A obra é fruto de meses de leitura de milhares de páginas do inquérito policial.Divulgação
O trabalho reúne os principais depoimentos dos envolvidos no homicídio e de testemunhas, que não apenas confirmaram, em detalhes, para os detetives e delegados do caso diversas tramas para a morte de Anderson, até a consumada há três anos, mas também viram as relações familiares e políticas do pastor se deteriorarem ao longo dos anos. Elas, inclusive, apontam os reais motivos do assassinato, cuja repercussão ocupou grande parte do noticiário nacional e estrangeiro e virou documentários.
Outros aspectos das investigações são abordados, como a quebra dos sigilos telefônicos dos suspeitos, com a transcrição de diálogos entre Flordelis e alguns de seus filhos e entre eles próprios; os laudos da perícia sobre o local do homicídio e a arma usada para matar Anderson; um atentado a bomba sofrido por uma testemunha; as implicações políticas e religiosas, que surgiram após o crime; além de detalhes importantes para se compreender como a história de um casal, que, aparentemente, começou com um amor verdadeiro, tornou-se um pesadelo.
“Não matarás” também conta a história do encontro do casal na Favela do Jacarezinho; sua união para criar uma igreja milionária, com unidades em três municípios; a contabilidade da instituição religiosa; como ocorreram as adoções de crianças, por parte da missionária, muitas delas sem registro oficial na Justiça; as relações de uma família de 57 membros sem laços consanguíneos – apenas três pessoas são filhas legítimas de Flordelis –, que viveram sob o mesmo teto; como o casal ascendeu no cenário político brasileiro, unindo forças com os expoentes da extrema direita no País e tendo o apoio de figuras consagradas nos meios artístico, jurídico e intelectual; os “rituais secretos” no núcleo familiar mais íntimo de Anderson e Flordelis; e o que é a “língua dos anjos” usada pela missionária para arrebanhar fiéis.
Há também as observações dos investigadores de Polícia e membros do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que, em determinado momento da apuração do assassinato, chegaram à conclusão que estavam diante de um dos mais intrigantes casos da Criminologia do País, cujos desdobramentos envolviam incesto, abuso infantil, prostituição, orgias sexuais, magia negra, tráfico de drogas, contrabando de armas, envenenamentos, intriga política, corrupção, fraudes e o controle de um núcleo familiar poderoso, fundador de uma igreja capaz de reunir milhares de seguidores.
Sobre o autor
José Messias Xavier, jornalista, escritor e poeta, nasceu em 10 de agosto de 1963 no Rio de Janeiro. Trabalhou nos principais veículos de Comunicação do Brasil, como a Folha de São Paulo, TV Globo, jornal Extra, O Globo, Última Hora e revista Visão, entre outros. Sua atuação como jornalista lhe conferiu prêmios, entre eles um dos mais importantes da Imprensa Internacional, o de Jornalismo em Profundidade, da Inter American Press Association (IAPA), recebido em Chicago, Estados Unidos. Também foi assessor da Reitoria da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio).
Em Niterói, onde vive há 30 anos, trabalhou nos jornais O Fluminense e A Tribuna. Lançou pela Editora Multifoco, em 2014, o thriller “Lótus”, ambientado na cidade. Atualmente, é assessor de Imprensa do Sindicato dos Rodoviários (Sintronac) e colunista do jornal Toda Palavra.
Trecho do livro - Na farta documentação anexada pelo Ministério Público ao processo contra Flordelis há um arquivo, que chama a atenção por sua titulação. Sob o nome “Apenso Sigiloso”, ali consta uma denúncia encaminhada à Promotoria em 9 de julho de 2019 pela internet e classificada como anônima.
O texto relata as relações familiares de Flordelis e Anderson quando ambos ainda moravam na Rua Guarani, no Jacarezinho. Cita nomes de pessoas que viviam no local, os filhos legítimos e as falsas adoções da deputada. Mas apresenta um aspecto das cerimônias religiosas desconhecido da opinião pública.
“Digo mais que naquela casa do Jacarezinho se fazia rituais de magia negra com livro de São Cipriano capa preta, só que para o público é uma igreja, mas no círculo íntimo dos que participaram era magia negra”, diz um dos trechos da denúncia.
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