Fachada da Colônia Juliano Moreira, na TaquaraReprodução / Google Street View

Rio - Cariocas terão a oportunidade de realizar um passeio cultural gratuito para conhecer a história da Colônia Juliano Moreira, na Taquara, Zona Oeste do Rio. O evento, organizado pelo projeto Rolé Carioca, marca os 100 anos do antigo manicômio, que também já foi um engenho de açúcar. Com classificação livre, a visita vai acontecer neste sábado (24), a partir das 9h.
A programação inclui um passeio pelo Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, que abriga a produção artística dos pacientes do manicômio - que encerrou as atividades em 2022. O roteiro inclui, ainda, visitas ao Núcleo Histórico Rodrigues Caldas (NHRC) e ao Núcleo Ulisses Vianna, espaço onde esteve internado o artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1909-1989).
Com objetivo de estimular um olhar atento sobre os patrimônios históricos da cidade, o passeio será como uma aula, segundo os organizadores. Através de uma visita guiada, os colaboradores do projeto cultural vão contar a história do espaço. Todo o passeio terá tradução em libras.
"Ao caminhar por esses lugares de memória, os participantes podem adquirir, aprofundar e compartilhar conhecimentos. Esse contato com o patrimônio cultural é também um dos fatores que colaboram com a preservação e valorização dos bens históricos da cidade", afirma Beatriz Novellino, coordenadora de produção do Rolé Carioca.
O ponto de encontro será no Museu Bispo do Rosário, que fica na sede da Colônia Juliano Moreira, na Estrada Rodrigues Caldas 340. Para participar, não é necessário realizar inscrição. O interessado deve apenas comparecer no horário marcado. 
Quem foi Arthur Bispo do Rosario
O artista plástico Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, Sergipe, e chegou ao Rio em 1926. Nessa época, ele se alistou na Marinha de Guerra, onde permaneceu por nove anos. Logo depois, Bispo conheceu o advogado Humberto Leone e passou a residir em seu casarão na Rua São Clemente, em Botafogo, Zona Sul do Rio, onde se tornou um "faz-tudo" da família.
Foi lá que Bispo teve a revelação que mudaria sua vida. Na noite do dia 22 de dezembro de 1938, ele se viu descendo do céu, acompanhado por sete anjos. Após a visão, ele foi até ao Mosteiro de São Bento, no Centro do Rio, e se apresentou aos frades como "aquele que veio julgar os vivos e os mortos."
Devido a este relato, o julgaram como louco e o enviaram para o hospício da Praia Vermelha, sendo transferido para a Colônia Juliano Moreira. Ele então passou a viver no espaço, de onde chegou a fugir a até a receber alta. Porém, em 1964, permaneceu internado definitivamente.
Foi nas celas do Pavilhão 10 do Núcleo Ulisses Vianna que Bispo começou a bordar, enfeitando suas roupas e outros objetos como canecas, pedaços de madeiras, vassoura e garrafas. Depois de 18 anos internado, a arte feita por Bispo chamou a atenção de várias pessoas e ele conseguiu expor seus quinze estandartes durante mostra "Margem da Vida", no Museu de Arte Moderna (MAM).
Com sucesso da sua participação, ele chegou a receber outros convites para novas mostras. No entanto, aquela foi a primeira e única exposição que ele integrou em vida, pois não aceitava se separar de sua obra e não se considerava artista. Para ele, tudo era fruto de uma missão que um dia seria revelada no dia do juízo final.