O professor e bailarino Bob Cunha dá aulas até hojeDivulgação

No início de ano as pessoas costumam tomar decisões como emagrecer, mudar de emprego, ganhar mais, cuidar da família ou apenas resolver as pendências que foram deixadas de lado em dezembro. A maioria se esquece, porém, que é necessário cada vez mais se dar uma atenção muito especial à saúde mental. Por isso foi criada, em 2014, pelo psicólogo, palestrante e escritor mineiro Leonardo Abrahão, a Campanha Janeiro Branco, movimento brasileiro que visa a melhoria da saúde mental e desde 2023 é reconhecida oficialmente como lei federal.Neste ano o tema é 'O que fazer com a saúde mental agora e sempre?' e a ideia é que haja palestras, debates e discussões sobre o assunto para que a qualidade de vida das pessoas neste quesito melhore cada vez mais. Para a psicanalista Andréa Ladislau, falar desse tema parece um lugar comum, mas não é. "Ainda necessitamos desmistificar o adoecimento emocional, que mostra a fragilidade da harmonia entre mente e corpo. Nesse período do ano, a campanha que se inicia, tem sua importância redobrada para internalizar as sensações e compreender melhor nossos gatilhos, falhas, forças, fortalecendo o eu interior". Para a especialista, tudo deve ser construído. "O comprometimento com a construção de uma vida mais saudável e feliz deve ser uma missão de todos os seres humanos. O autoconhecimento, a serenidade e leveza dos pensamentos, além da necessidade de se colocar em prática novos hábitos de vida que estejam voltados para nossa psique.
Outro profissional que também aborda o assunto é Artur Costa, psicanalista e professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC). Em entrevista ao jornal O DIA, ele fala sobre a campanha e a saúde mental.

O DIA: Na virada de ano, as pessoas tomam muitas decisões e em janeiro algumas podem ir ficando pelo caminho. Como fazer para se manter firme no propósito?

Artur Costa: O início do ano desperta entusiasmo para mudanças, mas manter os propósitos exige planejamento e autoconhecimento. Primeiro, é importante transformar grandes objetivos em metas menores, mais alcançáveis. Além disso, reconhecer que dificuldades podem surgir ajuda a evitar frustrações. A saúde mental tem papel fundamental aqui: estar atento às emoções e procurar apoio, seja de amigos, familiares ou profissionais, pode ser o diferencial para seguir firme nos propósitos.

O DIA: Desde a pandemia, a saúde mental de muitas pessoas não foi mais a mesma. Como se pode tomar certos cuidados para evitar ansiedade, depressão e afins?

Arthur Costa: A pandemia trouxe à tona a importância de cuidar da saúde mental. Algumas práticas diárias podem ajudar, como manter uma rotina equilibrada, praticar exercícios físicos, cultivar bons relacionamentos e reservar momentos para lazer e descanso. Também é essencial estar atento aos sinais do corpo e da mente. Buscar ajuda profissional é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo, especialmente em casos mais graves de ansiedade ou depressão.

O DIA: O Janeiro Branco também serve para que a saúde mental seja mais discutida entre os profissionais?
Artur Costa: Com certeza. O Janeiro Branco não só conscientiza a população, mas também incentiva os profissionais a refletirem sobre sua prática e trocarem experiências. Esse diálogo é crucial para melhorar o acesso aos serviços de saúde mental e buscar abordagens mais humanizadas. A campanha tem sido um ponto de encontro importante para ampliar a visão sobre o cuidado psicológico.

O DIA: A campanha Janeiro Branco faz 11 anos de existência em 2025. Qual a sua avaliação em relação à saúde mental das pessoas pós-campanha?

Artur Costa: A campanha tem sido essencial para quebrar tabus e promover conversas sobre saúde mental. Nos últimos anos, percebemos maior abertura das pessoas para falar sobre suas dores e buscar apoio. No entanto, ainda há muito a avançar, especialmente no acesso aos serviços de qualidade. Apesar dos avanços, é fundamental que a sociedade continue investindo na prevenção e no tratamento da saúde mental.

O DIA: Um projeto de lei está para ser votado com a volta dos chamados “manicômios”. Hoje não se pode mais internar, pelo menos em tese, mas muita gente está nas clínicas Saint Romain, em Santa Teresa, na da Gávea, e outras. Mas o morador de rua, com saúde mental abalada, fica sem ajuda. Trata-se de um tema bem polêmico. Como  vê a situação?

Artur Costa: Esse é um tema delicado e complexo. A volta dos manicômios seria um retrocesso, pois a história nos mostrou os danos de instituições que excluem e desumanizam. O modelo ideal é aquele que integra o paciente à sociedade, oferecendo cuidados em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e unidades especializadas. No entanto, a falta de suporte para moradores de rua com saúde mental abalada revela um sistema que precisa de mais recursos e políticas públicas inclusivas. O desafio é equilibrar a proteção dos direitos humanos com a necessidade de tratamentos adequados.
Educação e arte são grandes aliadas

Diversas pessoas estão na luta por uma saúde equilibrada seja por meio da educação como fazem os especialistas em gamificação, Gilberto Barroso, e criação Vitor Azambuja, ou por meio da arte. Ambos fundaram o Programa De Criança para Criança (DCPC) e se preocupam com a saúde mental dos menores. "Estamos muito focados em achar que só o adulto tem depressão. E geralmente tem muita criança em depressão ou em processo de piora da saúde mental", alerta Vitor Azambuja, especialista em educação.
O contato com as emoções já foi tema de alguns vídeos produzidos pelo DCPC, que ajuda alunos e professores a desenvolverem vídeos com os conteúdos aprendidos em sala de aula. "Quanto antes as crianças aprenderem a falar sobre sentimentos, mais chance haverá de antecipar a solução de questões emocionais e desenvolver autoconhecimento", defende Gilberto Barroso, também sócio do DCPC.
De Criança para Criança – O programa oferece um leque de metodologias de educação híbrida para escolas de todo o mundo. Do futuro para a escola, a proposta é oferecer às crianças a oportunidade de serem protagonistas, colocando-as no centro da aprendizagem.
Além de Vitor e Gilberto mais pessoas querem fazer a diferença e ajudar para que todos tenham uma saúde mental nota 10. Esse é o caso do bailarino, coreógrafo e professor de dança, com carreira internacional e premiações no currículo, Bob Cunha. Com experiência em tango, bolero, soltinho mix, forró, samba, salsa, merengue, bachata, zouk, lambada, tango argentino, valsa, milonga e mais, Bob transmite aos seus alunos conhecimentos de alimentação, sono, psicologia, didática, pedagogia de acordo com a faixa etária, grade, disciplina, ou seja, uma série de fatores para que o aluno tenha o seu melhor desempenho além do espaço em sala de aula.
Dançar para preservar a mente
O profissional ressalta a dança como uma ferramenta para a saúde, como no combate à depressão, à ansiedade e à baixa autoestima. "As danças integradas são uma forma de expressão artística, que envolve a combinação de diferentes estilos e técnicas específicas. Podem incluir danças folclóricas, urbanas e contemporâneas, jazz, ballet e dança de salão. Essas práticas não apenas promovem o desenvolvimento das habilidades motoras e artísticas dos indivíduos, mas também oferecem uma série de benefícios às saúdes física e mental", frisa Bob, de 64 anos, que também é formado em arquitetura. 

Hoje, ele mantém as suas aulas em casa em Laranjeiras, bairro da Zona Sul da cidade do Rio, e dá aula particular na casa do aluno, caso prefira. Há 46 anos é ligado às artes: fez teatro, foi modelo fotográfico e coreógrafo em comissão de frente em escola de samba carioca, entre outros trabalhos. Um currículo extenso, que engloba prêmios nacionais e internacionais, como o de CampeãoBrasileiro de TangoShow.