Último dia do Fórum de Líderes Locais teve como destaque a união de prefeitos e governadoresÉrica Martin/Agência O Dia

Rio - O último dia do Fórum de Líderes Locais da COP30, nesta quarta-feira (5), teve como principal destaque a união de prefeitos e governadores para criação de soluções de adaptação às mudanças climáticas. Na Cúpula de Ação Climática, que aconteceu no Vivo Rio, no Aterro do Flamengo, Zona Sul, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ressaltou a importância do apoio do Governo Federal e de líderes mundiais para medidas mais efetivas.
A cúpula celebra uma década de avanços desde a COP21, além de traçar metas para os próximos dez anos. "Nesses dias aqui, vemos como é que a gente transforma a poesia em verba, precisamos de recursos. A cidade tem uma capacidade enorme de implementar políticas, e isso é o que a gente tem que buscar fazer. Quando há equipamentos federais, a gente é mais efetivo, seja para fazer uma grande obra, para não haver o problema de saneamento ou uma obra de contenção de encostas, se tem recurso federal, se há financiamento, a gente melhora", disse.
O Fórum de Líderes Locais no Rio de Janeiro, que teve início na última segunda-feira (3) e se encerra hoje, antecedeu a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30). Paes destacou que o evento representa o que considera um dos maiores desafios da COP30, que têm início a partir do próximo dia 10, na cidade de Belém, capital do Pará.
"A gente viveu aqui nos três dias o que os prefeitos, governos locais e regionais têm chamado a atenção há um tempo, que é a capacidade de entrega da cidade e do governo local para fazer transformações necessárias. O Brasil tem uma particularidade, que é uma permanente colaboração entre os diferentes níveis de governo (...) E eu acho que o grande desafio dessa COP, quando a gente fala de mutirão, é sair para a ação, sair do discurso e para a ação, são iniciativas a contribuir”, ressaltou o prefeito, que também citou que dentre as melhorias para os próximos anos na cidade, está a implantação de ônibus elétricos.
Ainda discursaram os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e das Cidades, Jader Filho, e o prefeito de Belém, Igor Normando, e o governador do Pará, Helder Barbalho. A primeira afirmou que o mundo enfrenta atualmente os impactos ambientais alertados há mais de 30 anos, desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, realizada em 1992 na capital fluminense, e agora é necessário agir e pensar global ao mesmo tempo.
"Era agir global e pensar global, agora temos que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Aqueles que já estão sendo afetados pela mudança do clima, não têm mais como resolver esse problema localmente, sobretudo porque não têm recursos tecnológicos, financeiros e muitas vezes não têm recursos humanos. A gente precisa do apoio e inclusive do financiamento. Por isso que a COP30 vai discutir a questão de adaptação, com métricas e indicadores do quanto essa adaptação está caminhando nas cidades. Para que isso aconteça é necessário que tenhamos recursos", afirmou Marina Silva. 
Ainda segundo a ministra, as lideranças devem agir como em um mutirão e o Governo Federal precisa trabalhar junto com as administrações estaduais e municipais. Silva citou o cuidado adequado dos resíduos orgânicos e a eletrificação dos transportes como ações que podem ser adotadas para reduzir as emissões de CO₂ e gerar energia limpa. "O enfrentamento da mudança climática, longe de ser apenas os efeitos indesejáveis, é como a gente potencializa os efeitos desejáveis", completou. 
O ministro das Cidades explicou que o país e os representantes terão a oportunidade de expressar suas ideias em Belém. "Vamos poder colocar em prática ações para que nossas cidades possam ser mais resilientes e sustentáveis (…) Quando eu falo de oportunidade é que possamos sair de lá comprometidos com todas as metas discutidas. Nós não temos mais tempo, isso tudo se inicia aqui no Rio desde 1992, no Rio 92, e precisamos refletir o que nós alcançamos para que nosso futuro esteja mais sustentável".

Jader Filho ainda reforçou a importância da implementação de medidas para além das promessas. "As próximas gerações precisam de nós. Não podemos deixar que o planeta continue aquecendo e aquecendo. Precisamos tratar das cidades, as cidades precisam estar na busca por soluções porque se não tratarmos vamos perder essa guerra. A ciência aponta que novos eventos climáticos vão acontecer e precisamos estar preparados", disse o ministro. 
Ele comentou sobre impactos das questões climáticas no Brasil, destacando as enchentes do Rio Grande do Sul e na cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, e também frisou que os prefeitos devem ser ouvidos. "Como não tratar dos temas da COP sem ouvir os líderes locais? São eles que sabem os verdadeiros caminhos. Esperamos que essas ideias daqui cheguem aos líderes globais para encontrar um caminho para nosso planeta. Contem com o Brasil para encontrar soluções ambientais e também para que a gente transforme nossas cidades".
Já o prefeito de Belém ressaltou importância da Amazônia. "A Amazônia é extraordinária. Durante muitos anos a Amazônia ajudou o país a respirar e agora faz um apelo ao mundo para que nos ajude a viver (…) A Amazônia não é só floresta, a Amazônia tem pessoas, trabalhadores, povos ancestrais”, disse Igor Normando. "A vida acontece na cidade, que muitas das vezes é esquecida. Precisamos continuar representando prefeitos e prefeitas. Muitas das vezes as cidades são as últimas a serem olhadas. Mas nas cidades que a vida acontece, preservar o ambiente não se faz só com discurso, se faz com prática. Belém nesse momento passa a ser a capital do mundo da COP30". 
O governador do Pará acrescentou ainda a necessidade de manter a floresta viva. "Para combater o desmatamento, as irregularidades ambientais e para reduzir a pressão sobre a floresta, os resultados estão postos. Ao mesmo tempo em que, por um lado, fizemos controle e fiscalização, por outro, buscamos ter uma cartela de oportunidades que criem valor sobre a floresta viva", disse.
Helder frisou que a principal missão de quem vive na Amazônia é cuidar da floresta e das pessoas. "Nós precisamos aproveitar a COP em Belém para mostrar a todos que falam sobre nós, mas nunca colocaram o pé na floresta, que existimos e temos voz. Nós somos árvores, mas também somos gente. Somos a maior floresta pública, e, abaixo das árvores, vivem 20 milhões de brasileiros", finalizou.
Também participaram da cúpula a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, as prefeitas de Phoenix, nos Estados Unidos, Kate Gallego, de Paris, Anne Hidalgo, bem como os copresidente do C40 Cities, os prefeitos de Londres, Sadiq Khan, e Freetown, Yvonne Aki-Sawyerr, e a copresidente do Pacto Global de Autarcas (GCoM), vice-presidente executiva da Comissão Europeia para uma Transição Limpa, Justa e Competitiva, Teresa Ribera, entre outros. 
Secretário da ONU cobra empenho no enfrentamento à crise
Durante a cúpula, o Secretário Executivo da Organização das Nações Unidas (ONU) Mudança Climática afirmou que o caminho para o sucesso passa pelo Rio, uma vez que é nas cidades, estados e regiões que "a luta contra a mudança climática pode ser vencida ou perdida" e que eles estão "desempenhando um papel cada vez mais importante" no progresso por meio de cooperação climática. Ele lembrou que os municípios e estados geram quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) global e representam milhões de pessoas.
Stiell destacou que já é possível ver que as emissões de carbono estão diminuindo, chegando em 10% até 2035, "embora isso claramente não seja suficiente". "Enquanto isso, os desastres climáticos estão causando estragos nas comunidades e economias (...) Precisamos acelerar o ritmo. Para isso, precisamos aproximar nosso processo da COP da economia real. Uma parte crucial dessa tarefa é acelerar as ações em nível local e regional, a fim de difundir mais amplamente os benefícios da ação climática para bilhões de pessoas", cobrou.
O secretário também disse que existe um impasse nos financiamentos dos projetos climáticos, que acabam tendo prazos de cumprimento afetados. Na abertura do Fórum, na última segunda-feira, o prefeito Eduardo Paes, pediu mais orçamento disponível para as ações urbanas. "Na luta contra a mudança climática, é hora de colocar a mão na massa. Passar das promessas aos projetos. As promessas inspiram esperança, mas os projetos geram resultados", afirmou ele, que destacou que somente as cidades do Pacto Global de Prefeitos poderiam reduzir mais de quatro gigatoneladas de CO₂ anualmente até 2050, se os planos atuais forem implementados.
No segundo dia de Fórum, nesta terça-feira (4), Paes e cerca de 100 representantes de cidades do país entregaram uma carta da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) a representantes da Prefeitura de Belém, para os líderes mundiais na COP30 avaliarem propostas e pedidos dos municípios sobre as mudanças climáticas. Ao final do discurso, o secretário da ONU pediu mais empenho das lideranças nacionais para o momento, que é considerado decisivo.
"Peço que se empenhem ainda mais, pois estamos em um momento decisivo. Cidades, estados e regiões fazem parte da base sobre a qual se sustenta o Acordo de Paris – e são a ponte entre a ambição e os resultados reais que melhoram a vida das pessoas. O mundo está observando. Da esquina à assembleia legislativa, do beco à cúpula, vamos mostrar que estamos intensificando nossos esforços – de forma mais rápida, mais justa e juntos", finalizou.