Escultura foi feita pelo artista Paulo NazarethÉrica Martin / Agência O Dia
Escultura de Marielle Franco com 11 metros é inaugurada na Uerj: 'Simbólica e necessária'
Familiares marcaram presença na cerimônia e exaltaram legado da ex-vereadora, morta a tiros em março de 2018
Rio - Uma escultura de Marielle Franco (1979-2018) foi inaugurada na manhã desta segunda-feira (28) na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A obra, criada em 2021 pelo artista Paulo Nazareth para a 34ª Bienal de São Paulo, é feita de madeira, metal e alumínio e tem cerca de 11 metros de altura.
A cerimônia também marcou o encerramento de uma série de atividades realizadas pelo Instituto Marielle Franco ao longo do mês de julho em homenagem à ex-vereadora, morta a tiros em março de 2018 e que completaria 46 anos neste domingo (27).
A obra faz parte da série "Corte Seco", de esculturas que retratam personalidades negras em grandes dimensões. Inicialmente, ela ficará com a universidade em regime de comodato, uma forma de empréstimo gratuito, por um ano.
'Gesto que reafirma seu legado'
Ao DIA, a filha de Marielle, Luyara Franco, destacou a importância da homenagem e relembrou a trajetória da mãe na faculdade. "A presença da escultura da minha mãe na Uerj é profundamente simbólica e necessária. A Uerj é um espaço que fez parte da minha formação, da minha tia, passa pelo processo de formação política da minha mãe. Ali que ela falou muito das lutas dela. Desde pequena, eu já a acompanhava indo aos atos, a favor da educação pública de qualidade. Ter a imagem dela nesse espaço é um gesto que reafirma o seu legado e o direito à memória, especialmente em um país que tenta constantemente apagar as histórias de mulheres negras", afirmou.
Luyara também falou da emoção da família nos últimos dias, perto da data em que a ex-parlamentar faria aniversário, e comentou sobre como os tributos feitos a ela dão forças para a família. "Realmente, tem sido intenso. Como sempre, é um tempo de muita saudade, mas também de força, de se fortalecer. Com tantas homenagens acontecendo, como as ações do instituto, a escultura da Uerj, ontem a gente teve uma homenagem na Marcha das Mulheres Negras. Sentir o carinho e a força das pessoas aquece o coração. Acho que ela continua viva nas lutas, nos afetos que ela tinha, que estamos continuando."
A mãe de Marielle, Marinete Silva, também exaltou a obra como uma forma de reforçar o legado da filha. "Essa escultura, nessa dimensão, é o tamanho do nosso compromisso com a sociedade, com o Instituto Marielle Franco, enquanto família que vem ressignificando a cada dia nesse lugar, nesse espaço que traz a memória, o legado, tudo que precisa ter dentro do ser humano. Dentro da história, do que Marielle fazia, parecia e continuava sendo uma mulher com o olhar que ela tinha pelo outro", disse.
"A maneira como Marielle nos foi tirada é muito dura, muito triste, mas a gente segue dando continuidade a esse sonho, que é cada vez mais o compromisso com o outro."
Coordenadora do Programa de Ações Afirmativas da Uerj, Cláudia Calmon comentou sobre o compromisso da universidade com as pautas que Marielle defendia. "É uma grande alegria ver essa escultura aqui, enorme, não maior que o legado da Marielle. Estamos muito felizes de ter feito essa ponte, trazer ela para cá, e ela significa tudo que essa universidade persegue: uma universidade antirracista, inclusiva, gente preta, indígena, quilombola, PCD. Isso é uma das lutas de Marielle, e a nossa também", ponderou.
Relembre o caso
As mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes aconteceram em 14 de março de 2018, no Centro do Rio. Eles foram alvo de tiros disparados de um veículo em movimento contra o carro em que estavam.
Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) agiu junto com seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e o delegado Rivaldo Barbosa para planejar a morte de Marielle.
A motivação seria a atuação da vereadora contra a grilagem de terras em áreas controladas por milícias na Zona Oeste.
* Colaborou Érica Martin









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