Mais de sete milhões de mortes são resultado do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão são de não-fumantes expostos ao fumo passivoDivulgação/Governo do Estado

Todos os anos, mais de 8 milhões de pessoas perdem a vida devido aos impactos devastadores da indústria do tabaco, conforme apontam dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A campanha antitabagismo  do Dia Mundial sem Tabaco, celebrado nesta sexta-feira, 31, reforça a conscientização sobre os riscos que o hábito de fumar traz para a saúde e acende um alerta combatendo não apenas o consumo de cigarros tradicionais, mas também o tabaco sem fumaça e os dispositivos eletrônicos.

"O tabagismo é uma doença classificada desta forma pela Organização Mundial de Saúde, e como uma doença, ela deve ser tratada e tem cura", salienta Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação do Câncer.

Segundo ele, o tabagismo é responsável por causar muitas doenças, além do câncer, como hipertensão arterial, arteriosclerose, e acidente vascular encefálico, entre outras doenças crônicas. Scaff ainda destaca que o tabagismo é uma causa direta do câncer de pulmão, responsável por mais de 80% dos óbitos dessa doença.

“São vários tipos de câncer, como por exemplo, câncer de língua, de boca, de orofaringe, de esôfago, de traquéia, de estômago, de pulmão, entre outros, ele também causa ou piora outras doenças crônicas existentes. Por exemplo, hipertensão arterial, artéreo esclerose, derrame, o chamado acidente vascular encefálico, entre outras doenças.

Ele explica que o ato de fumar envolve a inalação de mais de 4 mil produtos químicos diferentes que atacam diretamente o epitélio pulmonar, levando a alterações celulares e genéticas que causam câncer. "O hábito de fumar, o tabagismo, é um responsável direto pelo câncer de pulmão e de muitos outros cânceres também."

“Esses produtos químicos atacam diretamente o epitélio, ou seja, a cobertura que nós temos dentro do pulmão, levando ao desenvolvimento de diversos tipos de alterações celulares e genéticas, e com isso está usando o câncer”, pontua.

Além dos cânceres, o tabagismo pode causar diversas outras doenças, desde mau hálito até condições mais graves como esofagite, gastrite, úlceras pépticas, arritmias cardíacas e infarto do miocárdio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o tabagismo como o principal fator de risco evitável para doenças atualmente.

O médico também alerta sobre os perigos dos cigarros eletrônicos ou vapes, que entregam nicotina de forma vaporizada. Ele ressalta que, apesar de parecerem uma alternativa ao cigarro tradicional, os vapes também causam muitos malefícios devido à exposição a metais pesados e ao risco de explosões. "O vape causa tanto malefício quanto o cigarro tradicional", conta.

“A nicotina é a droga que causa a dependência. Ela é uma das mais viciantes que existe na humanidade. O vape, ele causa tanto malefício quanto o cigarro tradicional. Porque o cigarro eletrônico, além do vapor que a pessoa ingere, o vapor para ser produzido é uma fumaça, ele é aquecido. Então você tem uma bateria que produz calor, que produz. Diversos outros componentes, a base de metal pesado que faz parte do dispositivo eletrônico, isso tudo gerando, além dos malefícios do cigarro tradicional, esses outros problemas que trazem outras doenças, outras afecções que antes nem no cigarro existia. Eu vou dar dois exemplos, um é a chamada Evali, que é uma patologia pulmonar, é uma grave insuficiência respiratória causada diretamente pelo cigarro eletrônico, tem muitos casos descritos mundo afora e que causam internações quase que imediatas em uma UTI por conta de uma agressão do cigarro eletrônico, da fumaça do cigarro eletrônico ao tecido pulmonar diretamente. E uma outra coisa que a gente não pode esquecer de falar. É que o cigarro eletrônico explode, existem muitos casos e relatos de pessoas que ficaram feridas, até gravemente feridas, por conta da explosão de um cigarro eletrônico no rosto ou no bolso da calça e assim por diante”, exemplifica Scaff.

O médico enfatiza a importância das campanhas antitabagismo no Brasil, que têm sido muito bem-sucedidas graças a múltiplos fatores, incluindo a proibição do fumo em locais fechados e o acesso aos tratamentos oferecidos pelo SUS. "No SUS, você consegue ter acesso a todos os insumos e medicamentos necessários para o tratamento, além da consulta médica e dos acompanhamentos de saúde necessários para isso."

Para aqueles que desejam parar de fumar, Dr. Scaff destaca que a decisão de parar é crucial, mas deve ser acompanhada por tratamento médico para lidar com a dependência química da nicotina. Ele recomenda o uso de reposição de nicotina e medicamentos para tratar a dependência comportamental e psicológica associada ao tabagismo. "A pessoa quando para de fumar, imediatamente ela consegue perceber os benefícios disso."

Para dar os primeiros passos, ele recomenda: “Então, primeiro é preciso ter a força de vontade, saber que quer parar de fumar. E na sequência buscar ajuda, auxílio médico. Porque um médico é treinado para fazer o tratamento antitabágico, para cuidar dessa pessoa e fazer com que ela pare de fumar”, pontua.
De ex-fumante a maratonista
A enfermeira e maratonista Cinthia Melo, que foi fumante ao longo de 19 anos, começou quando era adolescente por achar bonito e se sentir importante: "Inicialmente, o hábito surgiu de uma brincadeira com uma amiga, mas rapidamente evoluiu para um vício".
A pandemia de COVID-19 foi uma virada para Cinthia. Trabalhando na linha de frente, ela refletiu profundamente sobre sua saúde e seus hábitos. Ela descreve uma luta interna intensa e a decisão de mudar: "Eu tô viva, tenho saúde, o que eu tô fazendo comigo? E todos os dias eu me mato lentamente com o tabaco e muitos perdendo sua vida". Em fevereiro de 2021, ela decidiu que seu aniversário de 35 anos seria o último dia em que consumiria álcool, um dos gatilhos para o fumo. Dois meses depois, em 21 de abril de 2021, ela parou de fumar.
Os primeiros dias sem cigarro foram desafiadores, especialmente ao lidar com ansiedade e a vontade intensa de fumar. No entanto, Cinthia encontrou apoio e motivação na corrida, que começou com uma caminhada na praia incentivada por seu esposo. Ela relembra: "Foi aí que meu esposo se ofereceu pra ir comigo e nunca mais paramos de correr". A corrida não só ajudou a substituir o hábito de fumar, mas também trouxe melhorias significativas em sua saúde e bem-estar, incluindo perda de peso e aumento da confiança.
Em 2022, Cinthia se juntou a uma assessoria de corrida, onde continua até hoje. Ela reflete sobre sua transformação: "A corrida não apenas substituiu um hábito prejudicial, mas também me proporcionou uma nova perspectiva de vida". Ela acredita que as mudanças mais poderosas começam com pequenos passos e que "cada passo vale a pena".
Mudança e superação
O funcionário público Flávio Damasceno começou a fumar aos 14 anos, influenciado tanto pela moda da época quanto pelo ambiente familiar e social. Ele relata que acendia os cigarros da tia no fogão e que seus colegas também fumavam, o que contribuía para a sensação de ser "descolado".
A decisão de parar de fumar foi motivada por um susto com a saúde ao fazer uma endoscopia que revelou pólipos no estômago, o que o fez pensar na necessidade de cuidar da saúde para ver sua filha crescer. No entanto, ele admite: "Não foi fácil e nem rápido". Fábio tentou várias estratégias, como chiclete de nicotina, adesivos e ansiolíticos, mas nenhuma delas foi eficaz. Eventualmente, ele encontrou no Crossfit uma atividade que o ajudou a reduzir gradualmente o hábito até perceber que havia parado de fumar.
Para ele, largar o vício foi desafiador: "O vício psicológico era horrível, a falta do cigarro depois do almoço, do cafezinho ou esperando o ônibus. Tudo isso me fazia falhar sempre que eu tentava parar. Mas me sinto feliz por ter parado e triste por um dia ter começado. Fumar não te faz uma pessoa melhor, só te faz um fumante, é péssimo hábito", enfatiza.