Por tamyres.matos

Holanda - Estudante holandês de apenas 19 anos criou um ambicioso projeto para ‘faxinar’ os cinco oceanos do planeta, em prazo recorde de cinco anos. Se pareceu improvável, saiba que a equipe já conta com 50 engenheiros, modeladores e peritos externos, e está na metade da fase de testes. Boyan Slat desenvolve o trabalho pela Universidade de Tecnologia Delft, na Holanda. Sua ideia é criar estações de filtragem flutuantes e fazer limpeza de grandes proporções nos chamados ‘giros’ — locais onde a correnteza deposita o lixo marinho, em especial resíduos plásticos.

Ele estuda Engenharia Aeroespacial, e é mergulhador nas horas vagas. A vastidão do mundo submarino inspirou o megaprojeto ‘Ocean Cleanup Array’, ou ‘Matriz de Limpeza do Oceano’. O dispositivo teria o formato de uma arraia, com braços articulados, formando barreira para impedir a dispersão dos detritos pela superfície da água. A sujeira seria atraída para o ângulo formado por suas hastes e encaminhada para plataformas de processamento. Ali, o lixo seria filtrado, separado do plâncton e armazenado para reciclagem.

Lixo que vai para as águas%2C especialmente plásticos%2C se acumula%2C prejudicando a sobrevivência de seres vivos e afetando o equilíbrio ecológico iStockphoto

Para a ideia funcionar, teria de haver uma estação para cada um dos cinco ‘giros’, também chamados de manchas ou ilhas de plástico, nos oceanos Pacífico Sul e Norte, Atlântico Sul e Norte e no Índico.

Para o especialista em Oceanografia da Uerj David Zee, a proposta é louvável, mas não ataca a raiz do problema. “A estrutura atende ao objetivo, mas o custo para viabilizar isto em alto mar é astronômico”, pondera. Se a coleta fosse feita onde rios e dutos desembocam, nos limites dos próprios países, resultados seriam alcançados com investimentos mais modestos, acredita Zee.

Além da remoção dos resíduos, Zee destaca que as nações precisariam ser responsabilizadas pela soma de lixo que despejam nos oceanos. “Se os países forem multados, a situação muda de figura. Essa abordagem é bem diferente da conscientização somente pela informação, e produz mais resultados”.

Zee acrescenta que os objetos capturados pelas estações de Boyan podiam ter suas nacionalidades rastreadas. “Assim, ficaria claro quais países são os maiores responsáveis e poderiam ser calculados valores das multas.” Medir o impacto dos hábitos de consumo de cada país é um grande passo, segundo ele. Somente a cidade de Nova York, conhecida como a capital mundial do lixo, descarta cerca de 10 mil toneladas de resíduos sólidos em apenas um dia, segundo artigo da revista da Universidade de Yale.

As estações flutuantes foram idealizadas por Boyan Slat Reprodução Internet

Cultura do consumo

A ‘cultura do descartável’ e os hábitos de consumo desenfreados são as principais causas do acúmulo de lixo nos oceanos, segundo o fundador da ONG Global Garbage, Fabiano Barretto.
Para ele, a tendência mundial ainda é evitar o assunto, ou tratar dos seus sintomas; recolher resíduos, ao invés de reduzir a produção de descartáveis. “O Brasil, em especial, ainda não se deu conta do quanto gasta para remediar efeitos do problema”.

As perdas econômicas também devem entrar no balanço. “Se soubéssemos quantas pessoas se ferem com cacos de vidros nas praias e vão se tratar na rede pública, ou quantos dias um barco de turismo deixa de trabalhar quando entra um saco plástico no motor, podíamos dimensionar o ônus”.

Por esforço do próprio Fabiano, a 1ª Conferência Brasileira sobre Lixo Marinho está prestes a sair do papel, e deve acontecer em abril de 2015, com apoio do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas.

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