Nuno VasconcellosAgência O Dia

Os 40 minutos de imagens exibidas na quarta-feira passada no Consulado Geral de Israel, em São Paulo, sobre os ataques terroristas praticados pelas bestas (isso mesmo, bestas, no sentido bíblico) do Hamas contra crianças, idosos e jovens indefesos no dia 7 de outubro estão, sem a menor sombra de dúvida, entre aquilo que já se produziu de mais chocante, brutal, cruel, impiedoso, repugnante, hediondo e revoltante desde que nossos ancestrais começaram a se juntar em bandos, cerca de 70 mil anos atrás. Não há nos idiomas conhecidos adjetivos suficientes para qualificar atos abjetos e desumanos como os que foram mostrados ali. Mesmo pessoas, como é meu caso, que já viram com os próprios olhos a carnificina de uma guerra, não conseguem ficar indiferentes diante de tamanha selvageria.
O Brasil foi o terceiro país do mundo a assistir às cenas do massacre. Antes dos profissionais de imprensa brasileiros, apenas jornalistas e políticos em Israel e nos Estados Unidos tiveram acesso às cenas chocantes. As imagens foram editadas pelo Serviço de Imprensa do Exército de Israel depois de recuperadas de câmeras de segurança instaladas no território invadido, de celulares encontrados com os terroristas mortos ou capturados ou de câmeras penduradas nas roupas dos animais que praticaram as barbaridades. Peço perdão por chamar aquelas criaturas de animais. Eles estão muito abaixo disso.
Um animal, por mais selvagem e primitivo que seja, só mata para se alimentar ou se defender. Ele se guia pelo instinto quando ataca suas vítimas. Aquelas bestas, não! Fizeram tudo de caso pensado, seguindo um roteiro macabro, que tinha como único objetivo infligir sofrimento aos que tiveram a má sorte de estar em seu caminho. Não são, portanto, animais. Também não podem ser considerados humanos. Sim! Incluir entre os seres humanos criaturas que tiveram sangue frio para fazer o que aqueles demônios fizeram é ignorar a linha que separa a civilização da barbárie.
Como se referir, por exemplo, a um monstro que tem a coragem de fechar um bebê vivo dentro de um forno ligado e deixa-lo lá até ficar calcinado? O vídeo exibido na quarta-feira mostrou cenas como essa e, depois disso, ninguém pode dizer que Israel exagera ou mente quando descreve o massacre. O material editado está repleto de imagens repugnantes quanto essa.
Como qualificar sádicos que se divertem ao registrar a expressão de pavor estampada no rosto das vítimas colhidas de surpresa pelo ataque selvagem? O que dizer de um troglodita que tem a coragem de torturar idosos, degolar crianças e assassinar inocentes indefesos com requintes de crueldade? O que dizer de alguém que parece vibrar ao enfiar um tubo de metal pela cavidade ocular de um corpo agonizante e, depois, registrar a imagem dos olhos vazados? Como se referir às hienas que, de volta a Gaza, prosseguiram martirizando os prisioneiros que arrastaram à força, para deleite de uma multidão que não esboçava qualquer repúdio diante da brutalidade — e, pelo contrário, vibrava ao testemunhar aquele horror?
São perguntas inevitáveis diante da crueldade das cenas e da reação daqueles que, nos últimos dias e em quantidade cada vez maior, vêm condenando Israel por perseguir os terroristas nos covis em que se escondem — usando civis palestinos como escudos e se esforçando para transformar as mortes que eles mesmos provocam como prova da crueldade do adversário. E, pior, se desdobrando para fazer o mundo culpar Israel por todo o mal que existe no Oriente Médio. Um desses covardes, chamado Moussa Abu Marzouk, que leva uma vida de luxo e ostentação acoitado num palacete no Catar, deu na semana passada uma demonstração clara da lógica estúpida que move os répteis de sua laia.
A fortuna de Marzouk é estimada em US$ 3 bilhões — e há indícios suficientes para acreditar que boa parte dela é resultado do desvio para seus bolsos de recursos doados à causa palestina, a título de ajuda humanitária, por gente do mundo inteiro. Em entrevista a uma emissora russa, ele falou da população palestina atingida nos ataques lançados por Israel para caçar os animais que praticaram a barbaridade e deu uma prova de seu desprezo pela vida do próprio povo.
Em determinada altura, o entrevistador quis saber por que razão terroristas não abrigam a população civil dentro dos quinhentos quilômetros de túneis que eles garantem ter construído sob o território de Gaza. O terrorista bilionário disse que tais túneis existem para proteger seus comparsas das bombas atiradas pelos inimigos. A obrigação de se preocupar com a vida dos civis palestinos, segundo o chefe da matilha, não é deles, mas de Israel e da ONU.

MENTIROSO E COVARDE — A propósito do raciocínio enviesado dessa criatura desprezível, que alimenta a própria fortuna à custa de um conflito que, segundo os terroristas, só terminará no dia em que o Estado de Israel for extinto, é bom parar para pensar no que ele diz. Qualquer pessoa que dedique um minuto de seu tempo para refletir sobre as palavras do extremista perceberá a quantidade de mentiras que ele é capaz de produzir a cada vez que abre a boca. Mentiras que, por sinal, são espalhadas como se fossem verdades com a ajuda da extensa rede de simpatizantes que os terroristas têm a seu serviço no mundo inteiro. Essa tem sido uma das armas mais eficazes de que eles se valem para manter não Israel, mas o Ocidente inteiro sob tensão.
Veja, por exemplo, o caso dos quinhentos quilômetros de túneis que os terroristas juram ter cavado sob a cidade de Gaza — um território pequeno demais para comportar tamanha extensão de escavações. É pouco provável que exista, como os terroristas querem que o mundo acredite, uma rede sofisticada de passagens subterrâneas bem construídas e amplas o suficiente para abrigar um exército poderoso e armazenar armas e munição suficiente para uma guerra prolongada, como os terroristas e seus aliados dizem que existe. O que existe ali são buracos precários, em que eles se enfiam como ratos para tentar fugir das consequências dos atos que praticam e que, agora, devem ter sido transformados em masmorras para trancafiar os reféns que eles arrastaram sob bordoadas no dia em que cometeram os atentados.
Quinhentos quilômetros representariam uma extensão maior do que a da Via Dutra — a rodovia de 402 quilômetros que liga o Rio de Janeiro a São Paulo. Ainda que os túneis não sejam tão amplos e nem tão bem construídos como os do metrô do Rio — que têm, no total, 42 quilômetros — ou ainda que tenham menos de dois metros de largura e altura suficiente para que uma pessoa de boa estatura caminhe por eles, esses quinhentos quilômetros são uma extensão absurda para túneis construídos sob um espaço diminuto como o subsolo de Gaza.
Ainda que cavassem com a habilidade de toupeiras, os terroristas dificilmente conseguiriam fazer tantos buracos, remover tanta terra e movimentar tanto material de construção sem atrair a atenção da espionagem israelense ou, ainda, sem provocar desmoronamentos na superfície. Quem, portanto, quiser acreditar na excelência da engenharia do Hamas e admitir que eles tenham construído um formigueiro sob Gaza, que acredite. Mais sensato, porém, é apostar que essa extensão absurda de túneis seja mais uma mentira espalhada pelos terroristas com a ajuda da imprensa simpática e de um número enorme de políticos e de militantes da extrema direita ou da extrema esquerda que sempre estão do lado das ditaduras.
Por maior que seja a repulsa causada pelas imagens do massacre, é preciso manter a calma e não confundir as barbaridades cometidas pelos terroristas com a defesa legítima dos direitos do povo palestino. Defender o direito dos palestinos a ter seu próprio Estado — como, aliás, é feito toda vez que esse tema é tratado neste espaço — é uma obrigação de quem respeita a vida e tem apreço pela civilização. Mas, depois da exposição das imagens e de demonstrações de insensibilidade como a do terrorista bilionário Marzouk em relação ao povo palestino, apresentar qualquer argumento que justifique as ações do Hamas significa endossar o massacre de 7 de outubro.
Acreditar nas mentiras espalhadas pelos facínoras do Hamas com a ajuda da extensa rede de inocentes úteis que aplaude suas ações ao redor do mundo é, no mínimo, uma demonstração de ingenuidade indesculpável. Ou uma crença injustificável em argumentos que caem por terra diante das imagens chocantes, que falam por si mesmas.

"PAZ COM OS PALESTINOS" — Aliás, a história que tem sido contada sobre as condições de vida do povo que vive na Faixa de Gaza é de uma parcialidade acima do aceitável. Densamente povoada por palestinos desde a Guerra de 1948, a região foi ocupada por Israel depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Como parte da política que se praticava na época, o governo israelense, de fato, estimulou a instalação na região de colônias agrícolas, que se tornaram grandes produtoras de tomates e outros alimentos.
Os frutos de excelente qualidade produzidos ali abasteciam o mercado de Israel e eram exportados para a Europa por meio de portos na costa de Gaza. E mais: a beleza das praias e a riqueza do patrimônio histórico atraíam para Gaza, uma das cidades mais antigas do mundo, um grande número de turistas, que geravam trabalho e renda para a população.
A situação foi essa até o ano de 2005, quando o então primeiro-ministro Ariel Sharon tomou uma medida que poucos entenderam. Herói das guerras de 1967 e 1973, Sharon era um gênio militar, mas pecava pela falta de habilidade política — e impunha suas ideias mais pela força do que pela qualidade dos argumentos. Como ministro da Moradia, cargo que ocupou entre 1990 e 1992, havia criado mais de 100 assentamentos judeus em Gaza e na Cisjordânia.
Desde que assumiu o posto de primeiro-ministro em 2001, no entanto, mudou sua posição e deu início a uma política de distensão, que culminou, em 2005, com a retirada dos 6.900 colonos israelenses que viviam na Faixa de Gaza e o fim de qualquer presença israelense na região. "Tudo o que me resta fazer em vida é alcançar a paz com os palestinos", disse na época.
A retirada israelense de Gaza foi seguida por uma série de acordos que visavam dar aos palestinos condições de sobreviverem por sua própria conta. As plantações de tomates cultivadas pelos colonos foram deixadas como estavam e passaram a ser exploradas pela população local — com a garantia de compra da produção por Israel a preços de mercado. Os portos utilizados para o escoamento da produção ficaram intactos e passaram a ser administrados por palestinos. Fábricas de tijolos e outros produtos de cerâmica foram instaladas, também com a garantia de acesso ao mercado de Israel. Além disso, um número crescente de moradores de Gaza foram admitidos como trabalhadores em empresas israelenses.
Os acordos foram mantidos por Israel mesmo depois que o Hamas venceu as eleições parlamentares de 2006, mas o rompimento definitivo veio em 2007. Naquele ano, o grupo terrorista promoveu uma guerra civil contra o Fatah, o partido criado por Yasser Arafat que controlava a Autoridade Palestina e administrava a região. A partir daí, e por ordem dos terroristas, tudo o que havia sido feito pelos colonos israelenses foi posto abaixo.
O turismo na região, por razões óbvias, foi reduzido a zero. As plantações de tomates arrancadas e as cerâmicas, destruídas. As instalações do porto foram demolidas e os trabalhadores autorizados a trabalhar em Israel tiveram suas permissões canceladas depois que integrantes do Hamas, infiltrados entre eles, passaram a praticar atentados contra a população civil.
Desde então, Israel nada tem a ver com o que se passa em Gaza — a não ser se proteger de ataques como o do dia 7 de outubro. Se a região, como os ativistas simpáticos aos terroristas dizem com frequência, se tornou um campo de concentração ou uma prisão a céu aberto, a conta deve ser cobrada do Hamas. Por que, ao invés de ser desviado para a compra de armas e para os bolsos dos chefões do Hamas, o dinheiro doado à Palestina não foi utilizado na construção de um sistema capaz de garantir o suprimento de água à população?
Outra pergunta: qual campo de concentração, dos muitos que existem ou já existiram no mundo, conta com hospitais e escolas? Pois Gaza está cheia deles e a maioria foi construída no tempo em que Israel ocupava o território. Algumas dessas instalações, inclusive, são usadas como esconderijo pelos répteis que tramam atentados contra a vida dos israelenses. Eles sabem que, caso venham a ser perseguidos ali, é enorme o risco de haver vítimas civis. Em nome de sua causa terrorista, acham legítimo expor seus próprios enfermos ao perigo. Portanto é o Hamas, não Israel, o maior inimigo da paz e o maior opositor da criação de um estado palestino na região.
Enquanto o Hamas existir e continuar comprando armas com o dinheiro da "ajuda humanitária" que muita gente de boa-fé destina ao povo palestino, não haverá paz. Enquanto o mundo, por conveniências políticas que nada têm a ver com o direito do povo palestino a ter seu próprio Estado, continuar aceitando a existência do Hamas e fechando os olhos para as atrocidades cometidas pelos terroristas, massacres como os do dia 7 de outubro continuarão acontecendo e sendo respondidos com energia. No dia em que Israel tiver do outro lado da mesa um interlocutor sério e confiável, será possível discutir os termos de um acordo que, obrigatoriamente, incluirá a remoção de parte dos colonos dos assentamentos criados depois da guerra de 1973.

EFEITOS COLATERAIS — É impossível imaginar que os terroristas aceitem discutir essa questão com base em argumentos sensatos. Também não é possível, depois de um ataque tão cruel, oferecer a outra face a criaturas que desconhecem qualquer tipo de trava moral. Nesse caso, o que vale para o tratamento que deve ser dado aos terroristas vale também para o crime organizado, que, há anos, vem se fortalecendo e espalhando terror pelo Rio, sobretudo pelas áreas da cidade que abrigam a população mais vulnerável. Enquanto os agentes do Estado, no Brasil ou em Israel, têm a obrigação de zelar pela integridade dos inocentes apanhados em meio ao tiroteio, os terroristas e os criminosos ganham ao mantê-los sob ameaça permanente.
Como lidar com isso? Será que a solução, como muitos defendem, é deixar que os terroristas e os bandidos continuem agindo com desenvoltura em nome do risco que uma reação mais dura pode levar à população? Será que o certo seria receber o golpe e não reagir às agressões? Nada disso! Independente das políticas de longo prazo que devem ser adotadas para assegurar o bem-estar das populações vulneráveis e que já foram mencionadas neste espaço mais de uma vez, é preciso responder com energia os ataques dos terroristas e dos criminosos, ainda que o risco de efeitos colaterais indesejáveis esteja sempre presente.
A preocupação com os civis é mandatória e o cuidado em preservar as vidas inocentes deve ser levado a seu máximo limite por parte dos agentes do Estado que combatem ações criminosas. No entanto, é sempre necessário ter sempre em mente que tanto os terroristas de Gaza quanto os criminosos do Rio, como todo covarde, só se preocupam com os próprios interesses e, para se proteger, fazem questão de aumentar a exposição dos inocentes a todo risco imaginável. Para eles, quanto maior o número de inocentes atingidos pela reação dos agredidos, melhor.
Essa observação vem a propósito do programa anunciado na quarta-feira passada e que marcou a adesão tardia, porém bem-vinda, do governo federal ao combate à criminalidade que há anos vem assolando o Rio. Parece que alguém se deu conta de que a imobilidade de Brasília diante da desenvoltura cada vez maior da bandidagem poderia causar danos irrecuperáveis à imagem do governo federal no Rio — onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo tendo ficado atrás de Jair Bolsonaro, recebeu mais de 4 milhões de votos,  que foram essenciais para sua vitória nas urnas de 2022. Sim, com mais de 12 milhões de cidadãos em condição de votar — o que significa o terceiro maior eleitorado do país — e Rio é importante demais para ser tratado com desdém por um político que almeje a presidência e Lula, com toda sua experiência, é o primeiro a saber disso.
O principal ponto do programa foi a assinatura de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem. O instrumento está previsto para durar inicialmente até maio de 2024. Mas deverá ser prorrogado além desses seis meses, sob pena de tudo voltar à estaca zero quando a operação chegar ao fim.
As Forças Armadas, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal passarão a atuar em operações específicas de segurança pública, especialmente no Rio. A Marinha combaterá o tráfico de drogas no porto do Rio de Janeiro, no porto de Itaguaí e, também, no porto de Santos, em São Paulo. A segurança no aeroporto do Galeão, assim como o de Guarulhos, em São Paulo, ganhará o reforço da Aeronáutica. A Polícia Rodoviária atuará na fiscalização das estradas federais que cortam o Rio. E a Polícia Federal terá uma atuação importante nas operações de inteligência.
Outra medida será o fortalecimento da vigilância sobre as fronteiras do Paraná, do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso com países vizinhos. É por elas que entram boa parte das drogas e das armas que alimentam o crime organizado. Esse trabalho será feito pelo Exército e não necessita de decreto de GLO — apenas de uma decisão de comando. "A violência que temos assistido tem se agravado a cada dia e nós resolvemos tomar uma decisão fazendo com que o governo federal participe ativamente, com todo potencial que tem, para (...) ajudar os governos dos estados e ajudar o próprio Brasil a se livrar do crime organizado, da quadrilha, do tráfico de droga e do tráfico de armas", disse o presidente Lula ao anunciar as medidas.
Já não era sem tempo. O governo federal tem a obrigação de assumir sua responsabilidade sobre a segurança pública no Rio e de todo o país. A população não podia continuar a assistir o aumento da criminalidade enquanto Brasília se limitava a ajudar o governo petista da Bahia a lidar com o problema, deixando os demais estados à mercê de quadrilhas com ramificações internacionais que, a rigor, as polícias locais não têm a força nem a jurisdição necessária para enfrentar. A decisão do governo, portanto, foi acertada e merece apoio. Agora, resta esperar pelos resultados e torcer para que os policiais possam fazer seu trabalho sem serem expostos às críticas daqueles que imaginam ser possível combater a criminalidade oferecendo flores aos criminosos.