Caminhão ficou com mais de dez marcas de disparos no para-brisa, após o confronto Reginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Policiais militares recuperaram uma carga de mais de R$ 60 mil, roubada na Avenida Brasil, na madrugada desta segunda-feira (17), após uma intensa troca de tiros, na Avenida Itaóca, em Inhaúma, na Zona Norte. Em imagens, é possível ver que o caminhão ficou com marcas de cerca de 20 disparos no para-brisa, além de na cabine e nas laterais do veículo. Não houve feridos. Um segundo caso aconteceu poucas horas depois, na mesma via. 
Segundo a Polícia Civil, por volta das 5h15, PMs perceberam um caminhão se aproximando em alta velocidade da Rua Arlindo Janot, na pista sentido Linha Amarela, em Bonsucesso, também na Zona Norte. Os agentes ainda notaram que o veículo estava sendo acompanhado por uma motocicleta de cor escura e deram ordem de parada, que não foi respeitada, e a carreta seguiu até a saída da via, em direção a Estrada do Itararé. Em seguida, o motorista desviou e acessou a Avenida Itaóca, onde foi abordado novamente.
Na via, houve confronto entre os PMs e os ocupantes da motocicleta. Durante a troca de tiros, o motorista conseguiu pular do veículo e deitou no chão para se proteger dos disparos. Um dos criminosos tentou fugir pela porta do carona da cabine e, de acordo com a Polícia Militar, equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Fazendinha conseguiram prender o homem. O bandido, identificado como Vitor Hugo Santos Tito, e a carga de material de limpeza avaliada em R$ 64 mil foram encaminhados para a 21ª DP (Bonsucesso). 
Ainda não há informações de qual era o destino da carga recuperada. Em nota, a Polícia Civil informou que o criminoso foi autuado em flagrante por tentativa de roubo e tentativa de homicídio. As investigações estão em andamento para identificar outros envolvidos no crime e esclarecer todos os fatos.
Na delegacia, o motorista relatou que vinha de Minas Gerais e passava pela Avenida Brasil, quando foi abordado por pelo menos cinco homens com fuzis em um carro. Um deles entrou na cabine do caminhão e o mandou seguir, sendo escoltado pelo automóvel e outros dois bandidos em uma motocicleta. Tiago Emílio contou que em todo o trajeto, o crimoso gritava ameaças para ele e, quando passaram a ser seguidos pelos policiais, tentou tomar o controle da direção para jogar o caminhão contra a viatura. 
"Foi um desespero muito grande, principalmente na hora dos tiros. A ação dos policiais foi muito importante, talvez eu não estaria aqui se não fossem eles, eu agradeço muito à ação deles. Mas, foi um momento muito difícil", desabafou o motorista, que contou também que costuma trafegar pelo Rio, mas que nunca havia sido alvo de criminosos antes. 
Muito abalado, o motorista disse que agora só pensa em retornar para casa e ainda não sabe se voltará a trabalhar no Rio de Janeiro. "O momento agora é só de agradecer, porque eu não tenho nenhum arranhão, nenhum machucado, nada. Só tenho a agradecer. Foi uma sensação horrível no momento, ainda estou abalado com a situação", completou. 
Segundo caso em menos de 24 horas
Ainda na manhã desta segunda-feira, um outro motorista, que preferiu não se identificar, também foi alvo de bandidos na Avenida Brasil e esteve na delegacia para registrar o caso. Ele contou que, por volta das 8h30, passava pela altura da Penha, Zona Norte, transportando uma carga de medicamentos para o bairro do Rocha, na mesma região, quando foi rendido por criminosos armados com pistolas, em uma motocicleta preta, sem placa. O homem foi obrigado a seguir os assaltantes, que estavam em duas motos, até Ramos. 
O motorista relatou que em um ponto do trajeto, parou o caminhão para um dos criminosos entrar, momento em que um segurança que estava na rua percebeu ser um assalto e reagiu. Houve confronto, os bandidos fugiram e a vítima só saiu do veículo após o fim dos disparos. O homem que atirou contra os assaltantes seria um tenente aposentado da Polícia Militar. "A gente fica em desepero, eles mandam seguir e você não sabe para onde vai, podem te levar para qualquer comunidade e fazer qualquer coisa", contou.
De acordo com a PM, equipes do 22º BPM (Maré) foram acionados para atender uma ocorrência de roubo a um caminhão, na Rua Operário Fortes, em Ramos, depois que o motorista e o ajudante foram abordados, na altura do viaduto Lobo Júnior, na Penha. No local, os policiais foram informados que um militar aposentado da corporação presenciou um homem armado ameaçando as vítimas. O suspeito fugiu pela Avenida Brasil, sentido Centro, e o caso foi encaminhado para a 21ª DP. As investigações estão andamento para apurar a autoria do crime e esclarecer todos os fatos. 
O motorista relatou que a todo momento, sofreu ameaças. "Você está ali indefeso, sem nada, com um dentro da cabine e você não sabe o que vai acontecer. Ele o tempo todo com a arma na mão, falando para não fazer nenhum gesto, não abrir nenhuma porta do veículo, porque ia bloquear e eles iam ter reação", disse ele. "É um pânico, porque ele está com a arma apontada para você o tempo todo, mandando seguir e você não sabe para onde vai. Você está ali com eles, rezando para que uma viatura apareça para te tirar da situação, graças a Deus, apareceu um segurança que percebeu", completou. 
Um assaltante chegou a dizer que era trabalhador, não queria problemas e nem roubar o caminhão, apenas a carga. Há 7 anos, o motorista foi vítima de um roubo de carga, na Vila Kennedy, Zona Oeste, e lamentou que os casos continuam acontecendo. "É precário, você sai de casa sem saber se vai ser roubado, se vai voltar, porque o Rio de Janeiro não tem jeito mais. Infelizmente, está do jeito que está e é difícil, o efetivo (de policiais) é pequeno para muita coisa. Não tem condição nenhuma da gente trabalhar assim. Hoje eu nasci de novo, mais uma vez", lamentou. 
Apesar do medo, o homem disse que vai continuar trabalhando como motorista, já que é seu único meio de sustento. "Isso é o dia a dia, já estamos acostumados com o Rio de Janeiro, porque o Rio de Janeiro está assim. Você não pode falar: "estou com trauma, não vou trabalhar mais". Como você não vai trabalhar? Esse é o dia a dia, se você não trabalhar, vai morrer de fome. Se você trabalha de pedreiro, servente, caminhoneiro, você vai sofrer esse tipo de repressão".