Rio - O desenvolvimento acelerado do complexo industrial portuário de Suape, em Pernambuco, a 40 km do Recife, nos últimos anos, levou cerca de cem empresas e milhares de empregos à região, mas também causou grandes estragos ambientais. Em pouco tempo, áreas de manguezal e recifes de corais foram destruídos e aterrados para a passagem de navios de carga e a instalação de indústrias no local.
Em 2010, a degradação ambiental em curso começou a ser combatida. Teve início o projeto de criação de recifes artificiais, parceria da usina elétrica Termopernambuco, do grupo Neonergia, com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No ano seguinte, um segundo lote foi instalado e outros cinco estão previstos a partir de 2016.
Coordenador do projeto, o professor da UFPE Múcio Luiz Banja afirma que os novos recifes não substituem integralmente os naturais. Porém, ele destaca a velocidade com que a recuperação do ecossistema se deu na região. “A volta da vida marinha costuma levar alguns anos. Em Suape, foi quase imediata. As algas se fixaram nos recifes em três meses e já há muitos peixes na área”, aponta ele.
A estrutura dos recifes pode explicar seu sucesso no recrutamento de espécies aquáticas. Composto por 18 cubos vazados de 1 m³ feito de tubulações de metal soldadas com uma tela para a fixação das algas, o modelo hoje é patenteado e pode ser utilizado em todo o litoral brasileiro. “Os recifes metálicos são de longa durabilidade e a sua logística de transporte e instalação é mais simples em comparação com os de concreto, nossa opção inicial”, diz o especialista.
Bem-sucedidos na atração de vida marinha, os recifes também conquistaram turistas. O segundo lote, instalado em 2011, fica mais próximo da costa e tem profundidade máxima de 10 metros, permitindo a chegada de visitantes ao local. “Além dos peixes, crustáceos, como camarões e lagostas, podem ser avistados por quem mergulha na região”, garante o professor.
Os bons resultados dos recifes artificiais podem mudar a cara de Suape. Projeto polêmico do ponto de vista ambiental, o complexo instituiu, em 2013, o programa Suape Sustentável, que busca implantar um modelo de ocupação mais limpo e equilibrado da área. “É preciso dar respostas de compensação e o caminho são projetos como o dos recifes, recuperando o ecossistema do porto”, aposta Múcio.
Pescadores beneficiados
Não foi apenas o meio ambiente que saiu ganhando com os recifes artificiais instalados em Suape. A pesca artesanal, principal atividade econômica entre os cerca de 13 mil habitantes da região do complexo, teve melhora de produtividade com o retorno de diversas espécies de peixes às águas do porto.
Satisfeitas com o aumento da oferta de frutos do mar, as colônias de pescadores pedem mais instalações na área. “O projeto teve uma receptividade muito boa entre os trabalhadores e os recifes artificiais acabaram virando a principal reivindicação deles nos encontros com a direção de Suape”, conta o professor da UFPE Múcio Luiz Banja.
A solicitação pode se tornar realidade em breve. Ciente do sucesso dos recifes artificiais, o governo de Pernambuco planeja construir mais cinco lotes da estrutura na costa do complexo industrial.
“A diretoria de Suape se interessou pelo projeto, mas as mudanças no governo do estado paralisaram as conversas desde outubro. Deve ficar para 2016”, diz Múcio, lembrando que os estudos prévios de impacto ambiental ainda não foram realizados.
Reportagem de Pedro Muxfeldt