A 57ª DP (Nilópolis) investiga o crime de injúria contra uma adolescente de 12 anosDivulgação

Rio - Uma menina de 12 anos está sendo vítima de gordofobia nas redes sociais, após ser filmada andando de moto com o pai, em Nilópolis, na Baixada Fluminense. Os pais da adolescente denunciaram o crime na 57ª DP (Nilópolis), que registrou o caso como injúria. A distrital já iniciou as investigações para identificar o responsável pela gravação e quem foi o propagador do conteúdo nas redes. Pessoas que compartilharam o vídeo, publicado sem a permissão dos pais da menina, também podem ser citadas na investigação. 
Nas imagens, gravadas no último dia 10 de junho, é possível ver a menina na garupa da moto do pai. Na gravação, o autor do vídeo diz: "Qual é, tropa? Olha isso. Cinco reais ou um amortecedor misterioso?". Nos comentários, mais pessoas reforçam o crime de injúria: "Esses passageiros acima de 250 quilos deveriam pagar a corrida e uma taxa de gordometragem"; "Uber guincho", "R$ 5 ou um mamute misterioso?"; "moto não foi feita para transportar toneladas", dizem alguns comentários criminosos. 
Abalado e inconformado com a crueldade dos julgamentos referentes ao corpo da filha, o pai da adolescente, Gláucio Serrão, conversou com o DIA nesta segunda-feira (24). Ele afirma que o seu objetivo é encontrar o responsável pela gravação, além da punição de todos os envolvidos para que o conteúdo viralizasse. 
"A gente fica bem abalado, acha que não vai acontecer com a gente. Eu sei que o Brasil é um país preconceituoso e racista, mas eu e a minha mulher estamos tentando criar uma pessoa de bem, que não vai se meter em drogas, com crimes. Aí, sem mais nem menos, um atoa pregou uma peça na gente e nos pegou despreparados", conta.
Ao ser informada pelo pai da repercussão do vídeo, a adolescente chorou bastante e ficou uma semana sem ir à escola, com medo de sofrer mais ataques. "Sentamos com ela e conversamos. Explique que uma pessoa filmou a gente voltando da escola e que os comentários não estavam muito legais, que estavam comentando sobre o peso dela. Ela chorou muito", lembra Gláucio.
Em desabafo, o pai da menina diz que essa não foi a primeira vez que a filha foi vítima de gordofobia. Na escola, o bullying em relação ao corpo da adolescente é constante. "Nós sabemos que as brincadeiras maldosas na escola existem. Na nossa época, por exemplo, tinha muito disso, mas também sabemos que nos tempos de hoje o bullying ficou ainda mais sério, perigoso. Por isso, levamos o documento da ocorrência na escola para informá-los sobre o que estava acontecendo. Estamos tentando protegê-la para isso não ser comentado na escola também", diz o pai.
Somente em uma publicação, o vídeo conta com cerca de 40 mil visualizações, 8,6 mil comentários e 1,1 mil compartilhamentos. Os pais da menina dizem que não sabem mensurar quantos perfis publicaram o vídeo. "Dessa vez foi com a minha filha, mas depois pode ser o filho de outro. Às vezes a pessoa está sofrendo do mesmo crime e passa por isso calado. Eu disse que vou encontrar quem fez isso", concluiu.
A injúria em razão do peso da vítima é considerada injúria comum, com pena de um a seis meses de prisão, ou multa, conforme previsto no Código Penal.

Segundo um  levantamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), mais de 60% da população no Brasil é considerada gorda ou obesa. Ainda segundo o levantamento, publicado em 2022, um total de 85,3% dos participantes da pesquisa relatou ter sofrido constrangimento por causa do seu peso. Quanto maior o grau de obesidade, maior o relato de constrangimento. Vale observar que quase 100% das pessoas com grau III de Obesidade relataram sofrer algum tipo de constrangimento.