Familiares e amigos de Bruno Ventura se emocionaram durante sepultamentoRomulo Cunha / Agência O Dia
'Esperamos amenizar a dor que sentimos', desabafa pai sobre morte de entregador intoxicado por ácido
Bruno Ventura foi sepultado, na manhã desta quarta-feira (10), no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana
Rio - "Esperamos amenizar a dor que estamos sentindo. Quem colocou ele nessa forma, terá que pagar." O relato representa o pedido de justiça de Márcio dos Santos, de 51 anos, pai do entregador Bruno Rodrigues Ventura dos Santos, 29, que morreu após 19 dias em coma por causa de uma intoxicação por ácido em uma sessão de hemodiálise. O sepultamento aconteceu nesta quarta-feira (10), no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana.
Durante a cerimônia, familiares e amigos usaram camisas com uma foto da vítima com os dizeres "Saudades da estrela mais linda do meu céu." Emocionado, Márcio contou que o filho estava se programando para fazer uma viagem para Argentina de moto. Seria a terceira vez do entregador no país, mas nesta iria pilotando.
"Bruno era uma pessoa muito tranquila. O vício dele era andar de moto e jogar videogame. Ele não ficava de madrugada na rua, não bebia nem fumava e não perturbava ninguém. O último sonho que ele teve foi ir pra Argentina, já foi duas vezes. Ele queria ir pela terceira vez de moto, com um amigo dele, mas não conseguiu realizar. Bruno só vivia rindo e brincando. Pode perguntar qualquer um que o conhecia que falarão a mesma coisa”, destacou.
Para Márcio, agora fica apenas a saudade e a esperança por justiça. "A gente espera pelo menos amenizar a dor que estamos sentindo porque não é pouca. Sabemos que nada vai trazer ele de volta, dinheiro nenhum. Quem o colocou onde está agora, vai pagar de alguma forma. É o que a gente espera", completou.
Édson Ventura, 49, primo de Bruno, deseja que o caso não caia em esquecimento. "Ele não pode ser mais um número. Isso nunca tinha acontecido no Rio. A gente espera que isso não venha se repetir. Realmente, foi negligência e erro médico. Não adianta as autoridades procurarem uma justificativa, nada vai trazer ele de volta. É difícil, mas temos fé em Deus e temos que acreditar na Justiça", disse.
Tio do entregador, Cristiano Ventura, 52, valorizou a luta da família pelo caso, que teve grande repercussão nas redes sociais. "Vejo como uma fatalidade. Acho que acontece muito, mas escondem. Nesse caso, o meu cunhado tomou a frente para o pessoal saber, se não ficaria escondido. Bruno era um menino alegre, forte e sorridente, e aconteceu essa tragédia. Agora vamos deixar na mão da justiça. Espero que os responsáveis sejam punidos", ressaltou.
Motoboys que trabalhavam junto com o entregador no distrito de Itaipuaçu também foram à cerimônia. Para Luciano de Albuquerque, 57, o grupo não será o mesmo sem o amigo.
"Tenho muita saudade dele e das brincadeiras. Vejo o sofrimento da família. Todo mundo sofreu. Era adorado em Itaipuaçu. Não tinha nada pra falar dele, só elogios. Ano passado, ele viajou para Portugal e brinquei pra ele ficar por lá mesmo e fazer a vida dele lá. Por causa de uma hemodiálise, eu perdi um amigo. Na justiça de Deus, eu não tenho dúvida, mas na justiça do homem, não acredito. Tenho que ter fé", contou.
O caso é investigado pela 72ª DP (São Gonçalo). Com a morte, a Polícia Civil mudou a tipificação do crime para homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Testemunhas continuarão sendo ouvidas, mesmo após o falecimento.
Relembre o caso
Bruno deu entrada na Clínica Nice Diálise, em São Gonçalo, também na Região Metropolitana, no dia 20 de agosto. O homem tinha doença renal crônica e passava por sessões de hemodiálise na unidade particular, credenciada para atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a família, em um desses procedimentos, uma técnica de enfermagem administrou ácido peracético, usado para limpeza de máquinas, que o intoxicou e o deixou em coma. Após o erro, houve um tumulto na unidade, com médicos e enfermeiros apreensivos. O pai e a mãe do entregador viram toda movimentação, mas não teriam sido avisados que se tratava do filho.
No mesmo dia, Bruno foi transferido para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo, no bairro Zé Garoto, onde ficou em coma por 19 dias até falecer nesta segunda-feira (8). O laudo da unidade destacou que a admissão do paciente aconteceu depois do rebaixamento do nível de consciência durante uma sessão de hemodiálise "secundária à infusão acidental de ácido peracético".
Exames o diagnosticaram com hemorragia subaracnoidea difusa com edema cerebral, insuficiência respiratória aguda e hipertensão arterial sistêmica, além da doença renal crônica.
Fiscalização
A Prefeitura de São Gonçalo informou que a Clínica Nice Diálise, no bairro São Miguel, é credenciada para atendimentos de alta complexidade pelo SUS e tinha convênio com a cidade, até o fim de abril deste ano, por estar localizada no município.
Por se tratar de serviço de alta complexidade, a regulação dos pacientes é feita pelo Sistema Estadual de Regulação (SER), que encaminha para a clínica pessoas de toda a região metropolitana, como foi o caso do Bruno. A prefeitura destacou que a fiscalização dos serviços cabe à Vigilância Sanitária Estadual.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) lamentou profundamente o falecimento do paciente e se solidarizou com familiares e amigos. A SES destacou que, desde o início do caso, a Vigilância Sanitária realizou inspeção no local e constatou que a unidade possuía licença sanitária válida para funcionamento.
Além disso, a pasta está realizando a transferência dos pacientes que eram atendidos na clínica para unidades de referência na região para garantir a continuidade do tratamento.









Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.