Equipe da Secretaria Municipal de Conservação realiza demolição do camelódromo da Uruguaiana, no CentroArmando Paiva/ Agência O DIA

Rio - A Prefeitura do Rio iniciou na manhã desta terça-feira (14) a demolição dos boxes do mercado popular da Uruguaiana, no Centro, atingido por um incêndio no último domingo (12). A previsão é de que os 92 comerciantes diretamente afetados diretamente possam retornar ao trabalho na quinta-feira (16), no próprio centro comercial, realocados em boxes que estão vagos e ficaram ilesos. O recadastramento para a realocação começa às 14h desta terça-feira (14).
Para a ação de demolição e limpeza, a CET-Rio interditou, desde as 6h, parte da ruas Buenos Aires, Senhor dos Passos, Conceição, dos Andradas e da Alfândega. A medida permitiu à Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos iniciar a remoção das estruturas incendiadas. À tarde, a Comlurb fará a limpeza.
A Coordenadoria Geral de Operações Especiais (CGOE), da Secretaria de Conservação, estima que a limpeza da quadra C - que teve 50%, com 96 quioesques, destruídos pelas chamas - também até quinta - prazo também dado para que todo o camelódromo siga totalmente interditado.
"O importante é ter celeridade. Vamos fazer esse trabalho junto com a Comlurb para retirar esse material e limpar a área para que a gente possa assentá-los de novo. Até quinta-feira, estará liberada", garantiu Diego Vaz, secretário de Conservação.
Fora o reposicionamento dos trabalhadores até quinta, não há outros acordos entre prefeitura e os representantes anunciados até o momento. Por exemplo, não foram conversadas possíveis ajuda de custo ou reposição da mercadoria perdida no incêndio.
Também não está definido ainda se todo o custo da reconstrução da área atingida ficará com a prefeitura, independentemente do tamanho da empreitada. Isso porque o prefeito Eduardo Paes cogita não apenas refazer a quadra destruída, mas reproduzir na Uruguaiana um modelo de centro comercial nos moldes do Mercadão de Madureira.
Uma incógnita é se essa revitalização cobriria apenas a área incendiada ou todo o camelódromo, já que o projeto ainda está muito embrionário, pois a ideia surgiu no domingo.. "Se a gente pudesse usar este espaço aqui para uma reconstrução, que é o que o prefeito quer, nos moldes de um Mercadão de Madureira, seria um ganho para todos", acrescentou Vaz.
Comerciantes esperam reabertura
A expectativa pela retomada ainda nesta semana deu um alento aos profissionais que acompanhavam de perto a remoção dos escombros: "Para a gente voltar a trabalhar, está muito bom", comentou Antônio do Nascimento, 60, que trabalha há 23 anos com vestuário em um dos boxes.

Sobre recomeçar sem a mercadoria consumida pelo fogo, ele demonstrou confiança: "Perdi até os documentos. Mas a gente é camelô e dá um jeito. Trabalha o quanto for preciso. E Deus em primeiro lugar", finalizou.
Já Kelly Fernandes, de 35 anos, tem um comércio de artigos de escolas de samba a poucos metros da quadra que pegou fogo, mas não teve sua loja destruída. Assim como todos os comerciantes do mercado popular, ela está sem trabalhar por esses dias e já pensa nos transtornos: "As nossas contas vão ficar atrasadas, infelizmente. Mas o importante é que a gente tem vida para recomeçar".

A autônoma - que herdou o comércio dos pais e está na Uruguaiana há 30 anos - demonstrou solidariedade aos colegas que tiveram o prejuízo maior: "Estou muito triste. Eles perderam tudo, e nós temos que ter empatia. Eu não estou trabalhando, mas ainda tenho minha mercadoria. Então precisamos nos colocar no lugar de quem nem tem onde trabalhar, nem a mercadoria". 
Mercado Popular da Uruguaiana é demolido nesta terça-feira.

Créditos: Armando Paiva / Agência O DIA pic.twitter.com/lMD0PQ6mMh
Leonardo Ferreira, de 26 anos, trabalha há cinco na Uruguaiana com comércio de componentes eletrônicos e manutenção de aparelhos. Ele teve a loja preservada, embora a localização seja na quadra C. Por isso, também terá que ser realocado. Ferreira torce para que as atividades profissionais no camelódromo realmente retornem na quinta-feira: "Acho que foi um bom prazo. E até pela demanda dos clientes, temos que voltar logo".
Em contrapartida ao prazo que agradou, no entanto, a possibilidade de deslocamento para outros pontos do mercado popular causou discordâncias: "Isso é ruim, porque os clientes já sabem onde estamos. Mas não acho que será assim. De repente, vamos ficar por aqui mesmo, como ocorreu nas vezes passadas", opinou Nelson Fernando, 69 , vendedor de roupas há pouco mais de 30 anos no camelódromo.
O secretário municipal de Ordem Pública, Brenno Carnevale, também esteve no local nesta manhã para conversar com os ambulantes: "O primeiro passo é ouvir as demandas deles. O momento é de transparência, de prestação de contas e de colocar a prefeitura à disposição para o que for possível fazer agora. A prioridade é dada àqueles diretamente afetados pelo incêndio", salientou.

Questionado sobre a insatisfação de alguns trabalhadores com um possível deslocamento para outras quadras do centro comercial, o titular da pasta disse que está aberto a ouvir, mas sem abdicar da ordem pública: "Nesse primeiro momento, as pessoas vão ter que fazer uma espécie de modificação nas suas rotinas. A gente vai trabalhar para que elas sejam o mais rapidamente possível atendidas, mas sem utilização de espaço público. Tenho certeza de que ficarão em uma situação melhor do que estão hoje".
Interdição por incêndio
O incêndio teve início na manhã de domingo em uma loja na Rua dos Andradas, na altura da Rua Senhor dos Passos, e se espalhou rapidamente. Bombeiros de dez quartéis foram acionados para combater as chamas. A fumaça tomou grandes proporções e pôde ser vista de outras áreas da cidade, como do Pão de Açúcar, na Zona Sul do Rio. O local foi interditado pela Defesa Civil Municipal por tempo indeterminado e, no início da tarde de segunda-feira, os bombeiros encerraram o trabalho de rescaldo.
Confira imagens da demolição e limpeza do mercado popular nesta terça-feira (14):