Por bferreira

São Paulo - Ameaçada de extinção devido à exploração madeireira nos últimos 30 anos, a ucuubeira pode ser salva graças a um trabalho que uma indústria de cosméticos está desenvolvendo com cerca de 600 famílias de 15 comunidades nas regiões do Nordeste Paraense e do Médio Juruá, no Amazonas. A espécie produz a ucuuba — que em tupi significa ‘árvore da manteiga’ —, uma semente que contém um precioso creme com alto poder hidratante da pele. É esse o ativo usado numa nova linha de produtos da Natura.

Ucuuba%2C natural da Amazônia%2C é estudada pela Natura desde 2009. Com manejo sustentável%2C tornou-se matéria-prima para a indústriaDivulgação

A ideia da empresa é reverter o processo de extinção da ucuubeira até 2050, mostrando à comunidade que a árvore vale mais de pé, fornecendo as sementes com manejo sustentável e coleta consciente. A cada ano, a renda que uma comunidade obtém com uma ucuubeira preservada é três vezes maior do que a que resulta da exploração madeireira. Enquanto a árvore é derrubada apenas uma vez para a obtenção de madeira, os frutos de uma preservada são colhidos por no mínimo dez anos. A ucuubeira leva de 15 a 20 anos para crescer de novo.

O corte da árvore rendia aos agricultores da região apenas R$ 20 por derrubada. A madeira, não muito nobre, é usada na confecção de estacas, cabos de vassoura, batentes de porta e telhados. Agora, eles recebem R$ 200 pela colheita de cada árvore.

Líder do Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém, Adriana Lima conta que a relação com a Natura vai além do comercial, destacando a atenção às comunidades. “Avançamos muito dentro da área que a gente está”, conclui. O dinheiro que entrou com o apoio da indústria foi usado para melhorar as instalações do movimento. Hoje eles oferecem cursos de capacitação para a comunidade. “O teu quintal é o teu negócio”, conclui.

Produção que respeita o ‘tempo da natureza’

A ucuuba foi ‘descoberta’ pela Natura em 2009 e, desde então, vem sendo estudada pela empresa. Todas as partes da semente são aproveitadas: do interior, é extraída a manteiga, e, da casca, é feita essência dos produtos. Após estes anos de análise, o ativo está sendo usado na nova linha de cosmésticos Ekos, que a marca acaba de lançar.

Por enquanto, apenas três produtos feitos a partir da ucuuba foram lançados, e somente no Brasil, embora a empresa seja exportadora: hidratante corporal, creme para as mãos e outro para áreas mais ressecadas. Diretor de Cuidados Pessoais da Natura, Daniel Campos, explica: “Temos que respeitar o tempo da natureza. A quantidade de ucuuba que conseguimos foi suficiente para produzir apenas esses produtos”, disse ele. O lançamento dos sabonetes da mesma linha está previsto para o segundo semestre.

Até as embalagens são ecoeficientes, feitas 50% com PET reciclado pós-consumo e 50% com PET Verde30, composto que possui 30% de material de origem vegetal renovável em sua composição.

“A nova linha, Ekos, abre uma oportunidade para reverter o ciclo predatório de exploração da madeira, gerando renda a partir de um produto florestal não madeireiro. Isso possibilita o manejo sustentável da espécie e a perpetuação da floresta em pé”, explica a gerente de Sociobiodiversidade do Programa Amazônia da Natura, Renata Puchala.

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