Sara Regina Cardoso Coelho, 28, perdeu parte do instestino após ser baleada dentro do próprio carroArquivo Pessoal

Rio - Uma mulher foi baleada dentro do próprio carro, na noite desta quinta-feira (21), quando passava pela Rua Silva Rabelo, no Méier, Zona Norte do Rio. Familiares de Sara Regina Cardoso Coelho, de 28 anos, afirmam que policiais militares atiraram contra o veículo dela, mesmo sem ordem de parada. Entretanto, a Polícia Militar alega que um outro automóvel foi abordado e ocupantes do veículo reagiram, provocando um confronto que deixou a vítima ferida. Na manhã desta sexta-feira (22), ela permanece internada no Hospital Municipal Salgado Filho, no mesmo bairro.

De acordo com o irmão, Sara voltava para casa com o marido, após sair do Hospital Federal da Lagoa, na Zona Sul, onde a filha deles está internada há mais de 15 dias, por conta de uma infeção no sangue. Já no Méier, eles pararam em um sinal de trânsito e perceberam a movimentação de PMs a pé. Daniel Domingos relata que os policiais não abordaram o veículo ou deram ordem de parada e atiraram por trás do carro. Ao perceber os disparos, a mulher, que estava no carona, se agachou, mas acabou sendo atingida na barriga, momento em que o companheiro saiu do automóvel em direção aos militares, que a socorreram.

"Eles não abordaram, eles simplesmente acharam que era bandido, porque acho que eles já estavam atrás de alguém, e o carro do meu cunhado não é 'meia-boca', é um carro bacana, com vidro escuro, então simplesmente saíram atirando. Meu cunhado falou que eles vieram por trás atirando no carro da minha irmã, eles estavam a pé. É aquilo, (queriam) mostrar serviço, vai que é bandido, mesmo? (…) Infelizmente, é o Brasil que vivemos, não aconteceu só com a minha irmã, mas com várias pessoas", desabafou Daniel.

Segundo a Polícia Militar, equipes do 3º BPM (Méier) realizaram uma abordagem a um veículo do tipo sedan de cor branca, na Rua Silva Rabelo, quando os ocupantes reagiram e houve confronto. "No local, a passageira de um veículo próximo foi atingida e socorrida ao Hospital Salgado Filho", informou a corporação. Na unidade de saúde, segundo o irmão, ele e a mãe foram coagidos pelos PMs e um dos agentes chegou a dizer que o caso não era grave e que Sara logo poderia ir para casa.

"'Foi só um 'negocinho' aqui (na barriga), nada de mais. Ela vai ser atendida, vai fazer um hemograma, um raio-x, vai para casa e toma dipirona'. Foi isso que eles falaram e depois ficaram bebendo refrigerante como se nada tivesse acontecido. Eu fico pensando se quando eles levam tiro, se falam para eles mesmos que é só um 'negocinho' na barriga, para tomar dipirona", se queixou o irmão. A família contou que Sara foi atingida por um tiro que atravessou o corpo, além de estilhaços, e precisou passar por uma cirurgia em que parte do seu intestino foi retirado.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o quadro de saúde dela é considerado estável. O irmão da vítima disse também que ela está lúcida e se comunicando, mas que tem sentido muitas dores. "'Tô' sofrendo com muita dor, parece até que vou morrer", disse Sara em uma troca de mensagens com Daniel. Os familiares agora querem acesso às imagens das câmeras corporais dos PMs, para provarem que não houve confronto, abordagem ou ordem de parada. "A gente só quer justiça, que eles paguem de alguma forma pela incompetência deles, porque não é assim, não é sair atirando. É um despreparo absurdo".

Sara é mãe de quatro filhos de 1, 5, 8 e 12 anos, e se preparava para comemorar o aniversário de uma das crianças, em duas semanas. O irmão conta que o sonho da vítima é entrar para a Polícia Militar, que ela já havia feito uma prova para ingressar na corporação e, atualmente, vinha estudando para mais um concurso. A PM informou que os policiais envolvidos na ocorrência serão ouvidos e um procedimento apuratório será instaurado para analisar as circunstâncias da ação. O fuzil utilizado pelo policial foi apreendido. 
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso foi comunicado na 26ª DP (Todos os Santos) por policiais militares que participaram da ação. O veículo da vítima passará por exame de perícia e os PMs envolvidos e testemunhas serão ouvidos. "Demais diligências serão realizadas para identificar a origem do disparo que atingiu a mulher e esclarecer a dinâmica dos fatos", completou.