Luiz Antônio do Nascimento na sala Jackson AntunesReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O ator e diretor Luiz Antônio do Nascimento, de 38 anos, inaugurou em agosto o primeiro teatro de rua do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Há 15 anos trabalhando com o ensino de artes cênicas, ele tem o sonho de fortalecer a atividade cultural na região, promovendo oficinas e espetáculos voltados, principalmente, para os moradores.
Luiz Antônio começou sua carreira aos 6 anos e, logo cedo, deu vida ao icônico Buscapé, da novela "O Cravo e a Rosa", da TV Globo. Para ele, a iniciação no teatro não tem uma idade ideal, mas ter começado a atuar tão jovem possibilitou um aprendizado que vai além dos palcos. 
"A arte, na minha vida, foi um chamado. Me salva e me dá oportunidade. Com 6 anos, fiz minha primeira publicidade e, depois, fui estudar interpretação para TV com a Silvia Pareja. Artisticamente, o quanto antes a gente puder começar, é maravilhoso. Só que o teatro não tem idade! A dona Maria, por exemplo, tem 94 anos e está super motivada por descobrir esse novo universo. É legal quando a criança já chega alfabetizada, mas, dos 4 aos 6 anos, a gente trabalha a parte lúdica, coordenação motora, prosódia… É um desenvolvimento que essa criança vai levar para a vida", diz o ator, citando uma aluna matriculada na primeira oficina do mais novo espaço cultural da cidade.
Ao lado da cineasta Livia Thaynara, com quem é casado há 11 anos, Luiz fundou o Teatro Moral da História, na Rua Maurício da Costa Faria.
O ator relata que, no início da carreira, morava em Jacarepaguá e precisava percorrer um longo caminho para chegar aos ensaios, em Botafogo. A oficina, segundo ele, vai além do aprendizado e foca no acolhimento dos jovens que moram em áreas mais vulneráveis.
"Entre 6 e 7 anos, eu tinha que me locomover e eram quatro ou cinco conduções para chegar ao destino, ainda não tínhamos os BRTs. A gente pode possibilitar um deslocamento de 10 a 20 minutos para as crianças aqui do entorno, como Terreirão, Cidade de Deus e Cesar Maia. Ainda tem um acolhimento: ela pode chegar e tomar um suco, uma água, se não estiver bem, podemos trazer um psicólogo… Aproximamos a arte da comunidade para as pessoas da região entenderem que podemos ter um equipamento super bacana. Estamos aqui para nossos alunos do terceiro setor entenderem que é um espaço para eles ocuparem", conta.
Luiz ainda ressalta que a localização do teatro promove integração entre jovens de diferentes classes sociais. O espaço conta com oficinas pagas e gratuitas. "O mais gostoso é termos alunos do terceiro setor trocando com alunos do primeiro, porque essa troca cultural é o que vai fazer com que a gente tenha uma transformação direta. Nossa ideia é trazer união, igualdade. Os espetáculos são pagos, temos valor promocional, e também temos feito ações com ONGs e crianças carentes do entorno, com sessões gratuitas." 
Como todas as salas de teatro têm um nome, Luiz não teve dúvidas em homenagear o ator Jackson Antunes, com quem contracenou na novela "A Padroeira", da TV Globo, que foi transmitida entre 2001 e 2002. A partir daí, os dois firmaram uma amizade que culminou em aprendizados e uma promessa: o diretor afirmou que, um dia, teria a honra de retribuir todo ensinamento que Jackson o proporcionou.
"Ele faz parte de toda a nossa trajetória ao longo desses 15 anos. O Jackson e a dona Laura Cardoso me ensinaram a chorar em cena, me acolheram de uma forma muito especial. Desde então, eu não desgrudei mais dele", revela.
Luiz conta que o primeiro mês do Moral da História foi um sucesso, lotando a sala com capacidade de 60 pessoas em todos os espetáculos. Durante a semana, o espaço promove oficinas de teatro, canto e coral. Em breve, haverá cursos de dança de rua, corte e costura e fotografia, demandas de seus alunos.
Para os interessados em participar das oficinas, as inscrições são feitas pelo site moraldahistoria.com.br. O curso de teatro e interpretação em TV tem turmas para pessoas a partir de 4 anos. Já as aulas de canto e coral são destinadas para o público maior de 18 anos. Não há limite de idade em nenhuma das oficinas, que têm duração de seis meses e contam com certificado de conclusão.