Presidente Lula e outras autoridades participam de evento que celebra retorno do Manto Tupinambá ao BrasilReginaldo Pimenta / Agência O Dia
"Rapaz, muita energia positiva, né? Primeiramente, temos que agradecer a Deus e segundo a nós mesmo. Estamos aí em resgate do nosso território. A gente quer resgatar essa terra”, disse.
Para Rubens de Francisco de Araújo, o objeto sagrado não deveria nem ter saído do país. “Nós viemos de Ilhéus, de um lugar chamado Olivença. A gente que é dono, ele é nosso”, citou em meio a comemoração.
Segundo a antropóloga Jade Lobo, de 27 anos, a devolução do manto ao Brasil significa uma grande vitória para o povo Tupinambá.
"É um reconhecimento da história ancestral do povo Tupinambá, ancestral de Olivenças. Eu sou antropóloga, então saber a trajetória, a dificuldade que foi desde os primeiros meios enviados para o museu, desde a história, do reconhecimento e ver que estão sendo validados é fundamental. É a concretização de um sonho. Eu espero que hoje sinalize uma demarcação de território”, destacou.
"Eu vejo esse momento de hoje como extraordinário para que a gente reflita sobre o que acontece no nosso Brasil desde a descoberta em 1500. Ao longo da nossa história, diversos itens tradicionais atravessaram fronteiras e foram habitados nos centros europeus e em outros cantos do mundo. Esses objetos guardam crença, memória e tradições", explicou.
Lula ainda reforçou que o lugar do manto é na Bahia, terra do povo Tupinambá.
"Ele está no Museu Nacional, mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Nosso governador da Bahia tem a obrigação e o compromisso histórico de construir um lugar que possa receber esse manto, que tem uma dimensão espiritual para o povo Tupinambá. Para nós é uma obra artística de rara beleza, mas para os Tupinambás é uma entidade, um ser espiritual que retoma a ancestralidade para promover a cultura de todo povo. O retorno oficial desse manto para o Brasil representa uma retomada histórica que foi apagada, que precisa ser contada e preservada", disse.
Por fim, o presidente também teceu elogios ao manto. "É impossível não conhecer a beleza e força dessa peça centenária, tão bem conservada, mesmo depois de tanto tempo fora do Brasil. É nosso compromisso cuidar da preservação em condições desse patrimônio que é de todos nós, mas especialmente do povo Tupinambá. O reconhecimento dos povos originários são prioridades no meu governo", completou.
Para Ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara, o manto é mais que um ato simbólico, pois comunica a importância da conexão entre indígenas e a ancestralidade.
"Para os povos originários, essa vestimenta espiritual liga o passado ao presente. Representa resistência dos saberes. Essa virada histórica que nós estamos vivenciando nesse espaço tão fundamental para preservação da nossa memória, acompanhando a recuperação do Museu Nacional aqui no Rio de Janeiro, faz parte de um movimento intergovernamental para recuperação das culturas e da luta pela preservação da nossa memória e dos nossos saberes tradicionais”, disse.
"Artefatos indígenas são bens culturais e históricos que contam a nossa história e sobretudo são bens sagrados para os povos indígenas no nosso país. O retorno desses bens tem mobilizado o poder público, pesquisadores e a sociedade civil. Este ano, o Brasil recebeu outras valiosas peças culturais de volta. Após 20 anos na França, 585 artefatos indígenas retornaram ao Brasil. O conjunto desses objetos provêm de mais de 40 etnias e nós vamos seguir este esforço pela repatriação e pelo retorno desses bens ao nosso país", acrescentou.
Uma das lideranças indígenas, a cacique Kawany Tupinambá, disse também que o manto é um símbolo de força e união.
"Invadiram nosso território saqueando as nossas riquezas para enriquecer as nações europeias. A ambição permanece até hoje. Matam os nossos lagos e nascentes, queimam nosso ambiente, exterminam nossa fauna. Querem tomar tudo de nós", criticou.
O manto é uma peça com cerca de 1,20 metro de altura, por 80 centímetros de largura. Considerado uma entidade sagrada pelos Tupinambá, é confeccionado (em sua maioria) com penas de guarás, mas também com plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas. A peça teria sido levada à Europa por holandeses, por volta do ano de 1644.
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