Bar dos Chicos, point da torcida do Flamengo na Tijuca, está fechado desde sexta-feira (17)Pedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - Conhecido por ser o 'point' de torcedores do Flamengo em dias de jogos, o Bar dos Chicos, na esquina das ruas General Canabarro e Luiz Gama, na Tijuca, Zona Norte, está fechado desde sexta-feira (17). O encerramento das atividades do estabelecimento, que funcionava todos os dias da semana, divide opiniões de quem frequenta e de quem mora no entorno.
Moradores dizem que a aglomeração ao redor do bar causava muita desordem, com relatos de vias fechadas por cadeiras, brigas e até churrasqueiras em portas de prédios. A motivação do fechamento do bar ainda não está esclarecida. Um funcionário, que não quis se identificar, contou ao jornal O DIA ter ouvido nos bastidores que um desentendimento entre os três sócios teria motivado a suspensão das atividades. Por segurança, a reportagem omitiu o nome de todos os entrevistados.
O dono de um bar próximo ao local, por exemplo, afirma que, por causa da baderna, não pretende aproveitar a clientela que possa migrar: "Em dia de jogo do Flamengo, sou o primeiro a fechar as portas. Ele, por ser maior, colocava grade, segurança. Mas eu não via vantagem nenhuma, porque no dia seguinte a gente só ouvia falar em confusão e quebra-quebra. Para mim, seria melhor ele aberto, porque vou continuar fechando mais cedo quando tiver jogo, pois sei que vai ter arrastão, invasão".
Um morador de uma rua próxima é taxativo sobre as portas fechadas do famoso estabelecimento. "Achei ótimo o fechamento, mas daqui a pouco vem outro dono e volta toda a confusão. A prefeitura libera tudo aqui", reclama. Ele descreve algumas das situações que já presenciou: "Brigas, cadeiras na rua. Fazem churrasco no canteiro. Os caras invadem o prédio aqui em frente para urinar. Até ponto de venda de drogas tem".
O morador diz que gostaria de se mudar da rua onde reside há mais de 20 anos, mas não o faz devido à desvalorização da área. Ele também credita à gestão pública a maior parcela da responsabilidade em dias de jogos: "Lá no Maracanã não tem briga e tumulto porque tem segurança. São 300 PMs, guardas municipais. Aqui não fica um. E mesmo que colocassem uma guarnição, não seria suficiente".
O morador faz outra crítica: "Quando começou a proibição de venda de bebidas em frente ao Maracanã, veio todo mundo para cá. Foi quando começou essa desordem aqui".
Uma outra moradora também acredita que o fechamento do Bar dos Chicos vai resultar na redução do caos que costuma tomar conta dos quarteirões próximos enquanto o Fla joga no Maracanã. Ela aponta o deslocamento prejudicado como uma das maiores dores-de-cabeça.
"Ninguém conseguia passar pela calçada, porque colocavam cadeira, grade. Botavam churrasqueira na porta dos prédios e o morador tinha que pedir licença para entrar. Se você passasse mal, não conseguiria sair para pedir ajuda ou receber uma ambulância, porque ninguém passava. Eu preferia ficar em casa em dia de jogo. Ou se saísse, era para voltar só no dia seguinte", revela ela, citando também a questão da segurança pública. "O índice de assalto aumenta, porque vem muita gente de fora", diz.

Torcedora do Flamengo, ela ressalta ainda os riscos de tumulto eram consideravelmente maiores em dias de partidas do clube: "Eles abusavam. Os mastros das bandeiras tocavam nos fios e deixavam nossa TV por assinatura oscilando. Tinha briga. Em dezembro mesmo, teve um espancamento aqui. A torcida do Flamengo é a única que briga entre si. Quando os outros jogam no Maracanã, não tem isso".

Ela, porém, enxerga um ponto negativo no encerramento, ainda que provisório, do estabelecimento, que conta com uma ampla varanda coberta: "Olha isso tudo aqui... Vai virar calçada para moradores de rua. Acredito que a segurança daqui, que já é precária, vai ficar pior".
Uma mulher que frequenta a área quatro vezes por semana para cuidar da mãe idosa, que reside numa rua próxima, concorda que as confusões tendem a diminuir, mas reconhece que há pontos negativos em um possível encerramento dos trabalhos. "Tinham transtornos, mas por outro lado esse bar fechado deixa a rua mais insegura. Tinha o movimento do dia a dia porque muitas pessoas vinham almoçar aqui. Estudantes, funcionários da Petrobras, turistas. Para a gente isso era bom. E tem também o desemprego. Hoje está tão difícil conseguir um emprego", analisa.
Já uma outra moradora vê somente aspectos negativos no fechamento do bar. Ela exime o comércio como vetor pelas confusões dos últimos anos. "O problema era as torcidas organizadas do Flamengo. São muito desordeiros. O bar atendia pessoas, mas a maioria ficava nas ruas. Uma vez fui buscar meu filho na escola e precisamos correr para não sermos atingidos por bomba de gás lacrimogêneo. Isso não tem nada a ver com o bar. Acho que só temos a perder. E eu nem sabia do fechamento. Estou chocada".
Incerteza

Enquanto os moradores se dividem em pontos de vista, os cerca de 28 funcionários do Bar dos Chicos – fora os extras que eram chamados exatamente em dias de jogos – vivem a incerteza sobre ainda estarem empregados ou não. Isso porque na última reunião com os patrões não ficou claro se o estabelecimento vai retomar a rotina.

Apesar do futuro duvidoso, entretanto, a esperança pela manutenção do emprego persiste. "Isso prejudicou muita gente. Deus queira que volte logo, porque todo mundo precisa trabalhar", disse um funcionário.
A reportagem fez contato com os donos do Bar dos Chicos, mas não obteve retorno até o encerramento desta reportagem. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.