Carlos Esquivel sonha em reconstruir o espaçoArquivo Pessoal / Mauricio Machado
Moradores do Pavão-Pavãozinho criam 'vaquinha' para reerguer biblioteca destruída no incêndio
O local era frequentado por crianças da comunidade, que tinham acesso a livros e atividades
Rio - O incêndio que aingiu uma área de mata no Complexo Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, comunidade em Copacabana, na Zona Sul, nesta quarta-feira (7), destruiu uma biblioteca infantil. O fogo transformou em cinzas mais de mil livros. Moradores fizeram uma 'vaquinha' para ajudar a reconstruir o espaço.
A biblioteca é fruto de um sonho do grafiteiro Carlos Esquivel, de 45 anos. A ideia era levar cultura para um local, como descrito pelo artista, de difícil acesso. Nasceu com apoio e suporte da associação de moradores do complexo e recebeu o nome 'Ninho de Águias'.
"Reuni os moradores para desenvolver ações de reciclagem de lixo, produzindo artesanato e o descarte adequado. Percebemos que o nosso efetivo era, na maioria das vezes, composto por crianças. Esses encontros se tornaram oficinas de artesanato. Daí, tornou-se uma cooperativa de artesanato reciclado. Tive a ideia, com a minha esposa, de fazer um projeto social local. Para que a gente pudesse continuar fomentando cultura aqui", disse ao DIA.
O grafiteiro estava na rua, próximo ao morro, quando foi surpreendido pela fumaça. Ao chegar lá em cima e ver o estrago, ele até tentou lutar contra as chamas que estavam se alastrando, mas foi tomado por um sentimento: aceitação.
"Corri para tentar entrar mas o fogo não deixou nem entrar no caminho, haviam fios de luz explodindo e a fumaça estava me deixando cego, não tinha nem como respirar. Então, eu recuei e me conformei com a expectativa de perder tudo. Parecia um vulcão entrando em erupção", lembra Carlos.
O vice-presidente da associação de moradores do Complexo Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, Sávio Soares lamentou a perda do espaço: "Era uma biblioteca 0800, onde as crianças podiam ter acesso à vontade, usufruir de tudo que existia lá dentro. Livros, brincadeiras... Ficou tudo destruído, tudo danificado, não tem nada".
Sopro de esperança
Em meio ao caos e a dor de ver tudo que construiu se transformando em poeira, Carlos chegou a tentar ajudar os bombeiros que atuavam no local. Com acesso pela casa do vizinho, ele conseguiu pegar água em um reservatório de dois mil litros na sua casa, que fica ao lado da biblioteca.
"O fogo já estava pegando em vários outros locais, mas eu tinha dois mil litros de água caixa, conseguimos acesso à casa pela laje do vizinho e acessar essa água, para apagar o fogo que estava no telhado, que é de telha de caixa de leite reciclado. É super inflamável", explica o motivo do incêndio ter se alastrado.
O fogo consumiu tudo que tinha dentro do espaço, além de um projetor, uma TV, um computador, uma impressora, telescópio, som, cafeteira, materiais escolares e cerca de 1500 livros. Além disso, a estrutura do espaço ficou totalmente abalada. Para reescrever essa história, Carlos, com apoio de moradores, abriu uma vaquinha on-line.
"Eu tenho plena consciência do que estamos construindo aqui, é a memória na cabeça dessa nova geração que nunca vai esquecer o que eles estão presenciando", finaliza.
As chamas atingiram a mata e a comunidade da Zona Sul por mais de cinco horas. Um bar anexo a um mirante também foi destruído pelas chamas, o local seria oficializado como um ponto turístico da cidade. Ninguém ficou ferido.
Para ajudar na vaquinha é só acessar este link ou doar qualquer quantia para o pix: 5010992@vakinha.com.br.
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