Seminário Cidades Verdes debate transição energética nas cidades
Oito painéis foram apresentados com temas relevantes, como o reúso da água, a eletrificação dos transportes urbanos e o futuro dos combustíveis fósseis
Evento contou com oito painéis em dois dias - Divulgação
Evento contou com oito painéis em dois diasDivulgação
Rio - A 9ª edição do Cidades Verdes reuniu, nos dias 16 e 17 de setembro, no Centro de Convenções Firjan, mais de 40 gestores e especialistas para discutir "A Transição Energética e as Cidades". Organizado pelo Instituto Onda Azul, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o evento contou com representantes da academia, da iniciativa privada, do poder público e da sociedade civil para debater os caminhos e soluções para a transição energética de baixo carbono nas cidades.
Sempre dedicado a olhar para o futuro, o Seminário Cidades Verdes 2024 trouxe à tona os desafios reais das cidades que hoje enfrentam um caminho sem volta em direção a se tornarem espaços que contribuem significativamente para o enfrentamento das mudanças climáticas e o bem-estar de seus habitantes. Isso só será possível com iniciativas urgentes de descarbonização de seus ambientes.
Durante dois dias, oito painéis foram apresentados com temas relevantes, como o reuso da água, a eletrificação dos transportes urbanos e o futuro dos combustíveis fósseis. Foram 16 horas de transmissão em tempo real pelo YouTube do Instituto Onda Azul, além de mais de 500 pessoas presentes no local, com o objetivo direto de alinhar os eixos de desenvolvimento sustentável das metrópoles às práticas ESG e à Agenda 2030.
"O Cidades Verdes se tornou um espaço de convergência dos debates sobre as cidades do futuro e a construção de um mundo mais sustentável", afirmou André Esteves, diretor-executivo do Instituto Onda Azul. "Este ano, vamos focar nos esforços que cidades do mundo todo estão fazendo, ou deixando de fazer, para descarbonizar suas economias, não apenas nos transportes públicos, mas em diversos setores."
"Transportes sem emissões, meta da Missão 1.5" foi o tema da primeira mesa da conferência, no dia 16, com especialistas discutindo "o que é necessário para eletrificar os transportes", incluindo a garantia de pontos de recarga pela cidade e o papel dos biocombustíveis, considerando que sua extração não cause mais desmatamento. O painel contou com a presença de representantes da Coppe/UFRJ, Firjan, ITDP Brasil e Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro (Semove). "Não adianta ter ônibus elétrico se as pessoas ainda preferem o automóvel", destacou Guilherme Wilson, gerente de Planejamento e Controle da Semove.
Em seguida, a conferência debateu "O papel do cidadão comum na eficiência energética", com foco na busca por equipamentos menos poluentes e mais eficientes, como no caso do tratado assinado pelo Brasil para banir gases mais poluentes em aparelhos de refrigeração. Na mesa seguinte, "Impacto positivo: como a indústria pode e deve se envolver", representantes da Agenersa e de corporações como Braskem e Volkswagen discutiram a mudança cultural das empresas em busca de liderança na economia limpa.
A última mesa do primeiro dia abordou o tema "Reuso da Água e as Cidades Inteligentes". Ana Asti, subsecretária de Recursos Hídricos e Sustentabilidade do Estado do Rio de Janeiro, anunciou que, no final de outubro, será divulgado um estudo encomendado pelo governo à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que trará recomendações para que o Rio de Janeiro se torne uma metrópole inteligente — e azul, segundo a definição dela — do ponto de vista dos recursos hídricos, além de sugerir meios de financiamento para tal.
"É complexo porque são diferentes atores envolvidos, já que a água não conhece fronteiras. Bebemos aqui uma água que nasce em São Paulo", exemplificou. Para Leonardo Soares, diretor de Assuntos Corporativos da Iguá Saneamentos, "o Rio vive uma falsa sensação de disponibilidade contínua e abundante de água". Ele ressaltou que "nosso sistema de estações de tratamento de esgoto não é desenhado com a conformação necessária para produzir água de reuso".
"Modelos de negócios para a transição energética das cidades" foi o tema da primeira mesa do segundo dia, seguido pela mesa que discutiu "O impacto socioambiental das diversas formas energéticas", com participação de representantes da UFF, consultoria Mercurio Partners e André Osório, chefe de gabinete da presidência da Eletronuclear, que destacou o papel da estatal no armazenamento de energia nuclear: "A questão do armazenamento já foi muito complexa, mas hoje não é mais".
Segundo ele, os depósitos das centrais estão "quase lotados", mas a instalação do Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena) será essencial para dar sobrevida de cerca de 20 anos às geradoras de energia e suprir a necessidade de espaço para armazenamento de resíduos que devem ser gerados por Angra 3.
O terceiro painel do dia, "A era dos combustíveis fósseis está realmente no fim?", refletiu sobre o uso e o futuro desse combustível, ainda predominante nas grandes cidades. O economista Sérgio Bessermann, presidente do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, foi taxativo: "Temos que abandonar definitivamente os fósseis." Bessermann alertou que "o carro está nos levando para um aumento de 2,7 graus, mesmo se as metas do Acordo de Paris forem cumpridas. E se não forem?", questionou. "A probabilidade de extinção da espécie humana, embora pequena, existe."
Fechando o Seminário Cidades Verdes, o último painel, "O presente e o futuro do hidrogênio de baixa emissão de carbono", destacou a urgência da transição para outras fontes de energia limpa, diante da calamidade climática enfrentada por vários países, inclusive o Brasil. Amanda Ohara, coordenadora da Iniciativa Energia e Amazônia do Instituto Clima e Sociedade (ICS), enfatizou o desafio inédito da história.
Andrea, da Coppe/UFRJ, sugeriu mais pressão sobre os governos para o abandono dos fósseis: "Precisamos usar a COP30 para pressionar pelo fim dos combustíveis fósseis. A comunidade científica está muito preocupada", afirmou. A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas acontecerá em novembro de 2025, em Belém.
O Brasil tem potencial técnico para produzir 1,8 bilhão de toneladas de hidrogênio por ano, o que pode ser um caminho estratégico para a transição energética do país, conforme concluíram os especialistas no painel "O presente e o futuro do hidrogênio de baixa emissão de carbono". Danielle Valois, da Associação Brasileira de Hidrogênio, destacou que diversos setores, como mineração e transporte pesado, podem ser beneficiados pelo hidrogênio.
"Precisamos agir para ter uma energia mais limpa, e o Brasil tem um enorme potencial para a produção de hidrogênio”" disse Danielle Valois.
Desde 2010, o Seminário Cidades Verdes discute temas variados de sustentabilidade e construção de consciência ambiental, sempre com um olhar voltado para as cidades. No encerramento, o diretor-executivo do Instituto Onda Azul fez um balanço sobre a essência do evento: "A alta participação, com quase 700 inscritos, mostra que as pessoas estão entendendo a importância deste evento, especialmente neste momento de emergência climática."
Em um momento emocionante, André Esteves relembrou as palavras do idealizador e ambientalista Alfredo Sirkis, falecido em 2020: "As cidades são a natureza transformada, para o bem ou para o mal", arrancando aplausos da plateia. A 9ª edição do Seminário Cidades Verdes contou com o patrocínio da Semove e Iguá, e apoio da Firjan, O DIA, Band News, Inea, Coppe/UFRJ, C40, Iclei, Anamma e FSFA.
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