Corpo de Emiliano Queiroz é velado no RioAnderson Bordê / AgNews

Rio - Em velório aberto ao público, fãs, amigos e familiares estiveram na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para se despedir do ator Emiliano Queiroz. O artista cearense morreu nessa sexta-feira (4) após uma parada cardíaca.
Após o velório, por volta de 17h, o corpo do ator chegou ao Cemitério do Caju, na Zona Portuária, para cerimônia de cremação restrita à família e amigos. 
Apesar do momento difícil, Maria Letícia, de 77 anos, viúva de Emiliano, ostenta um bom semblante. Na despedida, ela celebra quem o ator foi. "Emiliano era generoso, alegre. A família amava ele. E a família é grande, com 14 filhos, oito netos e três bisnetos", riu ela, que contou ao DIA como foram os últimos momentos do amado
"Ele estava com um problema no coração, chegou a colocar stents, mas não segurou muito. Antes, ele teve alta, ficou todo feliz, cantando no banheiro, enquanto o enfermeiro dava banho nele. Já em casa, ele estava bem, comeu bem... Mas de madrugada, ele acordou às 4h dizendo que queria tomar banho porque ia morrer. Às 7h30, ele passou mal e não resistiu", descreve Maria Letícia.
Emiliano e Maria Letícia tiveram, juntos, 14 filhos adotados. Deles, quatro eram filhos biológicos de uma comadre da mulher do ator. "Uma comadre minha me ligou dizendo que estava morrendo e que eu precisava ficar com os filhos dela. Como eu poderia negar? Seria uma cretinice. Mas eu já tinha 70 anos, com netos e bisnetos. Disse a ela que adotaria, mas como avó. Ela disse que não, que eles me chamariam de mãe. E o Emiliano ainda conversava com eles, dizendo que era o avôzinho deles. Mas eles diziam que se eu era mãe, o Emiliano era o pai", conta Maria.
Linda Aiane, de 18 anos, uma das filhas adotadas pelo ator, revela como Emiliano era: "Ele era muito alegre e companheiro em casa. E conseguia dividir a atenção igualmente para todos os filhos".
Prestando as últimas homenagens ao ator, a atriz Malu Valle celebrou a grandeza de Emiliano. "A minha história o Emiliano Queiroz e com outros atores da geração dele é de referência. Referência como atriz, como pessoa... Quando parte um Emiliano Queiroz, para mim é um mundo de referência que parte. Eu não tive a sorte de contracenar com ele, mas convivi em camarins. Eu acho que quando morre um ator, todos os atores e atrizes morrem um pouco. Então hoje eu também morri um pouco".
Daniel Dias da Silva, ator que contracenou com Emiliano no espetáculo "A Vida Não é Justa" em 2022, conta como foi trabalhar com o veterano: "Lembro que durante a peça, havia momentos em que nós dois não estávamos em cena. E era nessas horas que ele contava histórias, a gente ria. Ele era uma pessoa de muito bom humor, uma vitalidade, uma paixão pelo teatro. Era inspirador para todos nós. E as histórias dele eram sempre muito ricas e divertidas. Até em momentos dolorosos, como a ditadura, por exemplo, ele contava histórias, mas sempre com bom humor. E para nós, era uma aula de teatro".
Apesar de nunca terem trabalhado juntos, o ator Edwin Luisi ficou amigo de Emiliano quando saiu de São Paulo para o Rio. "Ele foi uma das primeiras pessoas que conheci, fazia parte de um grupo enorme de atores, e eu fiquei amigo dele. Depois a vida separou. Uma pena. O Emiliano tinha uma característica fantástica: ele era querido por todo mundo. Era agregador, simpático, doce, calmo. Eu não conheço uma pessoa que fale mal do Emiliano. Eu sei que quando alguém morre, as pessoas tendem a falar só coisas boas. Mas se eu tentasse lembrar alguma coisa ruim para falar do Emiliano, não teria. A minha lembrança é toda positiva sobre ele".
Colegas de cena em "Chocolate com Pimenta", Rosamaria Murtinho lembra como Emiliano tratava os companheiros de estúdio. "Minha lembrança dele é de um colega muito solícito. Ele atuava, mas também gostava muito de ajudar os outros que estivessem contracenando com ele. Isso é uma coisa rara. E foi muito bonito da parte dele".
Bastante emocionado, Tadeu Mello, que trabalhou com Emiliano diversas vezes, dedica sua carreira ao veterano. "Tenho tanta história com o Emiliano. Meu primeiro trabalho com ele foi a peça 'O Homem e o Cavalo', de 1990. Ali, ele me adotou. Ali, ele viu potencial em mim. Ele me via como um pardalzinho, muito inocente e fragilizado. E ficou atento em mim, e de lá para cá, foi só conquista. Ele me pariu como ator. Teve a paciência e a inteligência para me orientar na vida que nem meu pai teve. O ator que sou hoje devo a ele".
Morte de Emiliano Queiroz
Emiliano Queiroz morreu nesta sexta-feira (4) aos 88 anos. Ele estava internado há 10 dias na Clínica São Vicente da Gávea, na Zona Sul, após a colocação de três stents no coração. Após receber alta nesta quinta (3), o veterano teve uma parada cardíaca em casa e faleceu horas depois.
Segundo o produtor teatral Eduardo Barata, Emiliano acordou às 4h30, tomou banho e passou mal por volta das 6h. Uma ambulância o levou de volta ao hospital, onde sofreu uma parada cardíaca. "Ele foi entubado e reanimado, mas às 10 horas, faleceu", disse Barata.