Meio Ambiente ‘entra na dança’ de projetos sociais
Hospital em Duque de Caxias patrocina projeto ‘Recicle e Dance’, que ensina técnicas de dança e atitudes sustentáveis a jovens e crianças de baixa renda
Por paulo.gomes
Rio - Cuidar do meio ambiente é uma arte. Prova disso é o Recicle e Dance, projeto social que ensina dança e sustentabilidade a jovens carentes de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A iniciativa já conquistou mais de mil crianças e adolescentes, mostrando que separar o lixo pode unir pessoas.
Financiado pelo Hospital de Clínicas Mário Lioni, o projeto começou em 2005 com o intuito de oferecer uma atividade física a filhos de empregados. “Aproveitamos que a unidade já tinha um programa de reciclagem de lixo para levantar ainda mais essa bandeira”, afirma Mariane Silva, coordenadora do Recicle e Dance.
A dança é levada a sério pelos participantes do projeto. Para muitos%2C ela é mais que uma diversão. É uma chance de seguir uma carreiraDivulgação
A solução foi usar a reciclagem como moeda de troca através de um sistema de pontuação. Assim, uma garrafa PET vale três pontos, uma lata de alumínio, quatro, e um pote de iogurte um. “No fim do mês, o aluno tem que fazer 100 pontos para se manter no projeto. A estratégia serve para que as crianças levem a educação ambiental para dentro de suas casas e motivem parentes e amigos a separarem seu lixo”, explica Mariane Silva.
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Hoje, a escola conta com 350 alunos matriculados em aulas de balé clássico e moderno, jazz, dança contemporânea, dança de rua e teatro. Com nove anos de projeto, o esforço dos participantes já se transformou em 10 toneladas de papel branco e jornal, 631 quilos de ferro, quatro mil litros de óleo, oito toneladas de latas de alumínio e 36 de garrafa PET — além de gerar renda anual de R$ 6,5 mil em média. Parte do material é usado como cenário nas apresentações do grupo.
Já a verba arrecadada serve para pagar inscrições em festivais de dança no estado — já são 32 prêmios — além de contribuir para a festa de fim de ano, que reúne funcionários e alunos em um sítio.
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Mas não é só o lixo que tem sofrido transformações na escola. O contato com a dança provocou, em muitos jovens de baixa renda, a motivação que faltava para seguir a carreira de bailarinos.
É o caso de Ariel Paz, de 16 anos, morador de Jardim Gramacho. Em apenas três anos, ele evoluiu de dançarino de quadrilhas para bolsista do Miami City Ballet e do Ballet de Chicago, nos Estados Unidos. “O Recicle e Dance me deu um sonho e uma nova família”, revela.
O lixo separado pelos alunos é usado como material para confeccionar os cenários das apresentaçõesDivulgação
Professora e coordenadora artística do programa, Carol Silva começou a dar aulas no Recicle e Dance aos 16 anos e hoje se orgulha de colher os frutos do trabalho. “Deixar o meio ambiente sustentável é uma forma de cuidar da saúde de todos. Aqui, temos a chance de passar a ideia adiante”.
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Inclusão social e energia renovável também têm lugar nos palcos
Outra iniciativa que relaciona o universo artístico à sustentabilidade é o Cinque Sensi, equipe de São Paulo que integra dança, teatro, música e poesia. O grupo, que começou em 2013, procura transmitir em suas montagens a consciência ambiental para o público.
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Com essa proposta, surgiu o espetáculo ‘Mover-se’, cujo tema é ‘energia’. “O principal combustível do movimento é a energia. Para abordar o assunto, decidimos focar nas energias renováveis ena sustentabilidade, gerando encontro do artístico como social”, afirma o coreógrafo e diretor artístico do grupo, Anderson Couto.
Além da temática, os figurinos são confeccionados com fibra de PET. Futuramente, a ideia é inovar ainda mais na roupa dos bailarinos e usar fibras de bananeira, bagaço de cana e uma mistura de diversos materiais orgânicos como base para os tecidos. O cenário, por sua vez, leva materiais reciclados, iluminação à base de baterias recarregáveis recursos tecnológicos de projeção.
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O grupo incentiva também a inclusão de jovens de comunidades carentes no cenário cultural, convidando-os a participar de oficinas de dança e da própria produção dos espetáculos.
Para a diretora executiva do projeto, Ana Cláudia Burattini, usar a arte para tratar de questões sociais é uma das maiores urgências nos dias de hoje. “O projeto Mover-se visa a tocar o espectador coma conscientização ambiental e social, gerando um impacto profundo e duradouro para a população”.
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Segundo ela, o ‘Mover-se’ espera patrocínio para fazer turnê pelo Brasil, incluindo o Rio.