Zeus apreendido na feira ilegal de Duque de CaxiasDivulgação
Além disso, práticas como cortes de orelhas ou rabos são comuns entre tutores irresponsáveis, que acreditam estar “fortalecendo” a imagem de agressividade do animal. Para Rita, esses atos são um reflexo da crueldade e não de uma criação responsável. “Uma pessoa que mutila um animal não pode ser considerada um tutor responsável!”, enfatiza.
É essencial que a sociedade abandone os preconceitos contra os pitbulls e outras raças consideradas “perigosas”. “A criação de um animal deve ser feita com empatia, disciplina positiva e respeito, independentemente da raça. Quando isso ocorre, pitbulls deixam de ser alvos de preconceito e se tornam o que realmente são: cães incríveis, amorosos e leais”, conclui Rita.
Por trás de cada pitbull resgatado, há uma história de sofrimento, abandono e descaso, mas também de esperança e recomeço. Newa Medeiros de Carvalho, protetora de animais há 23 anos, já perdeu as contas de quantos pitbulls resgatou, entre filhotes e adultos, a maioria vítimas de maus-tratos em comunidades e feiras ilegais.
“Grande parte desses cães chega até mim em condições extremamente precárias: acorrentados, feridos e com um estado de desnutrição severo. Vítimas do abandono e da irresponsabilidade de tutores que não conhecem ou não respeitam as necessidades da raça”, relata Newa.
Resgates e o Processo de Recuperação
Cada resgate é um novo desafio, envolvendo suporte veterinário e divulgação para encontrar lares responsáveis. Um exemplo marcante é o caso de Thanos, um pitbull encontrado com uma ferida profunda no pescoço, indícios de que era mantido preso por uma corrente. “Ele estava com um nível avançado de desnutrição, doença do carrapato e anemia profunda. Precisou de transfusão de sangue e uma dieta especial para recuperar peso”, conta Newa.
Abandonado possivelmente por estar doente, Thanos representava um cenário comum: a negligência de tutores que, ao invés de cuidar, descartam o animal. Mas a história de Thanos teve um final feliz. “Ele foi adotado apenas um mês após o resgate, o que nos surpreendeu, já que o preconceito contra pitbulls dificulta muito as adoções”, explica.
Ao longo de mais de duas décadas de dedicação, Newa percebeu que os pitbulls se tornaram um símbolo de sua luta. Para ela, cada resgate é uma oportunidade de mostrar ao mundo que a raça não é o problema, mas sim a irresponsabilidade humana.
“Os pitbulls são fortes, amorosos e leais. O que falta é empatia e compromisso das pessoas. Minha luta é por eles, para que um dia possam ser vistos como os cães incríveis que são, sem preconceito, sem sofrimento e cercados do amor que tanto merecem”, conclui.
Thanos: do abandono a um novo lar
Adotar um animal com um histórico de sofrimento não é uma decisão fácil, mas para Maria Caroline Alves da Silva, monitora de transporte escolar, foi uma escolha de coração. Thanos, encontrou na nova tutora a chance de recomeçar. “Eu queria dar a ele uma família, uma irmã de quatro patas e uma vida melhor, com cuidados, amor e carinho”, afirma Maria Caroline .
Chegar a um ambiente seguro foi transformador para Thanos, embora tenha chegado tímido e desconfiado, ele rapidamente mostrou seu lado carinhoso. “Com crianças, ele não tem maldade, aceita carinho e convive muito bem com minha enteada de 8 anos.”
A veterinária Érica Dias Gomes Terra, com experiência no cuidado de animais resgatados, relata a dura realidade enfrentada pelos pit bulls abandonados. Segundo ela, esses cães frequentemente chegam à clínica em estado crítico. “Eles chegam infestados de carrapatos e pulgas, com lesões abertas e até bicheiras”, explica.
O abandono está diretamente ligado ao estigma da raça. Érica aponta que casos isolados de ataques, geralmente causados por maus-tratos e manejo inadequado, reforçam o preconceito. “Infelizmente, esses cães muitas vezes caem nas mãos de pessoas despreparadas ou que os incentivam a serem agressivos, o que pode acontecer com qualquer raça submetida a esse tipo de tratamento”, destaca.
Após o resgate, a recuperação é delicada e vai além dos cuidados médicos. “Esses cães precisam de muito amor, carinho e, em casos mais graves, acompanhamento de especialistas em comportamento animal, pois chegam extremamente traumatizados e arredios devido ao que já sofreram”, acrescenta a veterinária.
Apesar disso, Érica ressalta que, com cuidados adequados, os pit bulls podem ser tão amorosos quanto qualquer outro cão. “Eles merecem uma segunda chance, e cabe a nós, como sociedade, romper com o preconceito e proporcionar a vida digna que eles tanto precisam”, finaliza.
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