Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos em março de 2019 e vão a julgamento no próximo dia 30 de outubro pelos assassinatosFotos: divulgação / polícia civil

Rio - A Justiça do Rio, através do 4º Tribunal do Júri do Rio, marcou para o dia 30 de outubro o julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados pela execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A data do júri popular dos dois ex-policiais, que confessaram o crime e estão presos desde março de 2019, foi decidida nesta quinta-feira (12), durante reunião no Fórum Central do Rio.

O encontro contou com a presença do juizado, Ministério Público, assistentes de defesa e acusação dos réus. Durante a reunião, ficou decidido ainda que os depoimentos previstos do delegado Giniton Lages e do policial civil Marco Antônio Barros Pintos não serão colhidos durante o dia de julgamento.

O juiz Gustavo Kalil, titular do 4º Tribunal do Júri, responsável por presidir o julgamento, foi quem comunicou a decisão. O magistrado também definiu que comparecerão no plenário apenas os participantes do júri. A ideia é evitar aglomeração e tumulto no local.

A defesa de Lessa, que terá 10 dias para apresentar as provas orais, conseguiu aprovação para que o ex-PM faça uma entrevista no dia anterior ao julgamento, com o objetivo de acelerar o início da sessão. O executor está preso atualmente no presídio de segurança máxima de Tremembé, no interior de São Paulo.

Depoimentos divergentes

Élcio de Queiroz e Lessa foram ouvidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e deram versões conflitantes para a execução da vereadora. Um dos principais pontos de divergência entre os depoimentos foi a arma utilizada no crime, uma submetralhadora MP-5 de calibre nove milímetros.
Lessa afirmou que recebeu a arma de Edmílson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, e que ela foi adquirida através de Robson Calixto da Fonseca, o Peixe, assessor de Domingos Brazão. Élcio, por outro lado, declarou que a MP5 pertencia a Lessa e foi comprada meses antes do crime.

Outro ponto de discordância surgiu sobre a motivação do crime. Élcio afirmou ter ouvido de Lessa que o assassinato tinha um caráter "pessoal", mas não soube especificar qual seria essa motivação. Por outro lado, Lessa afirmou que estava perseguindo Marielle há meses e que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão teriam infiltrado um informante no PSOL para obter detalhes sobre a vereadora.

Relembre o caso

Preso desde 2019, o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, citou o nome do deputado federal Chiquinho Brazão (União) e do irmão, Domingos Brazão, em sua delação premiada, homologada nesta terça-feira (19) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Uma das principais linhas de investigação sobre o caso está relacionada a uma disputa por terrenos na Zona Oeste. Em depoimento, Lessa teria informado que Marielle virou alvo depois de defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.

De acordo com as investigações, o mandante do crime que deu fim a vida de Marielle e Anderson estaria buscando a regularização de um condomínio em Jacarepaguá sem considerar o critério de área de interesse social. O objetivo seria transformar a propriedade em especulação imobiliária.