Ruas na Ilha do Governador têm ficado no escuro com frequência nos últimos dias (Acervo pessoal)

Depois de mais um dia de reclamações de moradores da Ilha do Governador, na Zona Norte, sobre recentes oscilações no fornecimento de energia elétrica, a Light emitiu na noite desta terça-feira (23) uma nota listando o que tem feito para tentar restabelecer o serviço na região. No entanto, alguns moradores ainda reclamam que estão às escuras.
Morador do bairro Ribeira, Marcelo Cruz diz que os problemas vinham sendo pontuais desde janeiro até se tornarem mais frequentes no último dia 14. Já na quinta (18), a situação piorou de vez: "Ficou insuportável".
Segundo ele, a queda de energia começou na quinta (18), às 7h30. Após uma retomada por volta de meio-dia, voltou a faltar à noite, para retornar só no fim da tarde de sexta (19) – alguns bairros só tiveram energia novamente no sábado (20), quando toda a região sofreu com oscilações.
Já no domingo (21), o fornecimento foi interrompido mais uma vez às 17h, sendo reiniciado de madrugada. Na segunda, faltou às 18h e voltou às 23h. E nesta terça, a luz se foi às 17h e retornou às 20h.
Tal panorama, inclusive, estaria afetando não só a Ribeira, mas toda a Ilha do Governador: “Todas as regiões vêm sofrendo. Parece um rodízio”, observa Marcelo, contando que recebeu relatos de falta de luz na noite desta terça em bairros como Tauá, Zumbi e Bancários.
NOTA DA LIGHT
A pedido da reportagem de O DIA, a concessionária enviou uma nota na qual destaca seus esforços para restabelecer o fornecimento em toda a Ilha do Governador e Paquetá, que também sofre com o problema há alguns dias.
A Light fala que nesta terça, a Ilha conta com "100% da carga de energia provenientes de três circuitos de média tensão" e "153 geradores instalados entre as duas subestações e alguns trechos dos bairros". Mais 12 geradores tendem a ser instalados até esta quarta (24).
A empresa também enfatiza uma escala de "24x7 com mais de 330 profissionais técnicos que estão varrendo toda a rede e identificando pontos de reforço e executando os reparos preventivos”.
O texto, entretanto, não deixa claro se o fornecimento de energia foi totalmente retomado na Ilha do Governador. Um trecho da nota informa que "em alguns casos, a carga dimensionada nos geradores para um grupo de clientes não é suficiente devido ao alto número de ligações clandestinas que estão na rede". 
TRANSTORNOS
Em postagens na rede social X (antigo Twitter), nos últimos dias, há diversas reclamações por parte de moradores de distintas localidades: “Difícil de entender, mas continuamos sem luz na Ilha do Governador”, disse uma usuária.
Outra diz que está “mais um dia sem luz” na Estrada do Dendê. Um morador reclama que está “incontáveis vezes ficando sem luz”, enquanto outra afirma que está se “sentindo no apocalipse”.
O morador Marcelo Cruz, da Ribeira, conta que tem pais idosos que sofrem com as insistentes quedas de energia no bairro: “Eles têm 90 e 84 anos. E não podem sair para ir a um médico porque não podem subir ou descer escadas por problemas motores, e o elevador do prédio está sem energia”.
Ele diz que o serviço picotado da Light o afeta ainda profissionalmente: “Ficou impossível trabalhar em home office na Ilha. Quando falta energia por muito tempo, as antenas de celular perdem a carga, e ficamos incomunicáveis. Sem celular e sem internet, como trabalhar e viver hoje em dia?”.
Outra preocupação de Marcelo é perder eletrodomésticos com o vai e vem da energia: “Para ressarcir prejuízos, a Light exige nota fiscal. Mas temos aparelhos com oito, dez anos de uso. Não guardamos notas após a garantia expirada. E como reaver se eles exigem algo de anos atrás?”.
MULTA
Procurada pela reportagem, a Procuradoria Geral do Município do Rio comunicou que ajuizou na segunda, na 7ª Vara de Fazenda Pública da Capital, uma Ação Civil Pública. O documento solicita à Light o restabelecimento da energia elétrica em casas, ruas, semáforos e equipamentos de saúde e educação da Ilha, sob pena de multa diária de até R$200 mil, além do pagamento de R$ 10 milhões por conta de danos morais coletivos causados pela empresa.
Na semana passada, o Procon Carioca já havia aplicado uma multa de R$ 13,6 milhões à Light pelos mesmos problemas.
A reportagem não conseguiu contato com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).