Por tamyres.matos

Rio - Quem torcia o nariz para o Aterro de Gramacho, hoje pode suspirar aliviado: em vez de poluir a atmosfera, o gás emitido pelo lixo está virando energia limpa e, pela primeira vez no mundo, vai ajudar a abastecer uma refinaria de petróleo.

Através de usina de tratamento instalada no próprio aterro, o gás do lixo é transformado em gás verde — combustível idêntico ao gás natural –, que vai suprir 10% da demanda energética da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc).

Serão produzidos, por ano, 70 milhões m³ do gás, quantidade suficiente para abastecer todo o município do Rio. Para assumir o projeto, a empresa Gás Verde investiu R$ 240 milhões e receberá, como retorno, R$ 800 milhões da Petrobras pela energia.

Gás emitido por lixo vira energia limpaArte O Dia

“Parte da receita obtida com a exploração do gás será usada no reflorestamento de 3 milhões de m² da área do aterro, e na recuperação de 4 km do manguezal”, diz Paulo Tupinambá, membro-conselheiro da empresa. Além disso, “a Gás Verde está tratando 2 milhões de litros de chorume por dia, para impedir a poluição dos lençóis freáticos”.

Fechado em junho de 2012, o Aterro de Gramacho recebeu diariamente, por 34 anos, 9,5 mil toneladas de resíduo domiciliar dos municípios do Rio, Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Queimados e Mesquita. Hoje, todo o lixo que era jogado no aterro é destinado à Central de Tratamento de Resíduos de Seropédica. Embora não receba mais lixo, as 80 milhões de toneladas que restaram no local emitirão gás metano suficiente para suprir o acordo com a Reduc por 20 anos.

Para o secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, a iniciativa registra o fim de um drama ambiental e social. “Nossa meta é erradicar todos os lixões até 2014 e construir centrais de tratamento de resíduos, que terão plantas de aproveitamento energético”.

O secretário afirma, ainda, que 18% dos créditos de carbono obtidos pela Petrobras com energia limpa deverão ser doados às prefeituras do Rio e de Caxias, para o melhoramento ambiental de Jardim Gramacho. A usina fará com que o aterro deixe de emitir, ao todo, 6 milhões de toneladas de CO2. Graças à iniciativa, quem passa pelo antigo lixão já pode sentir o cheiro de um novo começo.

Trabalhadores poderão trabalhar com dignidade em Pólo de Reciclagem

O fechamento do Aterro de Gramacho representou ganho ambiental, mas gerou preocupação entre os catadores que tiravam dali seu sustento. Para atenuar o impacto social, as prefeituras do Rio e de Caxias adiantaram verba de R$ 21 milhões para indenizar 1,7 mil catadores. A Gás Verde terá que reembolsar o dinheiro às prefeituras em 15 anos.

Além disso, será construído Pólo de Reciclagem, onde os catadores poderão trabalhar e continuar sua contribuição por um ambiente sustentável. Até que o pólo seja finalizado, quatro galpões serão alugados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente para depositar materiais recicláveis. O Plano de Apoio aos Catadores prevê também a capacitação deles para inserção no mercado de trabalho, além do aprimoramento em técnicas de reciclagem e cursos.

Incineração de resíduos: outra técnica

Energia a partir do lixo também pode ser gerada com a queima de resíduos. A incineração destrói os gases poluentes, mandando para a atmosfera gás carbônico e vapor de água. A cinzas obtidas podem ser usadas em calçamento e asfalto para a cidade. No Brasil, o trabalho é feito pela Usina Verde, projeto da UFRJ.

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