Rio – Um levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) aponta que o Rio de Janeiro registrou apenas este ano três mortes e 3.843 casos prováveis de dengue – deste total, 245 precisaram de internação.
Gabriela Leite de Camargo, médica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante do setor de Infectologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), admite preocupação com o ritmo da propagação da arbovirose causada pelo Aedes aegypti: "O cenário é preocupante e indica uma transmissão acelerada".
Para justificar sua preocupação, ela ressalta que a estatística da SES não permite descartar uma futura epidemia: "É alarmante por essa possibilidade, o que geraria sobrecarga do sistema de saúde e risco de formas mais graves da doença".
Dentre as formas mais graves que poderiam circular em uma eventual epidemia, está a dengue tipo 3, que teve no Rio o primeiro caso registrado no Brasil em 2025. Trata-se de um sorotipo que causa os mesmos sintomas que os demais – como dores de cabeça e em articulações; náuseas e vômitos; manchas pela pele; febre alta –, mas é considerado um dos mais virulentos e pode matar.
“A circulação simultânea de diferentes sorotipos do vírus pode acarretar casos mais severos, especialmente em indivíduos previamente infectados. A dengue tipo 3 não circulava no estado desde 2007", diz Gabriela.
Fatores a favor do mosquito
Além da água parada, há outros fatores que contribuem para a proliferação do Aedes Aegypti. Um deles é o clima quente e úmido típico dos primeiros meses do ano, o que ajuda a explicar os números impactantes recém-divulgados. "Temperaturas elevadas e aumento das chuvas aceleram o ciclo de vida do mosquito, encurtando o período entre a eclosão dos ovos e a maturação do mosquito adulto", explica Gabriela Camargo.
A especialista enumera também fatores estruturais e socioeconômicos que podem determinar uma vulnerabilidade maior em determinadas regiões: “Saneamento básico inadequado, densidade populacional elevada e condições de moradia precárias”.
Vacinação aquém e campanhas
Uma importante aliada para reduzir a propagação do mosquito é a vacinação contra a dengue, que entrou para o Calendário Nacional de Vacinação, do Sistema Único de Saúde (SUS), em fevereiro de 2024.
Gabriela lembra que o Ministério da Saúde ampliou a campanha do imunizante, no mês passado, para a faixa de público entre 10 e 16 anos, mas lamentou a baixa adesão: “O número de vacinados está muito aquém do que prevíamos, infelizmente”.
A vacinação contra a dengue está disponível para jovens entre 10 e 16 anos desde o mês passado Roberto Carlos/Secom
Antes do surgimento da imunização, evitar recipientes com água acumulada já era uma iniciativa eficaz e prática conhecida do público. Mas para que a medida não caia no esquecimento, órgãos públicos mantêm suas campanhas.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) informou que, além do monitoramento de casos, trabalha com as campanhas “Contra a dengue todo dia” e "Dez Minutos Contra a Dengue", que reforça junto à sociedade informações sobre a importância de uma vistoria semanal em casa a fim de se "evitar água parada em latas, garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d'água descobertas e pratos sob vasos de plantas".
Já a Secretaria Municipal de Saúde do Rio – cidade que representa o maior número de casos, com 1.877 infectados prováveis, além de um óbito confirmado – divulgou que promove constantes ações educativas e de mobilização social nas redes sociais e na imprensa. O objetivo é orientar a população sobre “a importância da vacinação de crianças e adolescentes contra a dengue e sobre as medidas para a prevenção de arboviroses urbanas, visando despertar a responsabilidade dos cariocas”.
A pasta afirmou ainda que até 1º de fevereiro realizou "mais de 850 mil vistorias em imóveis em toda a cidade, com tratamento ou eliminação de 135.100 recipientes que poderiam servir de criadouros.
Sobre a vacinação, a SMS divulgou que as doses estão disponíveis diariamente em 239 unidades de Atenção Primária da cidade, além do Super Centro Carioca de Vacinação, em Botafogo, que funcionam das 8h às 22h. No Super Centro Carioca de Vacinação, em Campo Grande, o atendimento vai de acordo com o funcionamento do Park Shopping Campo Grande, onde está situado o equipamento.
Maiores incidências
Além do Rio, com os 1.877 casos prováveis, outros municípios apresentam números que chama atenção: Paraíba do Sul (139); Angra dos Reis (102); Duque de Caxias (99); Volta Redonda (97); Campos dos Goytacazes (87); Cantagalo (68); e Aperibé (56).
A SES, no entanto, esclarece que não é o número de infectados prováveis que determina as localidades mais afetadas pela doença, mas, sim, a taxa de incidência, que representa o número de casos por 100 mil habitantes – acima dos 300 casos dentro desse recorte de moradores significa risco alto.
Ainda segundo a pasta, as cidades com maior taxa de incidência são Aperibé (507.52), Cantagalo (350.7) e Paraíba do Sul (330.46). Nesta última, foram confirmados os outros dois falecimentos pela dengue até o momento no estado.
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