Fachada do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona NorteReginaldo Pimenta / Arquivo Agencia O Dia
Servidores ocupam Hospital Federal de Bonsucesso em ato contra mudança de gestão na unidade
Manifestantes acusam nova administração de desviar recursos de clínicas da rede federal no Rio
Rio - Servidores do Hospital Federal de Bonsucesso ocupam, desde quarta-feira (2), as salas da direção da unidade de saúde, na Zona Norte do Rio. De acordo com os manifestantes, o ato é um protesto contra a mudança na gestão da unidade, além de desvio nos recursos dos hospitais da rede federal.
Desde abril deste ano, a gestão da unidade de Bonsucesso está sendo conduzida pelo Grupo Hospitalar Conceição, de Porto Alegre. A mudança gerou surpresa nos funcionários, uma vez que, segundo os servidores, não foi apresentado nenhum ofício do Ministério da Saúde ou qualquer outra autoridade que permitisse o acesso do grupo a importantes documentos reservados, que eram necessários para realizar a mudança.
Em entrevista ao DIA, a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev) Christiane Gerardo revelou que a manifestação começou após uma assembleia realizada pelos servidores, na manhã desta quarta, no qual eles tiveram conhecimento de uma planilha que apontava para um desvio de recurso na previsão orçamentária do hospital de Bonsucesso para o Grupo Conceição.
"O que está acontecendo são desvios de recursos públicos, desvios de finalidade na previsão orçamentária. Isso contraria o próprio estatuto do Grupo Conceição. Ao invés de ajudar, que é isso que falam, eles estão pegando nossos recursos", acusou.
Segundo o documento, mais de R$ 28 milhões foram transferidos para o Centro de Oncologia e Hematologia do Grupo Hospitalar Conceição, devido a uma necessidade de suplementação orçamentária sob a justificativa de expandir os serviços de radioterapia em unidades do Sistema Único de Saúde do Rio Grande do Sul.
As alterações de créditos foram solicitadas em 2023, durante a gestão de Helvécio Miranda Magalhães Júnior. Na época, o médico ocupava o cargo de secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde. Ele foi exonerado em março de 2024, após ser acusado de tráfico de influência na contratação de uma empresa para operar serviços em hospitais da rede federal no Rio.
De acordo com os manifestantes, a ato será permanente até que sejam recebidos pelo Ministério da Saúde. A dirigente sindical alega que cerca de 40 pessoas estão se revezando na ocupação do espaço. Ao todo, 10% do efetivo profissional está participando das manifestações.
"A gente está defendendo os serviços que prestamos à população. O hospital é uma referência e o que queremos é defender a garantia da manutenção desses serviços à população", explicou.
Embora todos os atendimentos estejam funcionando normalmente, Christiane reconhece que a ocupação pode impactar os serviços prestados. Para ela, é melhor trazer um prejuízo agora do que depois os serviços deixarem de existir.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que a ocupação do prédio é ilegítima, com cunho eleitoreiro, e que tomará todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis.
Segundo a pasta, as mudanças de gestão têm como objetivo a reestruturação dos hospitais federais do Rio, garantindo a eficiência dos serviços através de parcerias com outras instituições públicas, abrindo e ampliando a oferta de serviços à população, como o aumento de leitos e reativação do pronto-socorro.
O ministério afirma, ainda, que tem dialogado com sindicatos dos servidores, conselhos de saúde e demais entidades envolvidas. A reestruturação respeita os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e a legislação vigente.
Procurado pela reportagem, o Grupo Hospitalar Conceição ainda não se posicionou. O espaço segue aberto para manifestação.
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