Rio - Ela é silenciosa e muito pouca conhecida. Porém, já atinge cerca de 2% da população, segundo levantamento realizado recentemente pela Revista Brasileira de Oftalmologia. A ceratocone — doença ocular agravada pelo hábito de coçar os olhos ou pela má aplicação de lentes de contato — é motivo de preocupação entre especialistas. Afinal, pode deformar a córnea e prejudicar a visão. Em casos mais graves, pode ser necessário, inclusive, o transplante de córnea.
De acordo com o oftalmologista e professor da Unirio, Renato Ambrósio Jr., a maior incidência de ceratocone está na infância e na adolescência, mas também pode se manifestar na fase adulta. "O hábito de coçar os olhos na infância pode causar o problema mesmo após 40 anos", afirma o especialista. "A doença é causada por uma combinação entre a genética, que determina a resistência da córnea, com os hábitos ao longo da vida", explica.
Devido a falta de informação, muitas pessoas não diagnosticam a doença na fase inicial. Assim, em casos mais avançados, o tratamento pode ficar comprometido. Não por acaso, para detectar a ceratocone, o paciente deve realizar exames especiais como a topografia e tomografia da córnea. Caso seja observada a distrofia da córnea — irregular e fina —, é preciso tratamento especializado, que tem como objetivo restaurar a visão e não deixar a doença progredir.
Segundo o oftalmologista, os óculos de grau são a primeira forma de tratamento, sendo a adaptação de lentes de contato especiais indicada quando os óculos já não funcionam. Cirurgias como o implante do anel instraestromal e o 'crosslinking' — procedimento que aumenta a resistência e a estabilidade da córnea — são indicados de acordo com cada caso. Em última instância, o indicado é a realização do transplante de córnea.
"Há 20 anos tínhamos apenas o transplante de córnea como opção. Hoje, ele é a última cartada, mas ainda uma ótima forma de tratamento. Devemos avaliar cada caso e indicar a melhor forma de tratamento", informa Ambrósio. "De forma geral, os procedimentos alternativos ao transplante de córnea são menos invasivos e têm melhores chances de sucesso nos casos em que a doença não está muito avançada", acrescenta.
O ator e artista plástico Saulo Meneghetti foi diagnosticado com ceratocone aos 13 anos. "Os principais sintomas foram visão turva e sensibilidade à luz e claridade", conta ele, que atuou recentemente na minissérie 'Lia', exibida pela Record. Ao longo dos vinte anos de convivência com a doença, Meneghetti tem usa lentes de contato rígidas. Já fez o 'crosslinking', mas não obteve sucesso. "No momento, estou com pouco menos de 30% de visão e aguardo para fazer o transplante de córnea no olho esquerdo", conta o ator, que está movendo um abaixo-assassinado para encaminhar para o Senado Federal para o reconhecimento da ceratocone como deficiência visual. Ele já recolheu mais de 20 mil assinaturas.
*Estagiário sob supervisão de Luiz Almeida