Por thiago.antunes
Rio - Caminhar lentamente e em silêncio, usar roupas camufladas, evitar movimentos bruscos. Entre outras recomendações, não é necessário muito para aproveitar um potencial do Rio que ainda é pouco explorado. Braço do ecoturismo, a observação de aves movimenta cerca de U$ 75 bilhões por ano no mundo, com destaque para os Estados Unidos, onde a atividade é responsável por US$ 36 bilhões.
Saíra-sete-cores (Tangara seledon)Ralph Antunes

Estima-se que existam 100 milhões de praticantes em todo planeta e o Brasil é o segundo país do mundo em número de espécies: 1.825. Somente no Estado do Rio, pelo menos 468 tipos de pássaros podem ser observados.

Membro do Clube dos Observadores do Rio e dono da Pousada Paraíso, de Petrópolis, que já promove a observação, Bernardo Lacombe tem uma relação de amor com a atividade: “É um espetáculo. Quando você é picado pela observação, nunca mais larga. Cada pássaro tem um canto, uma particularidade. Atrás da lente dos binóculos eles são diferentes, maravilhosos”.

Topetinho-vermelho (Lophornis magnificus)Ralph Antunes

Para fortalecer o turismo ecológico nas Unidades de Conservação, o Sebrae está desenvolvendo um roteiro para observação de pássaros no estado. O Aves do Rio passa pelos locais mais ricos em diversidade. Para não deixar o turista perdido com tantas cores, formatos e sons, o roteiro inclui guias especializados para acompanhar o passeio.

A ideia é integrar toda a cadeia, de agências de viagens a restaurantes. “É um setor que precisa ser trabalhado no Brasil, pois há uma demanda internacional muito forte, principalmente da Inglaterra, onde há muitos observadores”, afirma Marisa Cardoso, gestora de Turismo do Sebrae. “Estamos engatinhando ainda nessa área, que tem potencial para crescer muito mais, e que isso venha ligado à preservação ambiental”, completa Lacombe.

Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea)Ralph Antunes

O Instituto Estadual de Ambiente (Inea) também investe no setor, realizando ‘passarinhadas’ (caminhadas para contemplação de aves) nas unidades de conservação do Estado do Rio. Neste fim de semana, o ‘Vem Passarinhar Rio’ é no Parque Estadual da Serra da Tiririca, em Niterói.

Em dezembro, acontece ainda o Avistar Rio, quarta edição do maior encontro de fotógrafos e observadores de aves da capital carioca. O evento será no Parque Lage, na Zona Sul, dias 5 e 6, e conta com congressos, exposições, atividades para adultos e crianças, além de passarinhadas. As inscrições estão abertas e são gratuitas pelo portal avistarbrasil.com.br.

Tangará (Chiroxiphia caudata)Ralph Antunes

Passeios dia e noite pelo estado, em mais de 20 pontos

Terra das palmeiras onde canta o sabiá, o Brasil tem mais de 20 sedes do Clube de Observadores de Aves (COA), três deles no Estado do Rio. O grupo promove passeios, inclusive noturnos, para contemplar os animais. A Ararajuba, a Ararinha-azul, o Gavião-real e o Sabiá-laranjeira lideram a lista dos ‘símbolos nacionais’.

Mas os que mais encantam nas expedições cariocas são espécies como Tucano-do-bico-preto, Saíra-sete-cores, Tié-sangue, Fragata e Tangará-dançador que, de tão populares, para os especialistas, poderiam até representar o Rio, de acordo com os especialistas.

No 'Vem Passarinhar Rio'%2C do Inea%2C expedidores fotografam espécies Ralph Antunes

Segundo o COA-RJ, mais de 20 pontos são frequentados pelos expedidores do estado. Jardim Botânico, Aterro do Flamengo, Mendanha, Grajaú, Bosque e condomínios da Barra da Tijuca estão entre os pontos onde há excursões na capital. Já o Pico das Agulhas Negras, em Itatiaia, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, Saquarema, Paraty e Angra dos Reis, no litoral, se destacam entre os roteiros no interior. Parque Nacional da Tijuca, Serra da Bocaina, Restinga de Jurubatiba e Resex, de Arraial do Cabo, também estão na rota das aves.

'Passarinhar funciona como meditação' 

O cardiologista Ralph Antunes, de 57 anos, já viajou para o Pantanal, a Patagônia e a Califórnia para observar pássaros. “Toda vez que viajo para um congresso, levo a câmara e o zoom.  Recentemente fotografei em Brasília e Curitiba, aproveitando os congressos brasileiros de Cardiologia”, conta.
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Segundo ele, a prática permite estar em locais onde a natureza é bem conservada, respirando ar puro, caminhando em trilhas pouco movimentadas, além de proporcionar muitas caminhadas.
"Passarinhar exige atenção, foco total nos cantos e na movimentação dos pássaros. Funciona como uma meditação, onde não cabe nenhum outro pensamento. Esse foco que é cada vez mais difícil nesse mundo multi-conectado e de atenção difusa”.
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Ele conta que já fez e continua fazendo muitas amizades entre os observadores de pássaros. “Geralmente fotografo em Nova Friburgo e outros locais da Serra do Mar. Mas também é possível passarinhar nos quintais, parques e praças. O Jardim Botânico, por exemplo”, dá a dica.

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