Por felipe.martins

Rio - É no interior de Goiás, a 130 km de Brasília, que está sendo gestado um projeto que promete mudar a forma como o brasileiro enxerga o binômio lixo/reciclagem. Projeto piloto da Fundação Banco do Brasil, com apoio do WWF (World Wild Fund), Agência Nacional de Águas (ANA) e prefeitura local, quer transformar Pirenópolis em exemplo de sustentabilidade para cidades de médio porte do país. A pedra fundamental foi lançada semana passada, na cidade mais conhecida pela bela arquitetura e as Cavalhadas, que reproduzem a luta entre mouros e cristãos nas Cruzadas.

Pirenópolis%2C a 130 quilômetros de Brasília%2C é conhecida por sua bela arquitetura e pelas Cavalhadas Divulgação

“O Brasil tem quase 1.500 municípios que precisam aprender a tratar o seu lixo. Vamos fazer da coleta seletiva uma oportunidade para a economia sustentável”, aposta o belga Jean-François Timmers, superintendente de políticas públicas do WWF, otimista com a chance de revolucionar a questão dos resíduos no país.

A mudança pregada pelo ambientalista começa pelo trabalho de conscientização dos moradores de Pirenópolis. Muito próxima também de Goiânia — cerca de duas horas por uma rodovia bem pavimentada —, a cidade vê quadruplicar sua produção de lixo nos finais de semana, e acaba sufocada. No meio de detritos orgânicos, plásticos, PETs e embalagens longa vida se perdem e entopem os depósitos, impermeabilizando o solo e impedindo que a água das chuvas escoe naturalmente.

R$ 5,8 MI INVESTIDOS

“Esta é uma das razões para apostarmos na cidade”, conta Rodrigo Nogueira, gerente nacional de sustentabilidade do Banco do Brasil. A instituição investiu R$ 5,8 milhões no projeto. Até 7 de outubro, no aniversário de Pirenópolis, será inaugurado um galpão com mil metros quadrados, onde haverá espaço suficiente para armazenar os produtos previamente separados e maquinário como prensas.

O acordo prevê a instalação de seis coletores de lixo reciclável — quatro já consolidados, sendo um deles na entrada da cidade. A medida impacta diretamente a vida dos 15 catadores da periferia que trabalham na separação de lixo — e pagam caro por isso, como mostram suas mãos feridas e saúde frágil. “Com ele seco fica bem mais fácil de separar. E a gente não precisa meter a mão no chorume”, festeja Diomar Pinto de Camargo, 31 anos, presidente da Associação de Catadores de Pirenópolis.

Segundo o secretário de Meio Ambiente da cidade, Arthur Abreu, a coleta de lixo reciclável subirá dos atuais 7% para 34% do lixo total. Além de sua cidade, estão incluídas no projeto piloto Belo Horizonte, Natal e Rio Branco. “Este galpão vai nos ajudar muito. Mas só acredito quando estiver pronto”, encerra Diomar.

NÚMEROS

15

É o número de catadores de lixo da Coperativa de Pirenópolis que aderiram ao pacto para a mudança na coleta seletiva de lixo na cidade. Eles esperam a construção de um galpão para receber os reciclados e separar

34%

É a previsão da quantidade de lixo reciclado que passará a ser reaproveitado pelos catadores da cooperativa de Pirenópolis. Atualmente eles aproveitam apenas 7% do lixo reciclável que é produzido pelos moradores e turistas que frequentam a cidade

QUATRO

Cidades foram escolhidas pela Agência Nacional de Águas, a Fundação Banco do Brasil e a WWF para servirem como pioneiras no projeto de reciclagem: Belo Horizonte (MG), Rio Branco (AC), Pirenólis (GO) e Natal (RN)

CRISE LEVOU À PROTEÇÃO DE NASCENTES

O contra-ataque aos problemas ambientais da cidade não se restringe ao problema do lixo. Por conta da seca que castigou todo o país e deixou os reservatórios da região Sudeste em estado alarmante, a prefeitura de Pirenópolis decidiu trabalhar e proteger suas nascentes. O secretário de Meio Ambiente recorda o espanto dos fazendeiros da região, ao perceberem, pela primeira vez, dificuldades na captação da água para matar a sede de seus animais e irrigar as hortas.

Diomar (c) e catadores estão ansiosos pela construção do galpão%2C que terá maquinário apropriadoDivulgação

“Estavamos há anos tentando nos aproximar deles, mas sempre enfrentávamos dificuldades naturais com os proprietários sobre o uso de suas terras”, conta Arthur Abreu. “No ano passado, com a crise hídrica, tudo mudou. Um deles veio nos procurar, pediu ajuda e outros começaram a vir..”

Na semana em que O DIA esteve na cidade, foram feitas ações em nascentes locais. Para evitar o pisoteio do gado, áreas nas fazendas acabaram sendo cercadas, protegendo o manancial. Ao mesmo tempo, a prefeitura plantou dezenas de mudas em volta das mesmas. Para completar, as crianças das escolas municipais, que só vão até o 5º ano, tiveram aulas sobre a importância da água.

“Como a vida é curiosa: graças à crise conseguimos avançar muito na proteção das nascentes”, encerra Arthur.


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