Publicado 11/12/2024 07:11
Rio - Moradores voltaram a sofrer com a violência no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. A guerra entre facções rivais registrou mais um episódio na madrugada desta quarta-feira (12), com uma intensa troca de tiros e explosões. No dia anterior, a região já havia sido impactada por outro confronto entre criminosos, que deixou um homem ferido e fechou escolas e unidades de saúde.
PublicidadeEm vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ouvir muitas rajadas de tiros e alguns moradores relataram explosões de granadas. As imagens compartilhadas apontam que a troca de tiros ocorreu por volta das 3h. Confira abaixo. Até o momento, não há registro de feridos, prisões ou apreensões. A Secretaria Municipal de Educação informou que, nesta quarta-feira, nove unidades escolares foram impactadas. Já as unidades municipais de saúde estão funcionando normalmente.
Segundo relatos, mais uma vez traficantes do Morro São João, no Engenho Novo, também na Zona Norte, tentaram invadir a comunidade. A primeira é controlada por criminosos do Comando Vermelho, que há meses vêm realizando invasões em diversas áreas de rivais para expandir seus territórios e atividades ilícitas, como o Morro dos Macacos, dominado pelo Terceiro Comando Puro. A guerra na região já provocou diversas mortes.
De acordo com a Polícia Militar, disparos foram ouvidos na comunidade e o policiamento intensificado pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Macacos. A reportagem de O DIA esteve nos acessos do Morro dos Macacos na manhã desta quarta-feira e encontrou diversos projéteis espalhados pelo chão, ruas pouco movimentadas e lojas fechadas. No local, havia pichações em vermelho com as iniciais C.V que, segundo um morador, foram feitas pelos criminosos na tentativa de invasão da facção, nesta madrugada. Viaturas da UPP e um veículo blindado também circulavam pela região.
'É assustador, sufocante'
O vice-presidente da Via Associados, uma das Associações de Moradores e Comerciantes de Vila Isabel, Marcus Vinícius, afirma que moradores que já sofriam com furtos e roubos constantes e a depredação de áreas públicas por dependentes químicos, agora também temem a guerra no Morro dos Macacos. Segundo ele, o bairro, que é reduto da boemia carioca, tem sido desvalorizado e cada vez menos procurado, por conta da violência e falta de policiamento.
"É uma intraquilidade total, uma insegurança total. Sabe-se onde está o criminoso, sabe-se que o que está acontecendo é um crime contra a população e a polícia não faz nada. Ontem os policiais estavam há dois quarteirões de distância do morro, numa área que, se eles atiram dali, é extremamente perigoso, se a pessoa sai do prédio pode acabar 'tomando uma bala'. Está triste, porque é uma desvalorização dos imóveis, o comércio caindo a procura, porque as pessoas não se sentem seguras de virem para o bar, para os Food Trucks na Praça Barão de Drumond. Está realmente assustador", lamentou.
Ainda segundo Marcus Vinícius, o policiamento na região tem sido pouco e só costuma ser visto quando ocorrem tiroteios, o que aumenta a sensação de insegurança. O vice-presidente afirmou que a Via Associados está formando uma comissão que pretende entrar com uma ação civil pública junto ao Ministério Público do Rio (MPRJ) para que as autoridades tomem medidas de combate à violência.
"Hoje o morador está acovardado, está assustado, porque não sabe o que vai fazer. Sabe que a partir de 21h, 22h, começam os tiros. É assustador, está realmente sufocante e com esse tiroteio você não tem direito a mais nada (...) Se já se sabe que é o Comando Vermelho do (Morro) São João, então faz uma ação, entra na comunidade para vasculhar e prender esses caras, fazer alguma coisa. O que não podemos é esperar mortes atrás de mortes, que já são muitas", desabafou o vice-presidente.
Rotina de violência
A região de Vila Isabel passou a viver uma rotina de violência, por conta da disputa entre facções rivais. No último dia 3, Luiz Gabriel de Melo Almeida morreu e Wenderson Terra da Silva e Wallace Pereira Barbosa da Silva ficaram feridos, após um ataque a tiros em um dos acessos ao Morro dos Macacos, ligado à guerra por territórios. Relatos apontam que o ataque teria sido realizado por um traficante do Morro da Mangueira, dominado pelo CV, que estava em uma motocicleta e passou atirando pela Rua Petrocochino, e fugindo logo depois.
Um dos episódios mais violentos da guerra entre facções na região ocorreu no dia 18 de agosto, quando acontecia um evento na Praça Barão de Drummond, um dos principais pontos do bairro. Na ocasião, criminosos chegaram atirando, cinco pessoas morreram e duas ficaram feridas. Entre os mortos, o chefe do tráfico da comunidade, Pedro Henrique Barbosa da Conceição, de 18 anos, principal alvo dos disparos.
Dias antes, em 5 de agosto, um adolescente de 13 anos e um entregador, 20, morreram durante um tiroteio na comunidade. De acordo com testemunhas, os dois foram baleados por criminosos que entraram no Morro dos Macacos atirando em direção a uma festa. Em 21 de setembro, outras mortes voltaram a ser registradas, dessa vez dois homens morreram e outros dois ficaram feridos.
Em 21 de outubro, a PM prendeu um dos chefes do tráfico de drogas da região, Misael Ferreira de Oliveira, de 49 anos, o Misa, que é considerado um dos homens de confiança do traficante Leandro Nunes Botelho, o Scooby Doo, principal liderança da comunidade e seria o segundo na hierarquia do tráfico. Ele estava foragido desde maio de 2017, após não retornar de uma saída temporária.
Em 21 de outubro, a PM prendeu um dos chefes do tráfico de drogas da região, Misael Ferreira de Oliveira, de 49 anos, o Misa, que é considerado um dos homens de confiança do traficante Leandro Nunes Botelho, o Scooby Doo, principal liderança da comunidade e seria o segundo na hierarquia do tráfico. Ele estava foragido desde maio de 2017, após não retornar de uma saída temporária.
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