar e vão ver o que fizemos com muito amor e carinho, e que elas possam também buscar a Cristo, é nossa evangelização através do tapete", disse.

Pais e filhos estiveram reunidos durante a confecção em vários momentos. Como foi o caso do Sebastião Lacerda, 47 anos, da Paróquia Nossa Senhora do Engenho Pequeno, que estava com os filhos, Lara, 14, e Lucas de Lacerda, de 7.

"Já tem 22 anos que eu venho aqui, a minha filha vai fazer o sétimo ano dela aqui, e meu filho de 7 anos veio a primeira vez. É parte da minha devoção a Jesus vir completar parte da minha vida e do meu ano, que é essa devoção de fazer o tapete em honra do seu corpo e sangue. É nossa fé que nos traz aqui todos os anos para caminhar e ver o amor de cada um".

No tapete, Sebastião explicou que a paróquia representou a Eucaristia. "Hoje estamos representando a a vida que Jesus trouxe para gente, onde ele diz que é o caminho, a verdade e a vida, e a vida dele são essas crianças e jovens se doando desde a manhã. Aqui é a catequese e os coroinhas, e aqui os professores que iniciam o dom e o amor com a religião", contou.

Em frente à Catedral, a confecção também ocorreu a todo vapor, com a participação também de integrantes de escolas de samba, como a Acadêmicos do Salgueiro. Nas imagens, fiéis desenharam Nossa Senhora Aparecida.

Fiéis admiram os tapetes

Além dos voluntários, muitos fiéis foram até as ruas de São Gonçalo para admirar os tapetes. Foi o caso da família de Tábata Matia, 30 anos, e do designer Paulo Matia, 36 anos, que estavam com os filhos.
"A gente mora aqui perto, as crianças gostam. Só essa movimentação já é bem legal, ver essas pessoas aqui reunidas é muito bom. É difícil às vezes a gente ter um feriado que pare e que a gente consiga aproveitar a cidade de São Gonçalo", contaram.

Aposentado, Hugo Peçanha Moreira Filho, 68 anos, saiu do Jardim Alcântara para ver a produção. "Essa é primeira vez que venho, estou dando uma caminhada, mas estou achando muito bonito, divertido, o pessoal se divertindo, pretendo ficar até o final", disse.

Acompanhando a filha Maria Cecília de 7 anos, Débora da Silva, contou que mesmo não fazendo parte da religião fez questão de levar a família para participar da confecção na qual o marido faz parte.
"Acho muito bonito e meu marido sempre trouxe nossos filhos porque ele é católico, é ministro da Eucaristia. Eu trouxe minha filha para fazer o tapete dela, com catequese e os amiguinhos. Ela vem aqui desde bebê com o pai dela, mas como ele está trabalhando hoje, eu faço a parte dele. Eu não frequento (a igreja), mas acho que é importante", afirmou.

Ao lado do pai, o aposentado Marco Antonio de Lima, 70 anos, e do filho, de 7, a dona de casa Márcia Denise, 39, contou o prazer de prestigiar o evento todo ano. "Meu filho está super empolgado, foi dormir pensando em acordar cedo para participar do tapete. É muito emocionante ver as pessoas assim movidas pela fé, aqui é um evento que reúne as pessoas, as famílias".

Emocionada, a aposentada Maria das Graças da Silva, 75 anos, falou sobre sua fé enquanto admirava os tapetes. "É uma sensação boa. Sou católica e fiz minha primeira comunhão quando criança, estudei em colégio de padre e guardo isso pra mim. Tenho muita fé em Deus, Nossa Senhora Aparecida e São Sebastião. Eu moro em Porto Novo, eu vou muito na Igreja Nossa Senhora da Conceição, às vezes vou na Nossa Senhora Aparecida", contou.

Segundo a Prefeitura de São Gonçalo, no maior tapete da América Latina, foram usados aproximadamente, 200 sacos de serragem de 100 litros, inúmeros tubos de xadrez, além das 52 toneladas de sal. Ao todo mais de 6 mil voluntários de todas as paróquias do município, além de colégios e instituições, prepararam os tapetes ao longo da via.