Família opta por sepultamento de Juliana Marins e irmã desabafa: 'Sempre vou amar'
Familiares desistiram da cremação devido à morte ainda ser considerada suspeita. O velório foi aberto ao público e reuniu amigos e familiares nesta sexta-feira (4)
Irmã de Juliana Marins chegou emocionada em enterro - Érica Martin / Agência O Dia
Irmã de Juliana Marins chegou emocionada em enterroÉrica Martin / Agência O Dia
Rio - A família de Juliana Marins, de 26 anos, morta no Monte Rinjani, na Indonésia, optou por sepultar o corpo da jovem em vez de cremar. A decisão ocorre devido à morte "suspeita" e possibilidade de exumação para novos exames. Segundo o pai da publicitária, Manoel Marins, eles ainda esperam o resultado da perícia da Polícia Civil do Rio e o laudo final do governo indonésio. O enterro ocorreu na tarde desta sexta-feira (4) no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, na Região Metropolitana.
fotogaleria
Durante a despedida, a irmã da niteroiense, Mariana Marins, descreveu a irmã como alegria e agradeceu ao apoio de todos os brasileiros em meio aos quatro dias de buscas.
"A Juliana era uma força, que chegou na nossa vida para trazer muito alegria e na passagem muito rápida aqui entre nós deixou muito amor. Ela ensinou a gente a ir atrás dos nossos sonhos, a fazer coisas que a gente quer e muitas vezes deixa de lado por obstáculos que pode acabar aparecendo na nossa vida. Eu testou com muita saudade, que só vai aumentar, mas ao mesmo tempo eu estou muito grata por a gente conseguir se despedir dela, se a gente não tivesse conseguido, seria um vazio muito grande no nosso coração", contou.
Mariana contou que além de irmãs, elas eram amigas. "Antes da Juliana nascer, eu queria 20 irmãos, pelo menos 10, e quando ela nasceu, ela veio com muita força e alegria, ocupando um espaço muito grande e eu falei pra minha mãe que não queria mais ninguém. Então, eu fico muito feliz de ter compartilhado 26 anos ao lado dela, esses 26 anos de muito amor, carinho e parceria. Quando a gente perde um amigo é muito ruim, perder um amigo que era seu irmão é pior ainda", lamentou.
Emocionada, a irmã finalizou dizendo que sempre vai amar a irmã. "Eu queria dizer o quanto eu amo Juliana, o quanto ela é importante para mim e sempre vai ser, eu sempre vou amar a Juliana. Queria mais uma vez agradecer a todo carinho e a toda força. Eu sei que de onde ela estiver, ela também está muito grata por isso", disse.
"Vocês não sabem como eu estou por dentro. Vindo para cá eu falei para mãe dela: 'Eu já estou com muita saudade, será que algum dia essa saudade vai diminuir?'. Eu não sei. Ela não está presente fisicamente, mas certamente espiritualmente está, e principalmente no coração da gente. O que aconteceu com ela foi uma estupidez tremenda. Ela tinha uma vontade de viver e viver intensamente", lamentou.
O sepultamento ocorreu depois das 15h e foi restrito apenas a familiares e amigos. O público e a imprensa não puderam acompanhar.
Investigação
A autópsia realizada na Indonésia revelou que a morte aconteceu 20 minutos depois de um trauma provocado pela queda. Os ferimentos causaram danos a órgãos internos e hemorragia. A informação foi divulgada em coletiva de imprensa há uma semana no Hospital Geral Regional Bali Mandara. De acordo com o médico-legista Ida Bagus Putu Alit, o impacto causou sangramento na cavidade torácica, além de fraturas pelo corpo. O especialista ainda acrescentou que não havia sinais de hipotermia, pois não havia ferimentos provocados pela condição, como lesões nas pontas dos dedos.
Segundo o pai, o laudo é preliminar, pois os exames toxicológicos ficam prontos em sete dias. Já a nova perícia realizada no Brasil, na quarta-feira (2), visa esclarecer a data e o horário exato da morte e apurar uma possível omissão de socorro por parte das autoridades locais da Indonésia.
Descaso no resgate
Momentos antes da despedida, o pai frisou a demora no resgate. Segundo Manoel, o parque não tinha ao menos um helicóptero.
"O que eu soube é que eles tem um helicóptero para resgate que fica em Jacarta, que é longe da ilha de Lombok, o helicóptero que eles tinham lá era de uma mineradora. O parque entrou em contato com o serviço de Defesa Civil muito tempo depois, se tivesse entrado em contato logo, o desfecho seria outro. Se a Defesa Civil tivesse sido acionada imediatamente, certamente teria tempo de chegar lá. Os protocolos do parque são muito mal feitos", lamentou.
Ainda em entrevista à imprensa, ele destacou a agilidade do Corpo de Bombeiros no Brasil em comparação ao serviço prestado na Indonésia.
"Nós vivemos em um país em que estamos acostumados a um resgate pronto e imediato, quando alguém sofre acidente vemos nossos bombeiros chegando rapidamente para o socorro, mas lá eles não tem recurso. Se os voluntários não tivessem chegado, Juliana não teria sido resgatada, só foi resgatada graças a eles, porque a Defesa Civil só conseguiu chegar a 400 m e ela estava a 600m", disse.
Relembre o caso
O corpo de Juliana chegou ao Brasil na noite de terça-feira (1°) em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). A cremação foi autorizada pelo Tribunal de Justiça do Rio nesta quinta (3), porém, os pais só tiveram conhecimento pela manhã desta sexta (4) e por isso decidiram manter o enterro. No dia anterior, a Polícia Civil realizou uma nova perícia e o laudo deve sair em até sete dias.
"Tínhamos solicitado ao juiz que ela pudesse ser cremada, mas o juiz tinha dito não, porque é uma morte suspeita. Então ela teria que ser enterrada para caso precisasse de uma exumação futura. Agora de manhã acordei com a notícia de que a Defensoria tinha conseguido que ela fosse cremada. Mas já tínhamos decidido pelo sepultamento", explicou.
Juliana desepareceu após cair da trilha no Monte Rinjani no último dia 21. Na ocaisão, ela foi localizada no sábado (21) por turistas espanhóis que passou a monitorá-la, fazendo fotos e vídeos, inclusive com uso de drone. As imagens mostram a niteroiense sentada em uma área inclinada, aparentemente com dificuldade de se levantar e retornar.
Segundo o Parque Nacional do Monte Rinjani, as condições climáticas impediram o uso de helicóptero para o resgate, porém sete socorristas conseguiram se aproximar do ponto onde a vítima se encontrava na segunda-feira (23). No entanto, eles tiveram que montar um acampamento no local ao anoitecer. Na terça (24), a morte foi confirmada.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.