Allane Pedrotti foi enterrada no Jardim da Saudade, em PaciGisele Alves / Agência O Dia

Rio - Allane de Souza Pedrotti, diretora pedagógica do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow (Cefet) morta na última sexta-feira (28), foi sepultada na tarde deste domingo (30), no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência. A despedida reuniu dezenas de familiares e amigos, além de alunos e colegas de trabalho. O crime, ocorrido dentro da unidade de ensino, foi cometido por João Antônio Miranda Gonçalves, que também trabalhava na instituição. Depois de atirar em Allane e na psicóloga Layse Pinheiro, o assassino tirou a própria vida. 
Andressa Gatto, de 42 anos, amiga de infância de Allane, falou sobre a perda. "Ela vivia me falando que tinha medo do assassino. Ele era misógino, não aceitava ser comandado por mulheres, já havia ameaçado a Allane. Ela morreu simplesmente por ser mulher. Ela era da música, era minha vizinha, mãe como eu. Éramos muito próximas. Eu perdi minha rede de apoio. É preciso que misoginia se torne crime como o racismo", desabafou.
Flávia Escudero, 41, contou que conversou com a diretora no dia do crime. Moradora de Botafogo e amiga da vítima desde que as duas tinham 10 anos, ela contou ao DIA que o criminoso não aceitava ter um "currículo inferior". 
"Ela era minha comadre. Eu sou madrinha da filha dela, éramos muito amigas. Nós conversamos de manhã no dia do assassinato, falamos coisas do dia a dia. Era era uma excelente profissional, amava o Cefet, mas estava com medo. Fazia muito tempo que ela me contava sobre as ameaças do João. Ele não aceitava que o currículo dela era mais qualificado que o dele", revelou. No sábado (29), durante a liberação do corpo no IML, o pai da vítima, falou sobre a rotina de ameaças que a fiha enfrentava.
Audenise Ferreira, 55 anos, era amiga da vítima por conta da música. "Eu conheci ela cantando. Ela era uma pessoa muito alegre, amiga, humilde. Está sendo muito difícil. Ela faz muita falta. Onde ela passava levava alegria. Sei que essa dor não vai passar", exaltou. Além de se dedicar à educação, Allane atuava como cantora e pandeirista em diversas rodas de samba da cidade, exibindo talento e esbanjando alegria.
Jonatan Araújo, 19, aluno do Cefet, também destacou a convivência. "Era muito querida, onde passava deixava rastro de bondade. Ela deixou um legado incrível, principalmente por ajuda ao próximo. Na última semana, fizemos uma roda de samba no Cefet com os alunos."
Ele também aproveitou para criticar a segurança do local: "Fica o questionamento: como vamos ficar com isso? Lá não existe segurança para os alunos. Pode entrar qualquer um".
Quem era Allane?
Allane era chefe da Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Ensino (Diace) do Cefet. Doutora em Letras, ela construiu uma trajetória acadêmica robusta, com passagens pela PUC-Rio, UFRJ, UFF e pela Universidade de Copenhague, na Dinamarca.
No Cefet, era responsável pela coordenação da equipe pedagógica e acadêmica ligada à Direção de Ensino, especificamente na área de Educação Profissional e Tecnológica do Ensino Médio. Mãe de uma adolescente, era torcedora apaixonada pelo Fluminense.
O crime

João Antônio Miranda Tello Gonçalves, que havia retornando ao trabalho na última sexta após ser afastado pela direção temporariamente, matou a tiros Allane e Layse Costa Pinheiro. Em seguida, ele tirou a própria vida. Layse foi enterrada neste domingo (30), no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
A direção-geral do Cefet emitiu uma nota de pesar, na última sexta, lamentando "profundamente essa tragédia, que chocou a comunidade acadêmica" e decretando luto oficial por cinco dias na instituição a partir de segunda-feira (1º). 
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) ainda investiga o que motivou João Antônio a matar as duas colegas de trabalho.