Rio - O menino de 13 anos, que morreu ao ser baleado no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte, na madrugada desta segunda-feira (5), era aluno de uma escolinha de futsal de um projeto social da comunidade e sonhava em ser jogador de futebol. Seu último aniversário teve como tema o craque argentino Lionel Messi.
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O coletivo 'Macacos Vive' postou um vídeo mostrando momentos do adolescente com colegas e professores. A vítima era apaixonada pelo Flamengo e usava suas redes sociais para gravar vídeos de dança.
"Eu faço parte do coletivo, que é muito importante para mim. Eu estudo para vir jogar futebol. Se eu não estudar, vai chegar lá na frente e eu não vou saber nada", disse o menino no vídeo.
Nas imagens, G.S. de A. aparece interagindo em diversas atividades, como montagem de cubo mágico, leitura e treinando chutes ao gol. Clarissa Alves, uma das professoras do adolescente, comentou que o menino era uma pessoa alegre, que contagiava a todos.
"Um aluno que sempre trouxe muita alegria e inspiração para todos nós. Sentiremos muita falta do seu sorriso e de sua presença iluminada", escreveu.
Vanessa Brandão, prima da mãe da vítima, que também foi baleada durante o tiroteio, lamentou a perda do familiar. "Meu pequeno, por que você? Cheio de sonhos, um menino tão alegre e tão educado. Sua família chora muito. Que dor estamos sentindo. Eu não acredito nisso, que você partiu dessa forma. Eu te amarei para sempre, meu amor", postou.
O sepultamento do adolescente será realizado na tarde desta terça-feira (6) no Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi, na Zona Norte. O velório está marcado para começar às 14h e o enterro às 16h30.
Maria Joanice Sousa de Melo, mãe do menino, está internada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte, após também ser baleada no Morro dos Macacos. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), seu quadro é considerado estável.
A Organização Não Governamental (ONG) Rio de Paz informou que já contabilizou 110 mortes de crianças e de adolescentes, de 0 a 14 anos, negras e de comunidades, por arma de fogo, desde 2007, quando iniciou o acompanhamento dos casos. A maioria das vítimas é por bala perdida.
"É essa a realidade das famílias pobres das favelas do Rio de Janeiro: confrontos sem fim que matam cada vez mais pessoas, incluindo nossas crianças, resultado de uma política de segurança que mata, em sua maioria, moradores de favelas. O nome de G. será colocado em nosso mural, na Lagoa, onde mantemos um memorial sobre nossas crianças mortas", diz o comunicado.
Morte de entregador
Além do menino, o entregador Luiz Gabriel Costa de Jesus, de 20 anos, também morreu baleado. Ambos chegaram a ser socorridos e levados para o Hospital Federal do Andaraí, mas não resistiram.
Familiares da vítima estiveram no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, em busca de reconhecer e liberar o corpo. Larissa Nascimento, prima de Luiz Gabriel, contou que o jovem trabalhava como entregador de farmácia há cerca de dois meses e voltava do trabalho quando foi atingido.
"Ele estava passando [no local] com um outro menino com quem trabalhava e tomou um tiro na cabeça. Ele ainda estava com o uniforme de trabalho", disse.
Luiz Gabriel deixa mulher e uma filha de sete meses, com quem morava na comunidade. Segundo a prima, o emprego do jovem era para pagar as despesas da família.
"Ele era um menino novo, alegre, uma criança. Estava todo bobo que estava trabalhando, pagando o aluguel dele, sustentando a família. Ele morava com a mulher e com a filha de sete meses. A família está desolada, minha tia [mãe do jovem] não consegue nem andar. Hoje cedo foi para o hospital com a pressão alta", expôs.
Ainda não há informações sobre seu sepultamento.
Testemunhas informaram que Luiz e o adolescente foram baleados por criminosos que entraram no Morro dos Macacos atirando em direção a uma festa. O ataque teria relação com a disputa pelo território entre o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP), que controla a comunidade.
As mortes são investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) De acordo com a Polícia Civil, as diligências estão em andamento para identificar a autoria dos disparos e esclarecer as circunstâncias dos fatos.
Barricadas feitas com pedaços de madeira, pneus, caçambas e sacos de lixo foram colocadas na entrada do túnel e incendiadas para impedir o trânsito no local. As ruas fechadas pela manifestação, além do túnel, foram a Visconde de Santa Isabel e a Torres Homem.
De acordo com Centro de Operações Rio (COR), o túnel foi interditado em ambos sentidos por volta das 12h40. No trânsito, a alternativa para os motoristas no sentido Vila Isabel, foi utilizar a Marechal Rondon. Já no sentido Jacaré, a Visconde de Santa Isabel.
Por conta dos protestos, comércios do bairro fecharam as portas mais cedo. De acordo com a Polícia Militar, equipes atuaram para estabilizar a região e restabelecer o fluxo na via. O policiamento foi reforçado na região. Não houve registro de prisões nem de apreensões.
O túnel foi liberado nos dois sentidos por volta das 13h40. Equipes da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) foram acionadas para limpeza dos trechos.
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